A Teosofia em geral tem uma forte influência nos novos ensinamentos, especialmente em suas vertentes históricas centralizadas em Helena P. Blavatsky e sua sucessora espiritual Alice A. Bailey. Porém, dentro das revelações do Plano da Hierarquia, procura-se hoje dar uma cor mais “científica” ao tema, tratando basicamente de retirar os véus remanescentes, além de apurar sínteses e agregar idéias complementares, como seria a questão social e a própria espiritualidade e iniciação. Esta é a origem da “Teosofia Científica”, uma doutrina promissora que trabalha basicamente com a Ciência dos Ciclos. Uma Teosofia Científica reuniria -nada mais e nada menos- que os dois pólos extremos do conhecimento (espiritualidade e ciência), preenchendo daí todo o leque do humano saber.

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TEMPO-ESPAÇO NO MITO ATLANTE

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“(...) hoje, sem poetas que desvendem seus destinos, e afastados das leis que regiam os povos felizes da Idade de Ouro, os homens sofrerão cada vez mais, até que sejam restaurados os princípios áureos da prodigiosa tradição primordial.” (A. Castaño Ferreira, “A Tradição Primordial”, Revista Dharana, n. 01)

O “Timeu” e “Crítias” de Platão, são as fontes originais das informações existentes sobre a Atlântida. Porém, por todas as razões, há que debruçar-se com o devido critério sobre esta espécie de fonte antiga.
Há muito pouco de “científico” e de literal em Platão, no que tange por exemplo à sua descrição da Atlântida. Não tanto por culpa do sábio, talvez, mas pelas camadas de traduções que teria atravessado a lenda através dos tempos, e sobretudo por causa das dificuldades de compreensão dos verdadeiros significados do relato trazido por Sólon desde o Egito (Delta do Nilo), que está muito longe de ser acessível ao leigo e à mentalidade atual... Não se trata, pois, de desprezar os mitos como fazem alguns, mas sim de conhecer a fundo os Mistérios e os Símbolos da Tradição. Blavatsky convidou a retirar os véus de Ísis, ainda que ela apenas tenha começado esta grandiosa missão. Cabe aos seus verdadeiros seguidores fazer avançar a tarefa, em nome da Restauração dos Mistérios Eternos.

Vejamos apenas um dos problemas que temos, ainda na esfera “estrutural”, acerca do suposto recebimento deste manuscrito de Sólon: “a dita transmissão carece de validade histórica pelo fato de ser cronologicamente impossível que Sólon tenha estado no Egito na época do rei Amásis, como é sugerido pelo texto (21e); razão pela qual o episódio deve ter sido manipulado por Platão.” (Rodolfo Lopes, em “Timeu-Crítias”, Platão, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra).
Assim, é possível que a suposta origem egípcia da lenda tenha apenas o fim de emprestar credibilidade e antiguidade ao texto, ou meramente valor literário a fim de enriquecer a lenda. Não obstante, a forma não desmente o valor da fábula!
Bem, a América tampouco é uma ilha, mas Cristóvão Colombo também pensou se tratar disto, e é possível que por aí possamos começar a desenredar este novelo. Ademais de eventual questão de tradução e transmissão, ter-se-ia que ver se os egípcios e sobretudo os gregos, fazem maior distinção lingüística entre os continentes e as ilhas.

Neste quadro mítico ou fabuloso, entra pois a questão da Atlântida, “afundada” há uns 11 (onze) mil anos segundo Platão. Ora, a Terra adquiriu a sua forma atual desde o Cenozóico, que significa falar em termos de 65,5 milhões de anos!, de modo que no período relatado de 11 mil anos atrás bem pouco se transformou de significativo na face da Terra; e nem Platão ou sua fonte original teria realmente pretendido afirmar isto. O afundamento da Atlântida em apenas "um único dia e noite de infortúnio", também soa coisa das mais inverossímeis. Daí vale dizer: “Mas (...) não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.” (II Pe 3:8)

Toda vinculação entre raças e mudanças geológicas importantes, afronta verdadeiras cláusulas-pétreas da Ciência. Aparentes alusões geológicas, são sempre mais seguras estarem no terreno do mito e do símbolo. Porém, se a hipótese geológica não se sustenta, resta ainda a pouco explorada hipótese geográfica, que mais adiante trataremos de analisar.

