A Teosofia em geral tem uma forte influência nos novos ensinamentos, especialmente em suas vertentes históricas centralizadas em Helena P. Blavatsky e sua sucessora espiritual Alice A. Bailey. Porém, dentro das revelações do Plano da Hierarquia, procura-se hoje dar uma cor mais “científica” ao tema, tratando basicamente de retirar os véus remanescentes, além de apurar sínteses e agregar idéias complementares, como seria a questão social e a própria espiritualidade e iniciação. Esta é a origem da “Teosofia Científica”, uma doutrina promissora que trabalha basicamente com a Ciência dos Ciclos. Uma Teosofia Científica reuniria -nada mais e nada menos- que os dois pólos extremos do conhecimento (espiritualidade e ciência), preenchendo daí todo o leque do humano saber.

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Estâncias de Dzyan: a busca da Verdade

Os Mistérios podem receber diferentes interpretações, a depender do contexto histórico e espiritual a serem trabalhados. Qual o nível de verdade que você está preparado para aceitar? Escolha abaixo aquilo que prefere acreditar dentro das interpretações das Estâncias de Dzyan e depois veja os resultados:

1. As primeiras raças descritas nas Estâncias como “iogue” e de “suor” eram a. Imaterialmente divinas e gigantescas reproduzidas como amebas ou b. Espiritualmente disciplinadas e devocionais?

2. Os Manasaputras com terceiro olho na Lemúria eram a. Cíclopes humanos ou b. Clarividentes potenciais?

3. Os Agnishwattas eram a. Anjos solares ou b. Iniciados e sacerdotes da luz?

4. O mecanismo Fohat da iniciação se destina a a. criar a matéria densa ou b. Organizar a energia espiritual?

5. Sanat Kumara a. Veio do planeta Vênus do sistema solar ou b. Surgiu na ronda astrológica “venusiana” da Terra?

6. Uma “raça-raiz” seria a. um período fisiológico de milhões de anos (incabível nos padrões científicos), ou b. um ciclo cultural de cinco mil anos como havia entre os maias e outros e conforme a própria Antropologia?

7. A humanidade atual vive a. Num Manvantara profano de milhões de anos ou b. Num Manvantara divino de milhares de anos?

8. As Estâncias de Dzyan são a. uma obra arcaica antiguíssima de 20 mil anos ou b. Uma obra medieval antiguista que trata de eventos de 20 mil anos (como se suspeita na atualidade)?

9. Os registros das Estâncias são feitos em a. Material imperecível aos elementos ou b. Material longevo que deve ser renovado de tantos em tantos séculos como fazem os monges?

Se você escolheu os itens “a” a sua opção é mística, material e fictícia conectada com a “Doutrina Secreta” de H. P. Blavatsky. Mas se você escolheu os itens “b” a sua opção é ocultista, esotérica e científica conectada com a “Doutrina Secreta Revelada” de Luís A. W. Salvi. Porém qual destas leituras você acha que é experimental e velada por símbolos, e qual estaria mais conectada com a Verdade tradicional ou universal, assim como com a verdadeira informação dos Mestres? 

As limitações de HPB em certas áreas têm suas razões históricas e pessoais, mas não tira muitos dos méritos da autora como precursora, artista e mensageira. Lembrando que Blavatsky mesma anunciou para um século depois (na Introdução da sua Doutrina Secreta, Volume I) a vinda de um novo mensageiro mais capacitado para transmitir as grandes verdades definitivas da Doutrina Oculta ou Gupta Vidya. “Buscai a Verdade e a Verdade vos libertará.” (João 8:32)

Acesse gratuitamente “A Doutrina Secreta Revelada - Síntese da Sabedoria Universal”


* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Na última década vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.


Blavatsky e Bailey: uma grande Dialética

A Filosofia Dialética pode ser vista resumidamente como análise e síntese, onde a primeira separa e disseca as coisas e a segunda as reúne e organiza, representando assim processos didáticos complementares. 

Aqui podemos dizer que Helena P. Blavatsky era uma espécie de mestra da análise, pois ela realmente se preocupava em dissecar os conceitos e os significados, razão pela qual até criou um Glossário. A sua didática era por assim dizer primária no sentido de realizar uma alfabetização de conteúdos, pois era isto que se pedia numa época em que o Ocidente precisava conhecer mais a fundo o Oriente. Talvez com isto ela tenha despertado todo um interesse mais profundo e facilitado os caminhos para que os orientais começassem também a se aproximar de nós pela criação de uma maior familiaridade com as filosofias do Oriente para um público mais eclético e filosoficamente engajado. Como um trabalho pioneiro que era a autora também somou um grande número de polêmicas, inclusive nos próprios conteúdos da sua obra e em especial a mais importante que foi a sua Doutrina Secreta, onde busca combinar vários estilos de conhecimentos numa espécie de síntese experimental. Apesar de seguir uma trajetória relativamente errática na espiritualidade, Blavatsky ainda levou uma vida razoavelmente consagrada na sua busca da Verdade, colhendo assim os frutos que lhe caberiam.

Já Alice A. Bailey, que foi uma grande estudiosa da obra da anterior, teve uma missão espiritual bastante distinta, até oposta num certo sentido, que foi aquela de realizar sínteses, de modo que podemos observar aqui um pensamento bastante mais orgânico, prático e operacional. Bailey chama todo o tempo para um outro nível de engajamento, mais espiritual, seja nas áreas da mística interna e do ocultismo prático, no conhecimento das Hierarquias ou nas questões políticas e sociais da sua época. Ela apresenta para isto muitas fórmulas de como as coisas funcionam objetivamente, e com isto adquirimos familiaridade com as suas dinâmicas, inclusive aproximando-nos internamente de muitos sistemas tradicionais de conhecimentos esotéricos, além de avançar em muitos pontos da própria hermenêutica teosófica. Para muita gente tudo isto ainda é muito desafiador, porque as pessoas não costumam estar preparadas para grandes instruções, elas querem algo mais suave como prescrições morais e misticismo, e isto também existe em Bailey mas será mais comum nos autores teosofistas. É por isto que Bailey também angariou adversários em função dos seus posicionamentos diante das situações históricas que viveu e das teorias e dos movimentos que criou ou que apoiou. Bailey alcançou um grau maior de dedicação ao conhecimento, assumiu responsabilidades concretas e seguiu escolas espirituais de forma mais metódica -incluindo a própria Sociedade Teosófica- antes de tornar-se autora e amanuense da Hierarquia.

