Ao analisar a “Cronologia Esotérica” de Blavatsky, as reações são amiúdes de fascínio ou de ceticismo, seja em função da natureza dos seus conteúdos (raças, etc.), como por seus números invariavelmente assombrosos. Pouca gente sabe o quanto pode haver de abstrações por detrás destas exóticas fórmulas. Aqui começaremos porém a retirar estes conhecimentos dos planos abstratos, para trabalhar a sua aplicação objetiva na evolução material e espiritual da própria humanidade.
A construção da cosmologia de Blavatsky foi realizada a partir das Filosofias do Tempo dos hindus, em especial o Manvantara usado na literatura exotérica da Índia como os Puranas. Tratemos porém de explicar como este quadro todo trabalha tradicionalmente com véus e analogias.
A conhecida Doutrina do Manvantara possui um artifício tradicional para fins de analogias chamado de “Chave Solar” com valor 360. Com isto o valor mais conhecido de 4.320.000 anos (classificado como “Tempo Humano”) torna-se apenas 12.000 anos (classificados como “Tempo Divino”). A Chave Solar diferencia assim um tempo material antigo mais primitivo, de um tempo espiritual mais evoluído e atual. Quando reduzimos o tempo, podemos tratar das evoluções mais modernas e de Hierarquias mais avançadas.
Além disto, o tema da evolução humana amiúde resulta polêmico diante das crenças religiosas. Então através do Manvantara divino é possível focalizar as coisas unicamente desde o ângulo da própria espiritualidade.
Nada disto tem a ver diretamente com simbolismo, mas a Chave Solar pode ser usada para realizar analogias e para ocultar dados sensíveis e simular os tempos atuais da evolução, geralmente empregando para isto os grandes ciclos que impactam mais o imaginário místico das pessoas. As razões do sigilo são especialmente duas: proteger os esforços das manifestações da Loja Branca, e dificultar o acesso profano às energias ocultas que acompanham as grandes evoluções.
A nossa Cosmologia apenas em aparência não corresponderia às estruturas apresentadas pela Teosofia. Trazemos um sistema coerente e aplicado, contrastando com a abstração que caracteriza o modelo teosofista, o qual mal passaria de um esquema mental ou teoria, algo genérico com ares vagos de astronomia, embora a verdadeira intenção seja astrológica.
Os mistérios precisam ser investigados, não apenas acreditados ou refutados. Esta é a verdadeira atitude do ocultista. Desde já devemos deixar claro portanto que as nossas abordagens possuem uma base iniciática e científica (e não mística e especulativa), que se pretende mais fiel ao espírito dos Tantras, a literatura esotérica da qual provém os Livros de Dzyan.
Simbolismo Teosofista
A Doutrina do Manvantara possui uma organização interna baseado nos Yugas ou Idades dotadas de proporções decrescentes 4-3-2-1, as quais possuem também propósitos iniciáticos. Blavatsky usou porém o Manvantara de uma forma ortodoxa sem os Yugas, explorando certas chaves próprias de ordem simétrica, para organizar uma cosmologia original distinta, agregando ademais um simbolismo astronômico (ou, antes, astrológico) às analogias antiguistas do Manvantara maior com que trabalhou, gerando assim um duplo-véu e acirrando o contraste com a descrição natural dos fatos.
De todo modo, a Chave Solar de conversão e de “atualização” de tempo material do Manvantara para tempo espiritual segue perfeitamente válida na prática. Para exemplificar, a datação de Blavatsky para a Atlântida de 4 milhões de anos, quando reduzida por 360, confere os dados científicos (=Neolíticos) e tradicionais da Atlântida de 12 mil anos, tal como sugerido pelo mito de Platão (é um erro porém querer reunir ambas as cronologias para tentar calcular a verdadeira idade da Atlântida).
Na prática aquilo com que o Manvantara trabalha é com a evolução humana em todas as suas escalas: a material primitiva e a espiritual moderna -termos que incluem na verdade importantes alusões à forma da espiritualidade dominante nestes dois grandes grupos evolutivos: a magia natural e a espiritualidade etérica respectivamente. A Cosmologia Teosófica tampouco atua com uma verdadeira astronomia, antes empregando os véus tradicionais e originais da Astrologia.