Tal como na Bíblia (Genesis), os Mitos de Criação originais do Egito envolvem o tema do surgimento nas águas, como neste mito solar: “Segundo o mito da criação de Heliópolis,no princípio existiam as águas do caos, Nun. Um dia uma colina de lodo chamada Ben-Ben levantou-se dessas águas, tendo no seu cimo Atum, o primeiro deus.”
Depois, “na outra ponta das Escrituras”, temos uma rara e importante explicação literal dos símbolos, dada com generosidade por São João no seu Apocalipse: “E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas.” (17:15).
Assim, o verdadeiro “dilúvio” dos mitos antigos é a cultura-de-massas, que invade o mundo no ocaso dos ciclos raciais e demandado uma “nova criação” civilizatória, num lugar apartado ou organizado em meio a este “caos original”.
Nisto, uma citação de São Pedro, também reúne as duas pontas deste novelo:
“(...) pela palavra de Deus desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste. Mas pelas quais pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio.” (II Pe 3:5-6)

Ou seja, quando o poder da Palavra (que São Pedro admite assim também haver existido antes de Jesus) ou da Luz e Cultura inicial se perdeu –já que... 
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3)-,

...as coisas retornaram naturalmente ao seu “caos” original -e isto trata basicamente de uma Ordem-de-Mundo, já que os Antigos tinham em tão alta conta os valores humanos, espirituais e civilizatórios. Um ciclo da humanidade havia terminado. Uma “Nova Criação” haveria de ter lugar, após um período devido de transição e preparação.


Ainda a questão “geológica”

“(...) a exemplo da questão da Agartha, a resposta verdadeira para o dilema atlante, tampouco é geológica, e sim geográfica.”


Houve uma grande ilha no Atlântico central, há muitos eóns. A Ilha Brasillis ou Bras Islands, é o escudo original que se desprendeu da África.

Certo é que o Escudo Brasileiro foi bastante destacado do subcontinente por muito tempo. Ele é bem mais antigo que os Andes, por exemplo. Enquanto a Ilha Brasillis rumava para o Ocidente, os Andes eram levantados das profundezas marinhas.

No tempo da Conquista ainda havia o grande Lago de Parima, em Roraima, onde os incas iam buscar ouro, originando a célebre Lenda de El Dorado, não muito distante de Manaus, a Manoa também mítica da lenda.



Num passado mais remoto, o Pantanal matogrossense era um verdadeiro Oceano Interior, e quando a Planície Amazônica inundava, havia uma separação de águas no meio da América do Sul. Ainda antes, os pampas estavam todavia em formação, criados pela soma da erosão dos Andes e dos sedimentos marinhos. 
Porém, para ter uma noção aproximada do que era, basta observar as projeções hoje feitas da Terra sob o degelo das calotas polares.


De modo geral, as altitudes mais baixas, as quais são de natureza sedimentar, são também as mais recentes. Por isto, a projeção de uma inundação sob o degelo das calotas polares, nos restitui uma imagem aproximada do que tem sido a Terra nos períodos mais recentes, antes de que, sob a última glaciação, as águas fossem condensadas nas calotas polares –e neste caso, a situação anterior era realmente ainda mais submersa.
Porém, tais coisas quase nada significam de objetivo, em relação à lenda da Atlântida, senão em termos muito superficiais ou então simbólicos. Blavatsky assinala aspectos esotéricos nos relatos de Platão:
“Posseidon – O último grande continente Atlante restante. É feita referência à ilha de Atlantis de Platão, como um termo equivalente na filosofia esotérica. [Poseidonis é o 'terceiro passo' de Idaspati ou Vishnu, de acordo com a linguagem mística dos livros sagrados.” (“Doutrina Secreta”, II, 809).] (G.T., H.P.B.)

De toda maneira, existe outra questão simbólica nisto: eis que a pseudo-imersão de Atlântida, poderá se afigurar profética de uma “Nova Atlântida”, sob o curso atual e futuro das coisas! Ademais, existem analogias culturais significativas entre a “Velha” e a “Nova” Atlântida. Trata-se de uma retomada de certas práticas culturais, que antes eram cultuadas pelas elites atlantes, e que agora serão devidamente socializadas, em função de haver passado duas raças desde então. Pois esta é a diferença normal existente entre a evolução da Hierarquia e da Humanidade, que é de dois graus espirituais, pois Hierarquia começou a evoluir nas duas raças anteriores às humanas.
Seguiremos não obstante analisando o tema geológico, como forma de corroborar ainda alguma simbologia. Contudo, a exemplo da questão da Agartha, a resposta verdadeira para o dilema atlante, tampouco é geológica, e sim geográfica. Porém, tal coisa depende muito da capacidade das pessoas de sair da esfera do mito e da mística, para penetrarem no âmbito da História e da realidade. 

A solução geográfica

“Há coisas que são objetos de crença, e outras não, por serem temas da Ciência. Então, é preciso saber discernir estes pontos.”