E embora o que segue já transcenda ou extrapole o nosso assunto, é importante dizer que ambas as autoras também trabalharam com profecias, incluindo de nível filosófico ou epistemológico, ao preverem um futuro ciclo mais avançado e conclusivo de ensinamentos para o final do século XX -algo que pode surpreender ao leigo ou ao devoto que se debate ainda para compreender estes ensinamentos, sem entender que as dificuldades acontecem em parte justamente por seu caráter velado. Podemos evocar então aqui um elemento pouco conhecido da Filosofia Dialética que é a Matese, que podemos definir como realização ou práxis -algo que Karl Marx também reivindicava para a filosofia, muito embora num plano materialista. Aparentemente a descrição do trabalho de Bailey alcançaria este fator ao menos em parte. Acontece porém que as citadas autoras, apesar de divulgarem, analisarem e reunirem temáticas, também foram mestras de mistérios, trabalhando com véus de diferentes maneiras naquilo que diz respeito a algum nível de revelação. Se Blavatsky muitas vezes não compreende as fronteiras entre o símbolo e o real, já Bailey maneja com maior maestria a didática dos véus. Houve contudo temas que foram subdimensionados em suas obras e que mereceriam maiores desenvolvimentos, coisa que vem sendo em parte realizado por outros autores, posto que os tempos ainda não estavam maduros para certas revelações maiores. E na verdade estas sequer estariam já apenas nas próprias informações e sim na própria capacidade das pessoas em recebê-las, o que implicaria numa recapacitação pessoal para conhecer e experimentar certas realidades maiores da existência, exigindo um grau maior de dedicação e de especialização do que aqueles que os ocidentais estão acostumados a empregar. Enfim é chegada a hora do Ocidente começar a se profissionalizar nos temas de uma espiritualidade integral ou tradicional, algo que a rigor sequer existe mais no próprio Oriente já faz muito, apesar de ainda restarem ali muitos sinais de uma verdadeira Idade de Ouro da Civilização. 

E nisto Blavatsky e Bailey foram como introdutoras e Mães de uma Nova Era. Nós inclusive apreciamos reunir as letras-chaves destas autoras, que são o mesmo “B”, de forma contraposta entre si, para sugerir um certo paralelo com a vesica piscis que simboliza o útero da Virgem que dá nascimento ao Cristo. Ao lado temos pois este comparativo. No símbolo B+B o traço vertical serviria para retratar o Logos axial que emerge do cruzamento das esferas na vesica. O número “oito” também sugerido por ambas as formas remete ao mundo dos Budas, resultando igualmente profético para aquilo que se aguarda nas esferas divinas na atualidade. 


* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Na última década vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.


As Estâncias de Dzyan e a verdadeira espiritualidade

Brahma Hansavahana

Seriam os Manasaputras "cíclopes humanos" e os Agnishwattas "anjos solares" como afirma a Doutrina Secreta?! Não exatamente, pois na realidade aqueles seriam meditantes criativos em treinamento e estes seriam iniciados solares consumados. Pois tampouco faria sentido relacionar o próprio manasaputra (esotericamente “dotado de mente”) a qualquer técnica contemplativa ou de controle passivo da mente. A condição manasa emprega a mente de forma dinâmica e criativa, como aquele que faz uso do seu cavalo após havê-lo domado ao invés de meramente guardá-lo no estábulo sem maior serventia. Este é inclusive o sentido do simbolismo solar do cavalo na cultura arya, e que o Tibet expressa de maneira exuberante nos vínculos com o plano mental através do Cavalo de Vento ou Lung Ta que carrega a jóia Cintamani (espécie de Pedra filosofal) que remete à mente iluminada. Tudo isto integra pois a cultura solar das raças terciárias como foram a Lemuriana e a Árya, na preparação das grandes transições de rondas planetárias.

De outra forma os divinos Construtores citados nas Estâncias de Dzyan jamais teriam alcançado o sucesso nos seus ousados empreendimentos cósmicos e raciais na transição do atual Manvantara, da mesma forma como os místicos atuais seguem inoperantes para qualquer projeto maior de renovação das coisas, como eram também nos tempos de Krishna tendo Arjuna como um paradigma desta condição passiva e individualista. Tornar-se um Agnishwatta, um Portador da Chama, significa ser um iniciado solar empoderado para realizar no mundo os projetos dos Grandes Senhores, como seres audazes e indômitos acima dos erros e das limitações que imperam na humanidade. Os Cisnes sagrados (Hansavahana) sempre flanam suavemente acima do lago das ilusões e alcançam os seus luminosos objetivos sem deter-se, após conhecerem as grandes diretrizes da Hierarquia para o período racial em questão.

Lung Ta e Cintamani

Sim contestamos todo o ensinamento atribuído às Hierarquias que trate de questões menores, individuais e materiais. O próprio misticismo acha-se dramaticamente questionado aqui, posto que dificilmente teria lugar fora de algum enquadramento solar ou propriamente iniciático, tal como socialmente construtivo do tipo “liberta a ti mesmo para libertar também o teu próximo” -para além da simples esfera subjetiva naturalmente. É claro que tampouco estamos falando de luta social materialista, mas de uma oitava acima disto, muito conhecida das lideranças antigas que criaram as primeiras Civilizações e além, pois eram Espíritos vibrantes e entusiastas com a possibilidade de servir em grande escala, empoderados pela força do Espírito vivo, e invariavelmente descritos como “gigantes” nos registros antigos, portadores audazes das Espadas de Luz forjadas no gelo e no fogo, e dotados de férreas Armaduras Luminosas arduamente adquiridas no serviço abnegado.

Existem questões coletivas que são universais fazendo parte de todo o histórico de esforços das Hierarquias, como é o combate à alienação e à cultura de massas. De modo que qualquer ensinamento que não toque nestas questões será suspeito de parcialidade e de reducionismo, quiçá reminiscências do espírito atlante em plena era de luz espiritual e de libertação humana. Os objetivos de todos Aqueles que habitam as Nuvens de Fogo não podem ser menores do que desejar que cada um de seus verdadeiros seguidores seja como um sol para o seu próximo. Exemplo disto são as Estâncias de Dzyan mesmas que -independentemente daquilo que os seus pobres intérpretes possam fazer destas raras pérolas de sabedoria-, são um ensinamento que jamais perde do horizonte a perspectiva da Iniciação Solar (classificando também a raça lemuriana como Hansa) e a capacitação humana para tal na forma dos Manasaputras ou seres mentalmente aptos para a meditação criativa, para logo demonstrar os conflitos que podem resultar das vigorosas ações sociais dos seus protagonistas -e que na prática representa a batalha de Shambhala do Kalachakratantra-, até alcançar os transcendentais resultados de tudo isto na organização de uma verdadeira Civilização iluminada pela batuta dos Reis divinos manifestosO mesmo muito provavelmente se poderia dizer de outros famosos épicos da Índia como o Ramayana e o Mahabharata. Tudo isto representa seguramente uma manifestação do VITRIOL planetário, ou seja: aquele que busca a terra espiritual sempre encontra a Jóia ocultista na forma da Mônada auto-iluminada.