Tudo isto avança porém em maya testando a consciência do estudante porque, se a evolução primitiva já resulta desimportante, as realidades astronômicas pouco significam em si mesmas, senão como a própria grande maya do Universo a ser superada. Os véus se destinam a confundir os amanasas, aqueles que tem a mente pouco desenvolvida e tendências crédulas. Pelo contrário, aquele que tem o verdadeiro dom da mente, que é o manasaputra, não irá se contentar com versões controvérsias das coisas, suspeitará de véus e ficará atento para todos os sinais e indicações que possam aproximá-lo cada vez mais da Verdade nua. E sinais e advertências é que não faltam nos escritos de Blavatsky e de Bailey, mesmo quando as próprias não tem ainda totalmente clara a natureza da matéria com a qual trabalham, ou mesmo por isto também.
A correlação amanasa/manasaputra permeia as narrativas do Livro I das Estâncias de Dzyan, e para além das interpretações (ingênuas?) de Blavatsky remetem àquela característica especial dos iniciados que é o discernimento, tido pelos hindus como a mais importante das virtudes. Discernimento representa uma forma de inteligência irmanada à intuição e à sabedoria. Podemos chamar ainda de Chit ou Mente, a semente de Prajna ou Sabedoria. Há muitos tipos de amanasas capazes de expressar inteligência aguda e perspicácia, porém maculada pelo egoidade e pela ignorância. Com isto confundem raciocínio com especulação e crença com sabedoria.
O discernimento representa porém apenas o aspecto externo daquilo que se poderia definir como uma “terceira visão” dotada de equilíbrio e de profundidade. Pois acima de tudo o manasaputra está vocacionado para a busca interior da Verdade, através da conquista da Iniciação solar. Daí o contexto em que são suscitados trata também de forma específica de Fohat, que é uma técnica de iniciação e não uma fórmula de “criar a matéria.”
Uma Cosmologia Aplicada
Em termos de Teosofia, o Manvantara “Menor” está na base portanto de uma Cosmologia Aplicada, como expressão científica dos valores simbólicos e abstratos da Teosofia exotérica. Estes 12 mil anos (Anos Persas, Ronda Menor) do Manvantara “Menor” era a base da cronologia antiga.
E trata-se da unidade da nossa Cosmologia quaternária para tratar dos ciclos manifestados das evoluções materiais -seguidos por tríades de evoluções etéricas ou ocultas que não incluímos nos cálculos físicos, porque a evolução material está limitada na prática ao quaternário. Por isto um Arhat de quarta iniciação não necessita mais reencarnar; toda e qualquer encarnação mais avançada representa uma excepcionalidade que acontece apenas com a finalidade de auxiliar a evolução da humanidade.
De modo que os ciclos desta Cosmologia Aplicada resultam nos seguintes termos, começando pelo Manvantara “Menor”:
13.000 x 4 = 52.000 anos: 1 Globo de Evolução
52.000 x 4 = 208.000 anos: 1 Esquema Planetário
250.000 x 4 = 1.000.000 anos: 1 Sistema Solar
1.000.000 x 4= 4.000.000 anos: 1 Manvantara
4.320.000 x 4 = 17.280.000 anos: 1 Mahamanvantara
Eventuais excedentes nos cálculos devem-se aos fractais de transição, os quais jogam um papel importante em termos de sínteses, eventualmente até passando por “Eras extras” em muitos calendários e cosmologias antigas, aproveitando-se não raro para isto de certas imprecisões naturais dos ciclos astronômicos.
Os ciclos dados acima poderiam ser tanto ampliados como reduzidos. Contudo, ir além deste Mahamanvantara não faz sentido nenhum do ponto da evolução humana. E na verdade sequer avançar sobre o atual Manvantara apresenta maior significado, porque a própria evolução dos hominídeos começa ali; entrando já mais na esfera especulativa. Por esta razão é que o grande “jogo do tempo” oscila entre os dois padrões de Manvantara na Filosofia Hindu: o maior material e o menor espiritual.
Já o Ano Persa inicial pode ser dividido em quatro Eras de 2.600 anos que são fractais (10%) do Ano de Platão, dinamizadas como são pelos famosos Dasavatares de Vishnu: Rama, Krishna, Buda, Kalki, etc.
Em um estudo sobre Cosmologia divulgado na revista “O Teosofista”, Blavatsky afirma que os números reais jamais seriam abertamente divulgados. Isto era verdade somente até os dias finais das profecias, e elas já estão acontecendo agora.
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Sobre o Autor
Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV.
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