Retornando daí à lenda de Platão, quando o sábio grego dirige seus olhos ao “meio” do Atlântico, para além das “Colunas de Hércules”, ele aponta simplesmente para as Américas, tais e quais são em nossos dias, com bem poucas modificações.
Ora, a Atlântida de Platão era muito grande, pois era “maior que a Líbia (África do Note) e a Ásia (Menor) juntas”. E não era apenas uma ilha, mas várias, tal como as Américas são dois grandes blocos, entre outras insularidades. Por isto também se falava às vezes acerca das duas grandes Atlântidas, tal como Guenón considera em “Formas Tradicionales y Ciclos Cosmicos”, e que os teósofos chamam de Ruta (ao Norte) e Daitya (ao Sul) –este termo sânscrito também estaria associado aos “gigantes”, comumente relacionado aos atlantes e dois quais a Bíblia faz menção antes do Dilúvio, e que lutaram contra os deuses como fizeram os titãs gregos.
Como se vê mais abaixo, em mapa da obra “Atlântida e Lemúria” de A. P. Sinnet, ambas possuiriam uma “analogia” mais do que evidente com as duas grandes Américas, especialmente sob a forma como estas se apresentariam supostamente então. Ora, fica óbvio para nós, a necessidade de unificar ou de substituir um tema pelo outro! Ambas as Américas, foram grandes blocos desprendidos da unidade original, numa fase posterior de Pangea, ou antes: A América do Norte “saiu” da Laurásia, e a América do Sul “saiu” de Gondwana, como abaixo se vê na segunda configuração.

Fonte: www.mundofisico.joinville.udesc.br

Interessante observar que a Pangea, que pode chegar a ter uns 230 milhões de anos, não deixa de lembrar os relatos do Genesis: “E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom.” (1:9-10)
Ciclicamente, porém, os continentes se reagrupam e depois se dispersam novamente. Hoje estamos numa fase de expansão, onde as Américas se afastam e o Atlântico se expande, numa média de 10 centímetros por ano. Uma das terias afirma que esta expansão irá até o final, reunindo-se os Continentes novamente mas num sentido oposto ao de Pangea, dentro de 230 milhões de anos, de modo que no acharíamos na atualidade quase na metade deste processo. Porém, não descartamos que este processo irá somente até chegar ao seu ponto-de-equilíbrio, com a perfeita distribuição dos continentes pelo planeta, e depois retornem para a Pangea original, por assim dizer.
De todo modo, estas estimativas de 480 e 960 milhões de anos, nos remetem a um padrão cíclico conhecido, que é o da escala decimal.
Contudo, o citado teósofo “data” a sua configuração Ruta-Daitya em “200.000 anos atrás” (ver na parte superior do “mapa”, abaixo), o que é quase pífio do ponto-de-vista da transformação geológica. Antes de Ruta e Daitya, haveria Atlantis, um grande continente. Citemos (o grifo é nosso):
“Atlântida (Atlantis) (grego) - O continente que estava submerso no Atlântico e Pacífico, de acordo com os ensinamentos secretos de Platão. [A terra habitada pela quarta Raça-mãe. Quando ele estava no auge de sua prosperidade (há cerca de um milhão de anos atrás), Atlantis ocupara a maior parte da área hoje coberta pelo Oceano Atlântico Norte, chegando pelo N.E. para a Escócia, e a N.O. para o Labrador, e cobrindo pelo sul a maior parte do Brasil. O grande cataclismo ocorreu há cerca de 80.000 anos atrás e destruiu quase tudo o que restou deste vasto continente. (Scott-Elliot, History of Atlantis).] (G. T,. H.P.B.)

Aqui temos então novos problemas, por associar humanidades e civilizações a períodos tão remotos do planeta. Poder-se-ia até folgar em pensar que a alusão ao continente afundado, fosse apenas erudita ou especulativa, e que somente muito mais tarde é que sociedades humanas nele viveram, quiçá no seu ocaso, e ainda assim estaremos no terreno do símbolo. Porém, este não é o consenso comum, que oscila antes entre a fantasia e o ceticismo.
No geral, os “dados tradicionais” e teosóficos discordam da Ciência, nas formas e nas datas que apresentam para a evolução dos Continentes. Nos termos atuais da Ciência, estes adquiriram a sua configuração atual há cerca de um milhão de anos (ver desenhos da evolução dos Continentes, acima).
Assim, à parte outras questões, existe uma defasagem geral nestas apreciações, coisa que talvez possamos atribuir à incipiência da Ciência da época. Os primeiros teósofos procuraram seguir a Ciência, no tempo em que isto ainda era precário. Perceberam muita coisa corretamente, mas por vezes faltou o acabamento dos detalhes, por assim dizer.