Yoga solar egípcio, Tumba de Tutankamon

Segundo as mesmas Estâncias os Mestres aguardaram muitos milênios no decurso do Pralaya até surgir uma raça manasaputra ou mentalmente capacitada para a espiritualidade, que foi a raça lemuriana “reformada”, porque aspirantes física e emocionalmente capacitados já haviam nas duas primeiras raças, que são os iogues e os devotos ali descritos, mas que todavia ainda eram consideradas amanasas ou “sem mente” para os propósitos espirituais. Acontece que apenas a meditação solar capacita para a verdadeira iniciação, conferindo superior inteligência, imunidade astral e ativa capacidade colaborativa com as Hierarquias, sob a égide das Hipóstases sagradas de Som-Luz-Amor ou OM MANI PADME HUM. Esta capacitação era fundamental porque era preciso preparar a chegada do Manvantara e começar a organizar a Civilização, demandando colaboradores entusiastas e dispostos a liderar a humanidade em seus novos caminhos.

Podemos dizer que no Manvantara atual o quadro não é tão diferente senão em termo de escalas. O conhecimento solar já estava mais próximo mas não se firmou na Atlântida, porém na raça arya alcançou certa universalização nos primeiros milênios a partir das Escolas Iniciáticas contribuindo para organizar as Civilizações; decaiu e veio a Cultura solar de Amarna para tentar uma revivificação malograda, transferindo então para a Pérsia o facho da luz. Novamente se perdeu na Era de Peixes mas teve outra revivescência medieval na Índia, razão pela qual a literatura tântrica busca deixar claro a diferença dos ritmos evolutivos através dos métodos dos Tantras e de outras vias. Hoje a cultura solar novamente agoniza à espera de um novo grande despertar, encontrando aqui e ali expositores de aspectos da tradicional espiritualidade solar. 

Yoga solar tântrico, Templo de Lukhang, Lhasa

A expressão “espiritualidade verdadeira” transparece no termo “raja yoga” ou ioga real e verdadeira, que é aquela mais pertinente à evolução arya porque centrada na meditação. Não obstante existem muitos sistemas de Raja Yoga e nem todos alcançam os mais elevados propósitos do Yoga solar, em função do conhecido declínio do Dharma no decurso dos Yugas ou das Idades do Mundo. Versões deste yoga solar também existe hoje com outros nomes como Agni Yoga ou Surya Vidya.

A verdadeira iluminação espiritual sempre foi considerada uma conquista muito avançada. Não se imagina ter iluminação numa casa sem colocar os fios, ligar na rede e encaixar as lâmpadas. De modo que o assunto pode não ser tão simples como por vezes se quer imaginar. Face a isto surgiram metas mais modestas com insights provisórios, como se o Sol pudesse ser trocado pela Lua impunemente. Aqueles que creem que a verdadeira prática árya é a meditação contemplativa estão grandemente equivocadas, pois tal coisa não passa de uma adaptação do materialismo ou do hedonismo da Era de Peixes.

É uma coisa muito triste imaginar quão difícil é encontrar aspirantes realmente capacitados a receber a mensagem direta dos Mestres, e de acolher um Ensinamento elevado capaz de conduzir até a Sua proximidade. As condições do planeta e da cultura influenciam nisto como vimos. Não obstante uma grande crise planetária ainda poderá provocar um renascimento da luz pela via da dor, da urgência e da necessidade da auto-superação humana, agora que se começa a preparar um novo giro da Grande Roda do Tempo. Neste dia as pessoas voltarão a procurar seriamente pela iluminação espiritual, descobrindo que neste caminho elas também precisarão aprender a servir, a auxiliar-se e a congregar-se harmoniosamente. Mas acima de tudo a reaprender a ter seriamente compromisso com as futuras gerações, o que em última análise poderá beneficiar a elas mesmas, se creem como deveriam que este mundo deve servir de palco para a evolução desta humanidade.


* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Na última década vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.


HPB e LAWS: Gêmeos Espirituais

Ao procurar um nome para uma nova missão na segunda metade do Século XX (conforme anunciado por Blavatsky mesma -ver adiante), os Mestres buscavam alguém que fosse suficientemente próximo ao melhor de HPB e ao mesmo tempo suficientemente distante do seu pior. Blavatsky seguia pois como a sua melhor referência, apesar dos tantos problemas havidos com ela e das tantas conquistas alcançadas com outros porta-vozes. É que havia aspectos especiais na personalidade desta iniciada.

Após organizar uma obra monumental que somente encontra paralelo no trabalho de Helena P. Blavatsky e em boa parte nela inspirado, trazendo as Chaves da Sabedoria Tradicional e da própria transição planetária, Luís A. W. Salvi se voltou para realizar uma espécie de revisão da “Doutrina Secreta” daquela Autora (ver a Série “A Doutrina Secreta Revelada”), enquanto que os seus amplos conhecimentos de astrologia e de cosmologia permitiram lançar um olhar mais fidedigno e atualizado sobre as Estâncias de Dzyan (ver “Chaves Secretas dos Livros de Dzyan”) que estão na raiz do principal trabalho de HPB.

Os paralelos entre as obras e as vidas de Helena P. Blavatsky e Luís A. W. Salvi vão contudo muito além dos aspectos formais. É importante ressaltar que ambos os autores são espíritos altamente afins, tratando-se na verdade de verdadeiros gêmeos espirituais. Não apenas os seus horóscopos exaltam os mesmos signos principais regidos pelo Sol e pela Lua -e que são também arquétipos centrais ou avatáricos de Nova Era e de Nova Raça (de acordo com as premissas tradicionais de equilíbrio de opostos estudadas por Ema de Mascheville)-, como também suas biografias encontram muitos pontos em comum, tal como segue:

1. Nascidos em famílias aristocráticas ou de classe média alta;

2. Nasceram em grandes países cristãos católicos, sendo um ortodoxo e o outro romano;

3. Nasceram sob os mesmos signos Solar e de Ascendente relacionados às profecias;

4. Nascidos com graves desafios de saúde exigindo precoces auto-superacões;

5. Intenso relacionamento com os mundos interiores, presenciando fenômenos espirituais desde a infância;   

6. Influência espiritual e intelectual poderosa dos avós na formação da jovem personalidade do/a neto/a;

7. Encontraram os seus Mestres e despertaram a sua vocação espiritual em torno dos vinte anos de idade;

8. Sujeitaram-se a um casamento precoce pressionados pela famílias buscando tolher os seus espíritos rebeldes;

9. Foram grandes viajantes interessados no ecumenismo e na cultura universal;

10. Foram espíritos autodidatas, ao mesmo tempo em que nutriram profundo respeito à Tradição Sapiencial da humanidade e seus Mestres;

11. Preocuparam-se vividamente com a sorte dos seus semelhantes fazendo disto um alicerce para as suas vocações; 

12. Suportaram crises pessoais e outros graves problemas de saúde também no decurso da existência; 

13. Foram renunciantes e viveram por três anos ou mais em ashrams ou gompas para apurar a sua formação espiritual; 

14. Colocaram-se inteiramente a serviço das Hierarquias para servir na linha-de-frente da transição planetária.

15. Foram autores prolíficos de dezenas de obras densas e inspiradas destinadas a orientar sobre as Tradições espirituais e o futuro planetário.

Naturalmente muitos destes traços também estão presentes nas biografias de outros tantos grandes buscadores do Espírito, em termos de precocidade, dedicação, desprendimento e determinação. A ideia de alguém ser escolhido pela Espiritualidade para transmitir um conhecimento é muito antiga, sendo a base de todas as religiões e um sem número de cultos. Não obstante existe uma gradação de missões neste quadro, as quais também estão diretamente relacionadas com a preparação que o próprio mensageiro realiza com esta finalidade. Neste sentido LAWS realizou um percurso iniciático perfeitamente regular -e em todos os sentidos do termo-, começando muito cedo a frequentar ashrams espirituais, e atravessando depois sucessivas iniciações, baseadas especialmente em técnicas iogues. Comparativamente HPB frequentou sobretudo sociedades de teor espírita e ritualística ao longo da sua vida.

Seria até muito fácil pretender à primeira vista com isto que LAWS seja uma “reencarnação” de HPB, como de fato muitos tenderiam a fazê-lo (considerando inclusive que várias pessoas bem menos qualificadas tem pretendido tal condição), não fosse por algumas questões específicas relativas à natureza e à própria missão de cada qual. Neste caso seria mais adequado falar em termos estritamente espirituais de analogias e de arquétipos, daí o termo “gêmeos espirituais” escolhido, como uma espécie de hierogamia portanto. O principal elo pessoal que se poderia tecer neste caso estaria no próprio anúncio de Blavatsky quanto à vinda de um sucessor seu “melhor qualificado” em termos espirituais dentro de um século aproximadamente, para dar prosseguimento às revelações da Doutrina Secreta. Citemos:

“No (final do) século XX um discípulo melhor informado, e com qualidades mui superiores, deverá ser enviado pelos Mestres de Sabedoria, para dar as provas finais e irrefutáveis de que existe uma Ciência Secreta chamada Gupta-Vidya, fonte de todas as religiões e filosofias.” (Helena P. Blavatsky, “A Doutrina Secreta”, Vol. I, Introdução)

É mais do que notório afinal que as simetrias observadas em todo este quadro são perfeitamente autênticas, naturais e espontâneas, de modo que não existe qualquer intenção de tentar forçar a situação para se criar falsas semelhanças, obedecendo antes a certos arquétipos espirituais tradicionais, nutridos pelas urgências e pelas potencialidades desta transição planetária, e corroborados acima de tudo pelo próprio teor dos frutos do trabalho de ambos os servidores.


Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Na última década vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.


A Doutrina Secreta sem Véus

por Luís A. W. Salvi *

São bastante conhecidas as “curiosas” explanações de Helena P. Blavatsky sobre as raças e outros ciclos da humanidade, ora desafiando a Ciência e outras vezes também confirmando-a. É certo que tudo isto é muito misterioso, e a autora da Doutrina Secreta sequer fez questão de entregar muitas chaves em respeito ao sigilo tradicional do Oriente, além de se tratar de matéria nova para ela mesma. Acontece que Blavatsky carregou o ônus e o bônus de ser uma pioneira e de divulgar conhecimentos exóticos que nem mesmo o próprio Oriente já compreende muito bem dada a sua antiguidade e mistério.

De sorte que não há novidade em afirmar que a Doutrina Secreta de Blavatsky é uma obra difícil, abundante de enigmas com senhas secretas no dizer da própria autora. Não se trata afinal de um conhecimento comum, havendo um grande número de desafios para destrinchá-lo devidamente.

O propósito do presente estudo é oferecer uma explicação sumária e didática para a chamada “cronologia esotérica” da Doutrina Secreta” à luz das Filosofias do Tempo do Hinduísmo, em termos de raças e de rondas mundiais, demonstrando também a situação atual de transição planetária; incluindo certas retificações necessárias, apesar de não avançarmos nesta ocasião para a completa decifração desta exótica “cronologia” mas apenas esclarecendo sobre a sua natureza e informando sobre certas alternativas tradicionais também existentes dentro das mesmas doutrinas.

De sorte que na presente abordagem estaremos tratando com certos números que podem soar exagerados para a mentalidade científica, e uma das razões disto é porque boa parte da doutrina oriental do Manvantara está protegida por sigilos. A causa específica para tal é porque o corpo geral das informações desta doutrina é tão completo e avançado, que não restou outra solução do que resguardar os seus segredos do vulgo para não pôr em riscos os Planos de evolução planetária nela contidos, mais ainda do que as questões individuais que também favorece, as quais na verdade também busca integrar ao todo por se tratar da verdadeira iniciação solar (como demonstra a condição Agnishwatta), quando o iniciado deve participar ativamente dos objetivos dos grandes Guias planetários. Ainda assim algumas indicações de chaves serão dadas no decurso deste estudo, apesar de não ser o seu intuito desvendar completamente o tema, antes manter as análises dentro dos parâmetros oferecidos pela própria Doutrina Secreta de HPB.

Basicamente, convém observar que existem duas versões do Manvantara, abaixo relacionadas e qualificadas (maiores detalhes serão dados na sequência):

“Versão longa”: 4,32 milhões de anos ...... exotérica

“Versão breve”: 12 mil anos ………...….. esotérica

Desde já afirmamos pois que boa parte das dificuldades existentes, deve-se ao hábito dos orientais jogarem com a magia do tempo, elaborando calendários específicos para os diferentes tipos de consciência em evolução sobre a face do nosso planeta.  

1. As Estâncias de Dzyan 

A Doutrina Secreta representa um esforço para interpretar o misterioso manuscrito chamado por Blavatsky de “Estâncias de Dzyan”, porém indo além. É importante observar que a autora mesma admite que existem diferentes formas de interpretar estas Estâncias, através dos vários ciclos de comentários existentes. Não obstante Blavatsky mesma termina por recorrer a uma linguagem bastante cifrada, julgando tratar-se também da mais esotérica, quando na realidade as coisas podem até nem corresponder, uma vez que os chamados “Mistérios” muitas vezes estão velados com diferentes chaves. 

Hoje sabemos muitas coisas mais sobre as Estâncias de Dzyan, como sua origem e contexto histórico, permitindo saber que nem tudo era como foi apresentado então, em termo das suas origens históricas, ao lado de uma abordagem peculiar mais próxima do mito que da própria Ciência.

De modo que existem outras dimensões da Teosofia ocultas em leituras mais apuradas dos grandes mistérios da Doutrina Secreta e das Estâncias de Dzyan.

2. Desvendando a Doutrina Secreta

A Doutrina Secreta tem sido como uma floresta fechada onde não entra quase luz, porém os atuais estudos estão transformando este quadro. Uma das coisas que mais confundem o estudante é o fato de não se conhecer claramente a natureza da informação oferecida, fora daquele vago contexto místico apresentado pela citada obra. 