Note-se então o aspecto inverossímel desta simetria acima, entre as futuras Américas e Ruta-Daitya, pois salta aos olhos que uma tal configuração é redundante! Note-se até como, deixando de lado a questão da proporção, estes êmulos até se assemelham, traindo quiçá a percepção do autor! A informação-de-origem não estava equivocada, a sua interpretação moderna, talvez.
Ou seja: elimina-se a redundância, e “dá-se o nome real aos bois” –apesar de que a forma das Ruta e Daitya “americanas”, tampouco fosse exatamente esta.


Neste sentido, a Ciência tampouco acataria nem uma Atlantis e nem a Posseidon, apresentadas nestes mitos geográficos como fases da destruição do “velho continente”, uma anterior-unificadora e outra posterior-residual a Ruta-Daitya.
A Ciência busca explicar o surgimento e a evolução dos Continentes. Porém, os místicos quase se limitam a especular sobre os supostos “fundamentos” científicos da lenda, lida na sua pobre literalidade...
O místico não-iniciado está condenado a ser um mitômano. O mitômano é um fabulista, que não usa o mito mas é por ele usado, pois não compreende a função do mito, como linguagem popular e véu. Ou, no dizer de Max Heindel: “O mito é um símbolo velado contendo uma grande verdade ‘cósmica’.” 
Daí ele não analisar o mito, não questionar e nem investigar o assunto a fundo. Opta por tomar o mito ao pé-da-letra, de maneira infantil, como fazem os “crentes” comuns que acreditam em toda sorte de coisa, e que com sorte ainda crêem em algo realmente mais espiritual... Mas o verdadeiro iniciado, retira os véus para construir as realidades através das sugestões dadas pelos mitos e pelas fábulas, com o auxílio do estudo e da sua intuição.
Ora, se mitologia é fulcro tradicional das religiões, que às vezes a admitem em deferência ao vulgo, ela já deve merecer um outro trato internamente. Por isto, as coisas apenas andam bem realmente, quando existe no interior de uma igreja não apenas uma ordem administrativa, mas também esotérica ou iniciática. De outra forma, esta igreja poderá promover o obscurantismo e o dogmatismo, trazendo um carma social de ceticismo e retaliação, tendo por decorrência a implantação de outro extremo equilibrante através de um materialismo igualmente cego.
Por isto, muitos destes místicos transitam num lamentável limbo ideológico, pois não alcançam nem fazer Ciência e nem Filosofia, quando o ideal seria reunir ou aproximar ambas as coisas através do estudo, cada uma no seu valor, pela unidade da Tradição de Sabedoria!


“Atlantis”, Lloyd K. Townsend
E isto é tanto mais verdadeiro, quanto se necessita realizar sínteses culturais e aprofundar a exegese dos Mistérios, e não requentar os velhos mitos. Afinal, a função da Filosofia não é fazer Ciência, mas agregar valor às coisas; por isto o mito lhe basta comumente. Uma não pode substituir e “encampar” a outra, mas devem trabalhar em uníssono como corpo-e-alma.
Os místicos precisarão admitir que, mesmo a Ciência estando sujeita a modificações e aprimoramentos, não é possível bater tão de frente com ela. Sob pena de colocarmos a razão numa lixeira e a serviço do nosso emocional, passando para um terreno perigoso da crendice.
Até porque há coisas que são objetos de crença e outras não, por serem temas da Ciência. Então, é preciso saber discernir estes pontos. Coisas predominantemente materiais, pertencem antes ao domínio da Ciência objetiva.
Ah, quantas oportunidades oferece este nosso tempo vibrante de transversalidade e multiculturalismo, de informações reunidas das idades, sob todas as perspectivas e modais, às vezes até demais levando à vulgo à confusão, mas para um espírito sincero capazes até de formar as bases de Renascimento maior! Bastaria citar uma plêiade de nomes com suas obras revolucionárias e maravilhosas, em todos os campos a cultura, para ter claro em mavioso potencial renovador, próprio de toda e qualquer esquina-do-tempo, e a nossa realmente não há de ser das menores, haja visto aquilo que se sabe sobre as acumuladas transições e ciclos.
Daí merecer ser trazidas aqui as palavras deste grande iniciado que foi o Marquês de Saint Yves d’Alveydre, porta-voz da informação correta e autor da grande síntese do Arqueômetro, vindo a obra que inclui este texto a ser realmente publicada somente na aurora do século extinto após seu desenlace, por julgar que o seu tempo não o suportaria:
"Oxalá que, em lugar de ser a serva da Anarquia governamental, a escrava da Força, o instrumento da ignorância, da iniquidade e da ruína pública de todas as nossas pátrias européias, a Ciência, levando de novo a tiara sobre a cabeça e o báculo na mão, subisse de novo às suas antigas cimas luminosas!"
Então, e em nome de um esclarecimento quiçá definitivo acerca desta conturbada questão que há milênios inquieta os espíritos, nós podemos, desde o ângulo geográfico, levantar uma dupla-hipótese –latitudinal e longitudinal- para a posição desta Atlântida pseudo-insular, sem pretender não obstante esgotar a riqueza das questões suscitadas por este mito maior que seguramente varre e congrega muitas capas de situações. Eis daí:


1. LATITUDE. A idéia da posição atlante no “centro do Oceano” seria latitudinal, o que nos remete à faixa aproximada da América Central e o México, e não a algo outro situado em meio ao próprio Oceano entre os Continentes hoje conhecidos. O termo “atlante” possui um importante radical nahua, atl, que significa água, o Elemento (sutil, ou psiquismo) que marcou aquela Civilização.
Francis Bacon, quando relata a sua “Nova Atlântida” (1610), aguça a sua intuição mítica descrevendo quase literalmente a cultura mexicana, descoberta pela Conquista. É evidente que, tal como elaborou a sua “República” ideal, Platão também quis alertar para a transitoriedade das coisas, especialmente num paraíso de elites mostrando a situação crítica de uma civilização decadente, em muitos aspectos por não poder fazer uma crítica aberta aos seus compatriotas, para não receber a sorte de seu mestre Sócrates. 

Dilúvio: "a colheita do carma"
René Guenón (op. cit.) declara que a Atlântida representa pacificamente uma cultura tropical, em contraposição com a cultura “hiperbórea” mais setentrional - ainda que a latitude do Paralelo 36 das Colunas de Hércules ante as quais estaria a ilha de Platão, não seja exatamente tropical. Ainda assim, é na Zona Tropical que caberia ver o núcleo original da civilização atlante, pois o clima da região favorece sobremodo o temperamento psíquico, a religiosidade e os valores da burguesia, próprios dos povos atlantes.
Porém, cabe considerar que, no tempo de Platão, a civilização meso-americana recém havia sido fundada, sob um sincretismo de forte influência chinesa –e muitas provas arqueológicas têm sido reunidas nesta direção. Deste modo, seria difícil situar neste ambiente uma “crise civilizatória” de tal monta, a não ser que se trate de um mito (e um processo) fundador, como cabe à cronologia de Platão para a “destruição final” da Atlântida, remontando na verdade ao começo da Era solar atlante há uns dez mil anos.
Aqui entramos, não obstante, numa outra hipótese, que tem sido até bastante explorada pela especulação agarthina. Sucede que, se no México a civilização veio à luz somente no século VI a.C. –que foi um momento portentoso da humanidade, por se tratar da metade da Era solar árya, com sua grande mudança de valores e busca por proteger e divulgar a Tradição para os tempos materialistas que viriam, inclusive fundando novas civilizações tradicionais-, na América do Sul a Civilização verdadeira era já tão antiga quanto a egípcia. Então, a alusão à Atlântida poderia ser vaga, e talvez a civilização em crise na ocasião fosse a sul-americana. Esta declaração de imprecisão em Platão, não complica ainda mais um problema que na prática já tem se mostrado insolúvel, e ao qual os historiadores de todas as épocas jamais tem considerado com maior seriedade.


Caral, costa do Peru: tão antiga quanto as Grandes Pirâmides!
Nisto, Alice A. Bailey escreveu que o templo atlante estava localizado “no centro da América do Sul” (ver “Tratado de Magia Branca”). Isto levou a muitas especulações, que passam pelas andanças do Coronel Fawcett, especialmente pelo Brasil. Porém, eventualmente tal coisa poderia ocorrer no mundo andino. A descrição da capital atlante com seus três anéis d’água e situada ante um grande lago, tem sido atribuída à La Venta Olmeca (o primeiro povo civilizado da região), mas também à Tenochtitlan asteca e à Tiwanaku andina.
Uma Atlantis semelhante à Tenochtitlan méxica, com “colunas” na entrada e terraços flutuantes

A capital atlante possui então esta configuração especial. Estes três anéis possuem naturalmente uma dimensão simbólica, fazendo alusão ao Pushkara, o Reino Trino que reúne os Três Centros de Consciência planetários: a Divindade, a Hierarquia e a Humanidade, que o moderno sincretismo também designa de Shambala, Agartha e Vaikuntha.
A capital Atlante, e o Pushkara ou o Reino Trino.