Cabe dizer então que as principais fontes de Blavatsky para interpretar as Estâncias de Dzyan possuem um teor místico ou exotérico, organizado com véus por se tratar de uma literatura religiosa popular que são os célebres Puranas da Índia. Outras obras importantes para isto são de teor evolucionista e que Blavatsky apreciava contestar, vindo a conceber porém uma teoria própria mista de evolucionismo e de espiritualidade para as raças, inspirada em mitos e na meta-ciência.

Há varias maneiras de dissimular a informação espiritual. O conhecimento tântrico é dito esotérico porque é cifrado com símbolos, e suas chaves são passadas de boca a ouvido. Porém interpretações como a dos Puranas são exotéricas e igualmente veladas, porém sob a forma de histórias populares. 

E assim, um estudo mais detido sobre as informações teosofistas deixam bastante claro que a base de trabalho de toda a sua “cronologia esotérica” é a Filosofia do Manvantara empregada pelos hindus, especialmente numa dada versão dilatada (e um tanto simbólica) de tempo chamada de “tempo humano” pelos orientais, e que é aquela mais conhecida presente nesta literatura popular.

Passemos porém para alguns exemplos objetivos, devidamente ilustrados aqui, lembrando que o presente estudo é apenas preliminar e envolve somente dados trazidos pela Doutrina Secreta, sem um esforço maior de “traduzir” estes dados para uma linguagem científica (o que fazemos em outros trabalhos), mas limitando-nos a buscar explicar a origem e os contextos destas primeiras informações, visando localizar o estudante dentro da cronologia teosofista através de algumas poucas questões pontuais. Em nossa "Doutrina Secreta Revelada" -que é uma espécie de revisão e de explicação sistemática da Doutrina Secreta de Blavatsky- avançamos também para um estudo dos ciclos em termos científicos e esotéricos, explicando os verdadeiros mistérios do Manvantara e de sua contraparte cósmica, o Pralaya.

É importante pois estabelecer de antemão que as Estâncias de Dzyan trabalham com diferentes ciclos e sub-ciclos, uma vez que se trata de um segmento do Kalachakratantra ou da “Roda do Tempo”. E isto vai além das divisões convencionais do Manvantara em termos de Yugas, para incluir também raças e Eras astrológicas. 

a. As raças do Pralaya

Passando por alto então as grandes questões relativas à natureza das rondas (tema ao qual retornaremos depois), cabe fixar que as três primeiras raças integram um Pralaya ou Noite de Brahma, o que explica em parte o seu caráter misterioso. Neste aspecto, as vagas descrições das humanidades destes ciclos trazidos pelas Estâncias de Dzyan tendem a combinar ou sintetizar os sub-ciclos já mencionados que evoluem em paralelo. Na verdade os termos que este tantra emprega para designá-los, como “iogues”, “suor” e “Hansa”, corresponderiam em função disto a conhecidas iniciações espirituais e a ashramas védicos (que são as etapas de estudante, casado, instrutor e renunciante), e de teor coletivo neste caso.

No diagrama abaixo temos a metade noturna do Kalpa -ou o Pralaya-, apenas com divisões de raças e de yugas. A divisão sugerida em cinco raças (a primeira estando na base e sendo de transição) segue o padrão universal das mandalas presente também nas Estâncias de Dzyan, ainda que o seu correto entendimento, juntamente com as Eras astrológicas, já dependa de um outro padrão de cronologia. 

O tema assinala ademais a divisão sofrida em meados da raça lemuriana pela organização de Shambhala. Podemos dizer que as duas metades da raça Lemuriana correspondem à transformação dos Manasaputras em Agnishwattas, ou seja: de iniciados potenciais em iniciados reais, através do domínio da energia Fohat ou de Agnimanas. Este é o verdadeiro contexto da terceira iniciação ou do grau Hansa, “cisne” em sânscrito, mencionado nas descrições desta “raça” pelas Estâncias de Dzyan. A segunda parte da Lemúria representa a transição do Pralaya integrando já de certa forma o próprio Manvanvantara.

A Doutrina Secreta não oferece datas para as raças do Pralaya, e quando busca datar Shambhala os valores são claramente excessivos, como veremos mais ao final deste estudo.

b. As raças do Manvantara

As raças do Manvantara já permitem certo aprofundamento do assunto na medida em que Blavatsky oferece números para avaliá-las, permitindo se começar a conhecer as referências cronológicas da Doutrina Secreta -ainda que os dados terminem por serem em parte comprometidos por um emaranhado de informações mais ou menos desconexas que HPB tentou sintetizar.

Assim, reunindo uma linha mais ou menos conhecida de informações do Oriente e outras mais esotéricas provenientes de seus próprios Mestres, Blavatsky haverá de ter tecido o seguinte raciocínio. Estamos no Kali Yuga faz cinco mil anos, assinalando também o começo da raça arya na ocasião da morte de Krishna, e portanto o final da raça atlante. Como o Kali Yuga encerra o Manvantara, estamos portanto no final deste Dia de Brahma, que possui 4,32 milhões de anos. Se a raça atlante abriu a ronda atual -que é o presente Manvantara-, então esta raça também deve ter começado há uns quatro milhões de anos. 

Tal raciocínio reúne porém erros e acertos, incluindo certas premissas orientais equivocadas. É impróprio imaginar que o Kali Yuga de Krishna pertença aos Yugas do Manvantara, quando na verdade pertence ao final de uma Era racial de cinco mil anos -Blavatsky mesmo afirmou que as raças estão divididas pelas Idades Metálicas. Trata-se enfim das várias “rodas” de tempo de que falam as Estâncias de Dzyan, como é próprio de um tantra Kalachakra, e que são basicamente a “Grande Roda” do Kalpa (Pralaya e Manvantara) e a "Pequena Roda” da Era solar ou racial (não confundir com os registros breve e extenso -ou esotérico e exotérico- do próprio Manvantara). 

E neste caso a perfeita identificação das suas grandezas, tal como as particularidades das linguagens específicas de cada informação -por vezes embaralhadas já na sua “raiz” (digamos assim)-, não pode ser plenamente alcançada por HPB -o que tampouco é algo para se envergonhar considerando tratar-se a questão de um verdadeiro labirinto, e Blavatsky ainda teve o mérito de avançar para novas sínteses adequadas.

Tratemos então de classificar estes itens para efeitos de maior clareza:

a. O Kali Yuga começou há cinco mil anos com a morte de Krishna: errado.

b. Termina também ali a raça atlante e inicia a raça arya: correto.

c. A raça atlante inaugurou a ronda ou Manvantara atual: correto.

d. O Kali Yuga encerra o Manvantara: impróprio.

e. Por decorrência a raça atlante ocupou vários Yugas: errado.

Assim, a datação de HPB estaria perfeitamente correta para a abertura atlante -ressalvando se tratar de aqui de “anos humanos” simbólicos -mas não as suas conclusões. Blavatsky chega a estimar que a raça atlante deve ter perdurado também sozinha por “4 ou 5 milhões de anos”, imaginando que o fato seja corroborado por Platão para quem a Atlântida terminou de sucumbir faz apenas faz 11,5 mil anos. 

A tentativa de compatibilizar os dados hindus com os de Platão tampouco é possível, porque se está com isto alimentando uma confusão entre padrões de tempo absolutamente distintos, confusão esta que já é herdada do próprio Oriente, e que na pena de Blavatsky de certa forma também se acirra. Tal associação é inviável por se tratar de cronologias distintas -mesmo porque as medidas propostas já ocupariam toda a extensão do Manvantara. A “contagem longa” do Manvantara seria uma invenção medieval para ocultar o verdadeiro conhecimento, não passando na prática de uma abstração matemática criada pela operação do valor 360 para simbolizar o mundo do samsara

Como vemos no diagrama abaixo relativo ao arco diurno do Kalpa -isto é: ao Manvantara-, o período da raça atlante é equivalente ao Satya Yuga ou a Idade de Ouro, o que corresponde a 1.728.000 anos “humanos”.

Existe também na Doutrina Secreta uma mensuração para a raça arya, em termos de 1,5 milhões de anos no total. Vemos então que esta raça coincide em parte com o Treta Yuga ou a Idade de Prata, a qual é com efeito uma idade aristocrática como a raça arya. A extensão deste yuga é de 1.296.000 anos “humanos”.

Nas Estâncias de Dzyan a evolução é encerrada na prática nesta quinta raça (descrita como aquela dos “Reis divinos”), apesar de Blavatsky haver cogitado até sete raças-raízes, levando a imaginar assim que os prazos da evolução do mundo são maiores do que realmente são. Na verdade aquilo que resta é apenas a transição da ronda, na qual não cabe sequer uma raça completa.

c. As Quatro Rondas

Existe outra data importante, muito conhecida e peculiar da Doutrina Secreta, supostamente relacionada à Shambhala ou mais exatamente à chegada de Sanat Kumara. Esta data é em torno de 18 milhões de anos, com pequenas variantes. Contudo haveria que reconsiderar as interpretações dadas a este período. Senão vejamos.

Sanat Kumara é dito haver chegado "em meados do período da Lemúria" (ver o primeiro mapa de acima), e isto está ainda muitíssimo próximo da Atlântida, tornando assim a afirmação incoerente. Na verdade este momento-Shambhala ainda corresponderia ao período de transição para o Manvantara que Blavatsky chama de “lemuro-atlanteano”, assim como à datação ampliada que a autora confere à Atlântida entre “4 ou 5 milhões de anos atrás”. 

Assim, se cada ronda ocupa 4,32 milhões de anos e um Kalpa completo tem o dobro disto (reunindo os seus Pralaya e Manvantara), a soma em questão reúne pois dois Kalpas completos.

Ora temos aqui então dados muito familiares também da “cronologia esotérica”, como são as idéias do atual “segundo solar” e da atual “quarta ronda planetária” comumente citados nos ensinamentos ocultistas, abaixo.

Em suma, a data em questão trataria não exatamente de Sanat Kumara, mas sim do primeiro dos quatro Kumaras chamado Sanaka, “o Antigo”. É claro que isto ainda não nos permite avaliar a evolução humana objetivamente, uma vez que até mesmo a evolução dos hominídeos mal alcança quatro milhões de anos. Para fazer conexões humanas será preciso converter esta cronologia extensa e simbólica numa outra científica. E com isto vemos que a data trata-se na verdade daquilo que a Ciência chama de “Revolução Cognitiva” que dá origem ao homo sapiens -ainda que a verdadeira compreensão deste contexto já requeira a “tradução” dos números simbólicos ou exotéricos da Doutrina Secreta nos termos da cronologia científica.

O estudante também poderá considerar curiosa está equiparação entre o Kalpa e o sistema solar, acontece porém que estamos no campo da astrologia onde a linguagem simbólica é algo comum. Além disto existe todo um léxico cosmológico que é particular da moderna Teosofia.

Quando convertemos os dados em questão num padrão científico de tempo muitos outros aspectos da evolução e dos próprios mistérios vem então à luz para testemunhar quão grande é universal era a Sabedoria dos Antigos. Tais chaves são tradicionais no Hinduísmo e estão presentes também na literatura teosófica, porém, e a exemplo de muitos orientais, os teósofos tampouco têm buscado empregá-las.

Sabidamente a data em questão também costuma ser vista na Teosofia como indicando a “origem da humanidade”, o que por si só sugere não poder ter relação portanto com Sanat, mas sim com o Kumara primordial, o qual até poderia ser não obstante -e dentro de uma simples visão especulativa- uma encarnação anterior do próprio Sanat Kumara. Ao se transpor os números para valores científicos ou racionais, descobrimos que na realidade a cifra indica um momento especial da evolução humana que a Ciência indica como “a Revolução cognitiva” que inaugura a existência do chamado “homem moderno”. Se isto servir de referência, foram encontradas ferramentas de caça e talvez de guerra muito anteriores a ela, mas todos os registros artísticos -e estamos falando em cerca de 40 mil anos neste caso- se enquadram dentro deste seu novo período de evolução…

O verdadeiro iniciado trabalha com a realidade objetiva em colaboração com os planos da Hierarquia, alcançando desta forma atuar num tempo central ou superiormente qualificado. Um dos aspectos de maya é que as pessoas podem ocupar o mesmo espaço aparente mas viver em diferentes dimensões -sendo esta em última análise a razão pela qual Shambhala é invisível e inacessível ao profano-, refletidas também em cronologias próprias.

E ao contrário do que imagina o leigo, o tempo largo do samsara não é espiritual e sim material, posto que a iniciação concentra a energia do tempo. Somente o homem comum vive no tempo linear contado em décadas. O iniciado vive um tempo geométrico que corresponde a séculos e o iluminado está num tempo exponencial que cobre milênios. A sabedoria hindu simplifica as coisas em termos de tempo central e tempo periférico, numa espécie de dualidade quântica de matéria e espírito.

d. O final do Kalpa

Mencionamos já que o cânone racial envolve rigorosamente apenas cinco raças. A própria matemática do Kalpa não admitiria uma efetiva divisão setenária, como fica claro quando se trabalha com o “tempo divino” -e científico- do Manvantara.  

Podemos observar também que o momento atual é exatamente simétrico àquele da instalação de Shambhala por Sanat Kumara no final da ronda anterior, abaixo.

Acontece então que já nos encontramos no final da atual ronda planetária e começando a viver aquela que será muito provavelmente a mais importante transição que a humanidade já atravessou. E no entanto milhares de pessoas seguem adormecidas num tempo irreal e empregando recursos espirituais defasados, em função do desconhecimento do verdadeiro tempo da evolução e das autênticas técnicas esotéricas raciais. O místico vive daí num estado onírico desconectado da realidade espiritual maior, o que pode ser muito inconveniente no atual momento planetário de grandes renovações. No Oriente esta ideia tornou-se até literal, através do conceito “tempo humano” do samsara ou da matéria, que é aquele empregado na literatura devocional hindu e que a Doutrina Secreta também faz uso na sua “cronologia”. 