A pintura tibetana dada, ilustra detalhes desta situação, ainda que a esfera exterior esteja reunida na sua base. Abaixo, esquematizamos o tema, demonstrando certa geometria sagrada que estrutura este quadro-de-evolução, diretamente relacionada aos planos (ou “alinhamentos”) de consciência: Espírito, Alma e Personalidade.


Não obstante estarmos tratando aqui de questões ideais, não estamos exatamente no território do mito ou do símbolo, ou mesmo no terreno do “fantástico” e da especulação, mas de uma tradição imemorial relacionada em especial aos grandes momentos fundadores das civilizações, que sucedem sob o alinhamento dos Três Centros de Consciência planetários citados.

2. LONGITUDE. A Atlântida pseudo-insular, estava também localizada em meio aos grandes Oceanos, os quais eram tidos então pelos gregos como um só, uma vez que para eles as Américas eram apenas algumas “ilhas” avantajadas.
É evidente que os Antigos conheciam de há muito as Américas. Fenícios, chineses e talvez até os egípcios, andaram por estas bandas da Terra. Contudo, o desenho e a extensão exata destas regiões não seriam bem conhecidos.

Mapa do almirante turco Piri-Reis, 1513
Platão também insiste em chamar a Atlântida de “ilha(s)”, havendo até sete delas, como acontece com as estrelas da constelação das Plêiades ou "as Atlântidas" (filhas de Atlas), cuja posição no Sidéreo situada “no cifre do Touro” também está relacionada às coordenadas da "civilização" atlante original. Esta constelação está associada ao “pivô do mundo”, e junto a elas passa a Via Láctea dos Argonautas. Adiante voltaremos a este tema.

As Plêiades ou Atlântidas
Porém, para além das ilhas já haveria continentes, a Ásia em especial: “No lado de lá é que está o verdadeiro mar e é a terra que o rodeia por completo que deve ser chamada com absoluta exatidão ‘continente’.” (Timeu-Crítias)
Os gregos já tinham notícias da Ásia, e possuíam plena certeza da circunferência da Terra, afinal a Lua e o Sol detém também esta mesma forma. Entre a Ásia e a Europa/África, havia um grande Oceano, e no seu centro estavam as Atlântidas, que são praticamente as nossas atuais Américas.
Existem m muitos vestígios de uma Tradição Antípoda na Antiguidade, no período atlante, entre dez e cinco mil anos atrás, a parte culturalmente mais desenvolvida do planeta eram justamente as Américas, onde se realizou o caldeamento racial atlante.
Anteriormente, a Lemúria havia disseminado um forte culto clânico e territorial, então os Kumaras determinaram a necessidade de realizar uma grande migração para um novo local do globo, para o qual já haviam sido enviados desde décadas antes batedores e emissários, a fim de preparar os povos locais e verificar as condições –ver a nossa obra “Intradimensão”, Ed. Agartha.
Esta é a medida tradicional de renovação civilizatória adotada pelos Adeptos: a migração, o êxodo. E nunca o embate frontal e violento, porque “não se põe vinho novo em odres velhos”. Citemos, pois, o nosso “poema” intitulado “O Ninho”:

Ó semeador, esqueceste porventura a tua ciência?
E tu pastor, olvidaste por acaso o teu rebanho?
O pintor, cansou de recriar imagens de beleza?
E o navegante, sabe ainda seguir o rumo das estrelas?
Lembrai, pois, todos vós, que tens o dom de multiplicar a vida:
É preciso criar os berçários para os seres sagrados do amanhã!

Quando formos capazes de criar ambientes para todos
a renovação estará assegurada;
O desafio de conviver nas diferenças,
é tudo o que precisamos realmente conquistar.
Todo começo é uma nova oportunidade
no recomeço nós trazemos a pureza
e buscamos resgatar a razão das Origens
- o Sentido real das coisas.
Sob o sagrado Equilíbrio criador!

Esta nova dupla-perspectiva dada ao tema, certamente vem enriquecer de sobremodo as pesquisas. E traz luzes novas sobre estes difíceis mistérios, também abrindo portas para o futuro.

Sobre a Astrologia

"A Arqueometria de Gaia é perfeita, pois a transição dos Continentes está justamente alinhada com a transição dos quadrantes ou dos arcos zodiacais."