O estudante poderá estranhar que os devotos sejam destinados a um tempo material, quando sabemos que eles buscam continuamente os mundos espirituais. De fato existe aqui uma fina ironia da parte dos criadores do sistema, situados como estavam num plano mais elevado. Existe lógica afinal pensar que se alguém ainda busca de tal forma o céu, é apenas porque ele ainda está profundamente mergulhado na terra. A perspectiva dos mentores do sistema é portanto aquela da liberação, moksha, quando já não existe uma diferença significativa entre samsara e nirvana, e tal como vem a ser o verdadeiro dharma racial áryo da condição dos manasaputras

Quando um texto esotérico fala em manas ou “mente”, ele não está preocupado com questões mais rudimentares como inteligência vulgar ou pensamento comuns, e sim com a capacidade de empregar a mente no próprio esoterismo. Por isto o místico que almeja anular o pensamento ao invés de redirecioná-lo também entra na categoria amanasa ou “sem-mente”, e que resulta quase uma espécie de adharma da mesma forma. O ocultismo não é afinal uma prática contemplativa, e sim internamente pró-ativa.

Eis que na esteira do Orientalismo os ocidentais tem importado toda uma vasta bagagem atávica de mística contemplativa pisciana, como se isto por si só pudesse representar algum avanço significativo em relação àquilo que já se tem no próprio Ocidente...

Mas então perguntamos: é mesmo apenas isto que as pessoas desejam para si?! Muitos certamente o fazem, porém uma sabedoria viva os inspiraria ao menos a organizar as camadas de conhecimentos dentro das suas sociedades. 

As Estâncias de Dzyan não foram dadas como um simples documento sobre a “evolução” humana, e sim como um importante instrumento para a transição planetária, assinalando as ferramentas necessárias para tal -afinal as analogias entre a Lemúria e a Aryavartha são amplas- e até denunciando os amanasas que dominam no decurso da evolução e que no frigir dos ovos obriga os Construtores a separar o joio do  trigo...

Contudo este quadro pode mudar. E esta é uma oportunidade única para que a Teosofia possa desvendar os seus segredos mais íntimos, em termos de saberes originais sobretudo na Doutrina Secreta. Nossas apresentações representam uma oportunidade excepcional para o final esclarecimento das coisas, porque sem isto a humanidade dificilmente teria acesso a todas estas preciosas verdades ocultas sobre as doutrinas esotéricas que Blavatsky veio divulgar.


* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Na última década vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.



O Tempo Divino e a Merkabah planetária

por Luís A. W. Salvi *

Existe um grande mistério nas Filosofias do Tempo do Hinduísmo -e porque não dizer da própria Antiguidade em geral- que é o conceito de “Tempo Divino”, tido comumente como algo misterioso (pese a sua aparente familiaridade), contraposto a um “Tempo Humano” muitíssimo mais dilatado. No Oriente se acredita que o ser humano vive num Tempo Humano material imenso e raramente alguém questiona esta terrível situação, imaginando que o Tempo Divino lhe seja inacessível.

Esta profunda ideia tem desconcertado o investigador ocidental e desafiado até mesmo o próprio usuário oriental, afinal vivemos em toda parte tempos que parecem estar muito distantes do sagrado. Com efeito estamos na atualidade muito afastados de qualquer forma de Idade de Ouro que pudesse inspirar alguma atmosfera de verdadeira perfeição. E ainda assim a cultura e a própria Civilização representam dádivas semelhante à benção de receber a própria vida dos nossos pais, sendo que depois já é responsabilidade de cada um fazer aquilo que se quer, e mesmo assim a orientação segue sendo sempre oferecida pelos nossos Protetores. 

Acontece que apesar da fase atual do mundo, ainda assim a humanidade tem sido contemplada com grandes benesses, especialmente quando aceita ser orientada por Seres especialmente enviados para lhe ensinar formas mais elevadas de viver sobre este planeta. Considerando a grande evolução destes seres e seus conhecimentos excepcionais, seguir os seus ensinamentos pode equivaler a penetrar numa verdadeira cápsula do tempo para atravessar éons completos em poucas etapas de existência, pois é mais ou menos isto que eles mesmos realizam através das suas elevadas iniciações.

Cada Mestre vive numa espécie de temporalidade excepcional definida pela refinada qualidade de consciência e pela intensidade da energia acrescentada, ainda que a sua condição de renunciante do Nirvana e o fato de usar um veículo mayavi-rupa com limitações dificulte uma percepção mais clara da sua exaltada condição. Este sacrifício pessoal aparente do Tempo Divino da Hierarquia é realizado como uma expiação especial em prol da humanidade, como uma espécie de diluição de um néctar divino num poço contaminado. 

Este Tempo Divino sob o qual a humanidade está evoluindo sem mal saber, corresponde a uma espécie de redoma protetora contra todo um conjunto de energias negativas que de outra forma poderiam atingir diretamente o planeta, mas que fica afastada em função das energias continuamente geradas pela própria iluminação dos iniciados e da sabedoria aplicada da Hierarquia geração após geração. Esta redoma inclusive estava representada muitas vezes nas antigas Cosmologias, em alusão à proteção fornecida pela cultura espiritual ou religiosa a uma dado sociedade.

Acontece também que a própria ideia original da Civilização está relacionada ao conceito de “iniciação coletiva”, diretamente vinculado à questão das “raças-raízes”. Para a Hierarquia a Civilização atual deve ser uma projeção social dos conhecimentos espirituais das Escolas de Iniciação, as quais foram primeiramente desenvolvidas no período atlante como células internas para depois serem socializadas no período áryo de civilização, como deixam claro muitos dos antigos conceitos sociais amparados na cultura e na própria espiritualidade.

O Projeto-Humanidade -ou da Humana Existência- representa algo muito maior do que os próprios seres humanos costumam imaginar, pois envolve um curso evolutivo de dezenas de milhares de anos culminando numa liberação progressiva dos seres diante das forças ocultas ou manifestas da Natureza. O ambiente evolutivo da humanidade é por isto também muito mais complexo do que geralmente se estima, contando com poderosas forças subjetivas, sociais e culturais que podem moldar facilmente o seu destino à revelia do seu próprio desejo e do melhor aproveitamento das coisas, perante aquelas raras e preciosas oportunidades que o universo coloca ao seu alcance. 

Pois a grande realidade é que, e ao contrário daquilo que a Ciência profana costuma imaginar, para a espécie humana as outras espécies ditas inferiores e mesmo as condições ambientais, nunca foram os únicos e nem os maiores desafios existentes nos caminhos humanos. E sim o conjunto de questões abertas pelos próprios potenciais dos seres conscientes de modificar a Natureza não apenas exterior mas também interna das espécies, a começar pela sua própria, através do desenvolvimento das complexidades da cultura humana, que é um conceito sujeito a grandes experimentações através dos éons, para bem ou para mal, e na direção das maiores montanhas celestiais ou dos maiores abismos infernais, capazes de produzir movimentos de redenção e de perdição, com criação e destruição de mundos -situações que o ser humano médio tende a ignorar, mas que ainda assim acham-se muito mais próximas do que se costuma acreditar, e que sempre se mostram pelos efeitos das suas próprias iniciativas.