Se a questão geológica nem sempre pode ser tomada ao pé-da-letra em Platão, eivada como está por símbolos de ampla natureza, a parte cronológica todavia é bem mais instigante. Uma vez que o cômputo científico das raças-raízes como civilizações (dando-lhes o período de 5,2 mil anos, como faziam os maias), atribui à organização da Atlântida não mais do que 10,5 mil anos –exatamente onde Platão situa a queda final (?) do Continente.
Apesar a imprecisão de algumas destas situações, a data em questão tem a virtude de definir a passagem dos arcos do Manvantara, assinalando com bastante exatidão o surgimento do homo sapiens sapiens, que é o humano atual, como abaixo de observa dentro da organização do ano Cósmico.


Também ali, “em meados do período lemuriano” (Era de Leo), se declara ter vindo à Terra a figura excelsa de Sanat Kumara, a deidade manifesta, criando um novo paradigma de evolução humana e planetária, a partir da chegada deste que seria o grande Manu cósmico, atendendo o conceito de Regente do Manvantara, termo que significa “entre dois Manus”, ciclo que ocupa os arcos de 12 mil anos do ano cósmico na Filosofia do Tempo Hindu:

“Manvantara literalmente significa: Período entre dois Manús (Manu-antara).” (“Glossário Teosófico”, verb. “Manvantara”). “(Manvantara) = Total : 12.000 anos” (op. Cit., verb. “Yugas”)

Não obstante, Blavatsky assinala algo sobre este ciclo, que deve levar a pensar: “Manvântara significa simplesmente um período de atividade, ao contrário de Pralaya ou período de repouso, sem referência alguma à duração do ciclo de tempo.” (G.T. H.P.B., verb. “Mahamanvantara”) A cronologia de Platão, tampouco é exatamente científica, mas simbólica e cultural. O padrão-de-tempo do Manvântara, em sentido decrescente, sugere antes se tratar de um processo espiritual.
Esotericamente, a Hierarquia lemuriana alcançava então a sua Terceira Iniciação, por se tratar da Terceira Raça-raiz. Neste grau, o iniciado tem um contato pessoal com o Rei do Mundo, de quem recebe ademais o toque do seu Cetro Adamantino para estabilizar a aura do iniciado. Contudo, por analogia o grande Senhor do Mundo também fez a sua aparição manúsica, dando início a um novo ciclo mundial, inclusive coordenando a Grande Migração asiática para as Américas, onde logo teria lugar o ciclo atlante. Nisto, o Estreito de Bering por onde passou a grande leva migratória, tem analogia geográfica com as Colunas de Hércules (que na verdade são montes situados de cada lado do Estreito de Gibraltar), pois separa dois hemisférios do Globo distintamente polarizados.
Bering está associado à Era de Libra, que em várias tradições possui relação com as Origens (ver em Ibn Arabi, por exemplo), até por sinalizar a idéia do Equilíbrio, da harmonia criadora. Por esta razão, naquela faixa –que por sua vez está relacionada à Lemúria-, também existe um grande portal, o chamado trílito de Tonga, mais ao Sul pois esta já representa uma transição meridional... E é o oposto das Colunas de Hércules, pois estas se acham próximas do Grau Zero em Greenwich.


A Arqueometria de Gaia é perfeita, pois a transição dos Continentes está justamente alinhada com a transição dos quadrantes ou dos arcos zodiacais -ver a nossa obra “O Oráculo de Gaia - a Grande Crônica da Terra: um Estudo de Arqueoastronomia Integrada”, Ed. Agartha. Manifestando assim a premissa hermética de que “assim como é em cima é em baixo, para que se cumpra o milagre da unidade das coisas”. Quem sabe, esta Unidade sagrada se manifeste, mais do que em qualquer outra coisa, no Mesocosmos planetário, racial, social..!
Ciente disto, a Sabedoria “humana” tratou de assinalar com Portais todos estes locais sagrados de inicialização de ciclos, tal como buscou demarcar também os momentos de amadurecimento das Civilizações com pirâmides.
Do ponto-de-vista astrológico, as Colunas de Hércules (alusivas também às dualidades atlantes) tem relação com o signo/era de Gêmeos. Além dele, está o signo/era de Câncer, ambos relacionados ao período atlante.

Este período assinala uma mudança crítica na humanidade, quando o ser humano começa a abandonar em definitivo omodus vivendi multimilenar da existência primitiva entregue ao ritmo natural, para vir a assumir o sedentarismo e a agricultura ostensiva, mudando radicalmente as suas relações com a Natureza, sob os ditames da cultura-de-massa. Para os Antigos, este foi um período crítico da humanidade, onde o emocional estava muito aflorado, sendo basicamente trabalhado através da religião, mas dando margem à magia, à feitiçaria, ao fanatismo e às paixões, não obstante sob uma ampla explosão populacional. A chegada da Arianidade, pôs um freio num quadro de guerras religiosas clânicas-tribais endêmicas no final do ciclo, dando lugar ao surgimento da verdadeira Civilização, com ecumenismo e espírito-de-síntese.

Mas também ali tem início os novos paradigmas espirituais, sob uma Hierarquia espiritual que passa a custodiar a evolução humana e a organizar as civilizações nascentes, inaugurando os processos de iniciação coletiva. Com isto começam a aparecer as verdadeiras raças humanas. Na Atlântida, as Hierarquias espirituais alcançaram a condição de “homem verdadeiro” ao acessarem a iluminação. Por isto muitos autores afirmam que a verdadeira humanidade foi semeada apenas a partir nesta raça-raiz.

Obviamente nada houve ali destas “fantásticas tecnologias” que aparecem no imaginário humano, pois eram sociedade pré-racionais, por assim dizer, cujo apreço ao sensível lhes dava muito maior inclinação para buscar o sensorial, o natural, o devocional e o imaginativo. Da mesma forma como no neo-atlante Egito, já sob novos paradigmas culturais, suas grandes obras são frutos "meramente" de muita ciência, devoção e esforço humano, e não da suposta posse de poderes especiais ou tecnologias fantasiosas. 

Vale notar então a vinculação entre Hércules e Atlas (o primeiro rei da Atlântida), o herói solar e o gigante insondável, relacionados a axis mundi, em especial o último. Hércules é o discípulo perfeito que ajuda o mestre a cumprir o dharma divino, sem distorcer, corromper ou reduzir. Nomeia uma constelação circumpolar que representa o pólo da direção solar... 
Porém, para cá das colunas de Hércules, ou do signo de Gêmeos, começava o ciclo áryo de civilização, tido como uma etapa superior da cultura, com traços inclusive supra-humanos naquilo que diz respeito às suas Hierarquias espirituais, graças ao seu aceso à energia da Quintessência ou ao Éter. Ali começou a ser semeado o próprio futuro cósmico da Terra, no qual finalmente entraremos ao cabo desta Nova Era.
A “Grande Atlântida”, nada mais é que a Quarta Ronda mundial, a atual, onde se desenvolve a espécie humana em evolução, dentro dum período de no máximo 30 mil anos, e a se encerrar ao cabo de dois mil anos. Inserida provavelmente em ciclos cósmicos de maior envergadura, porém já sem acepção humana.
O Mar Mediterrâneo, representa o Manvantara, a Zona do tempo da Civilização, em especial “para cá” das Colunas gêmeas (em Gemini), que é o mundo conhecido de Platão. Para além disto está o Pralaya, o Grande Mistério entregue aos ditames da Natureza, ou às diferenças dos Antípodas. 
Assim, o verdadeiro “drama da Atlântida”, decorre exatamente entre as Colunas gêmeas e a data assinalada por Platão: a Era Solar atlante.


Estas seriam, pois, as configurações “atlantes” principais de que tratamos aqui:
a. A “Grande Atlântida”: a Quarta Ronda Mundial, de uns 30 mil anos atrás para cá (abrangendo a espécie homo sapiens): a visão paleontológica.
b. A Atlântida: a Quarta Raça-raiz, de perfil agro-sedentário e religioso, entre dez e cinco mil anos atrás: a visão antropológica.
c. A “Nova Atlântida”: a Quarta Sub-raça árya, das culturas áryo-atlantes: Egito, China e, em especial, as Américas: a visão etnológica.
d. A Atlântida Profética: A Quarta Loja da Hierarquia, Albion, nas terras (sul-) americanas, a se desenvolver através da Era de Aquário: a visão ontológica.

Bibliografia:
BLAVATSKY, Helena P., “Glossário Teosófico”
Bacon, Francis, “Nova Atlântida”
Bailey, Alice A., “Tratado de Magia Branca”
GUENÓN, René, “Formas Tradicionales y Ciclos Cosmicos”
LOPES, Rodolfo, “Timeu-Crítias”, Platão, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra
PLATÃO, “Timeu-Crítias”
SALVI, Luís A. W., “Intradimensão”, Ed. Agartha.
SALVI, Luís A. W., “O Oráculo de Gaia - a Grande Crônica da Terra: um Estudo de Arqueoastronomia Integrada”, Ed. Agartha.
SINNET, A. P., “Atlântida e Lemúria”.

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* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.

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Um comentário:

  1. Interessante abordagem, felicitações pelo texto rico em esclarecimento. Fraterno abraço.

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