Ainda assim não podemos dizer que o ser humano seja um simples “joguete do destino”, porque sempre lhe são dadas opções. Naturalmente o surgimento das forças da luz é que realmente abriram tal opção, pois até então ele penou muito sob a opressão dos poderes trevosos e encadeantes que amiúde lhe perseguiram, seja através daqueles que desenvolveram poderes psíquicos tenebrosos, mortais e apavorantes, ou face às forças políticas organizadas capazes de oprimir aqueles que lhes sejam levemente diferentes -e inclusive ambas estas potências reunidas!-, tal como seguem fazendo ainda hoje, mas não mais como uma potestade única diante do universo externo ou interno, uma vez que muito mal e opressão tem sido já reduzidos de fato ou afastados em função das iniciativas das forças da luz.

A companhia da Hierarquia fornece todo um instrumental especial de recursos para a humanidade poder atravessar a existência de uma forma criativa e produtiva, evitando as muitas armadilhas que poderá encontrar no caminho geradas pelas complexidades de sua própria condição de entidade consciente, onde amiúde surgem desafios produzidos por seu próprio mundo interior sujeito à força dos elementos, tal como do convívio com seus semelhantes e que tampouco costuma representar uma provação menor. Mesmo quando decida reagir ao mal exterior o ser humano ainda tende a sucumbir ao mal interno pela impulsividade ou pela ingenuidade, daí a importância das forças especializadas e realmente experientes nos verdadeiros caminhos da Realidade cósmica: somente os Vitoriosos podem auxiliar na conquista da Vitória de todos.

Tempo é energia e energia é tempo. Para controlar o tempo não basta reajustar um calendário ou buscar experiências artificiais de consciência. É preciso investir fortemente na própria iniciação e na definitiva iluminação, dando os passos necessários para isto, inclusive sob a devida inserção social. Certamente tal coisa pode dar trabalho mas é para isto também que existem os Orientadores a fim de permitir o máximo de aproveitamento no prazo mais breve possível, do contrário mesmo que alguém se esforce espiritualmente ela pode terminar permanecendo ainda em alguma das camadas do Samsara como tão bem observam os budistas.

O Tempo Divino não é alguma cronologia quantitativamente misteriosa, pois o seu verdadeiro mistério é simplesmente qualitativo. É mais ou menos como na distinção que se busca fazer entre Kairos e Kronos em termos de tempo qualitativo e tempo quantitativo respectivamente. As medidas do Tempo Divino são as naturais, porém para que o seu conteúdo superior seja alcançado é preciso trabalhar com a Hierarquia ou alcançar a própria iluminação. De outra forma este tempo poderá estar sendo profanado, por mais que alguém se esforce de forma independente nos caminhos espirituais, porque sem uma guia segura nestas matérias as práticas quase certamente serão reduzidas e os conceitos estarão distorcidos, dado o seu próprio refinanciamento e elevação.

Não obstante em maior escala se trata de uma realidade que é alcançada através da aceitação das dádivas da Hierarquia. Para que a humanidade possa dar grandes saltos na sua evolução basta que ela reconheça o seu estágio médio ainda primário de evolução e conceda aos Mestres o devido lugar de conselho e de orientação na economia espiritual do mundo.

Pois a humanidade também vive e evolui dentro desta grande Câmara de Iniciação que é a própria Merkabah planetária atestada pelas profecias, cujas rodas são os próprios ciclos da formação humana, cujos guardiães alados são os anjos protetores e cujos guias coroados são as Hierarquias capitaneadas pelo excelso Senhor do Mundo entronizado no centro do Carro divino.

Os vários “olhos” que ornam as rodas da Merkabah segundo as profecias, são as sucessivas consciências iluminadas que se desenvolveram, manifestaram e todavia seguem presentes colaborando para que este mundo possa avançar até um Plano de maior plenitude e harmonia. 

Hoje a Carruagem Celeste está com suas quatro grandes rodas praticamente completas e preparando-se para penetrar no Quinto Mundo cósmico onde todo o planeta poderá começar a aurir da verdadeira perfeição que os Mestres gozam em seus mundos próprios.

A Era de Aquarius setenária representa a própria transição “fractal” do ciclo cósmico, e seu símbolo da dupla-onda alude aos tempos paralelos que se começará a viver no decurso da sua evolução, onde grandes crises mundiais deverão conviver então com grandes realizações espirituais.

Existe um grande abismo entre o passado da humanidade e o seu futuro que apenas poderá ser transposto sobre os ombros dos Iluminados. Este abismo está simbolizado pelo Tempo Humano -é a natureza da cronologia que Blavatsky emprega na sua Doutrina Secreta- cuja duração é muito maior porque pertence à esfera experimental do erro-e-acerto, que na verdade é infindável e se destina ao caos irremediável. Esta é pois a grande diferença entre o Samsara e o Nirvana.

Tão adversas as pessoas são hoje de uma ideia de “Tempo Divino” que elas chegam a imaginar que o verdadeiro tempo sagrado seria algum outro de imensa extensão, quando a realidade é completamente outra. Quando as Filosofias do Tempo orientais apresentam um modelo cronológico ampliado chamado de “Tempo Humano”, elas estão justamente buscando demonstrar que a existência na matéria representa algo sem fim semelhante a estar perdido num labirinto.

Assim, ao invés de ser expandido o Tempo-energia divino é isto sim concentrado até eclodir no não-tempo da iluminação espiritual, onde se abrem então todo um novo universo de possibilidades para o ser humano através do acesso às “energias livres” do cosmos. A concentração da energia emprega também o domínio dos quatro elementos dentro da sua Hierarquia cosmológica natural, daí o símbolo destes elementos nas hierofanias tradicionais (abaixo).

As grandes Hierarquia atravessaram muito lá atrás esta experiência material e emergiram após muito tempo como algumas de suas mais raras e elevadas florescências, para então assumirem conjuntamente a monumental tarefa de criar um Planeta sagrado às custas de grandes sacrifícios pessoais. A importância deste fato é reconhecido pela Ciência de forma indireta, tal como ela reconhece tantas outras conquistas da espiritualidade universal sem compreender os verdadeiros valores em causa que afinal são mesmo por vezes por demais elevados e transcendentais. Tratar da chamada “Revolução Cognitiva” quando a espécie humana passou a adotar uma série de padrões culturais fundamentais que até hoje encontram-se na base da sua cultura, como civilidade, espiritualidade, estético, regras matrimoniais e táticas de subsistência.

E hoje tudo isto se acha muito perto de começar a alcançar os seus patamares de perfeição, ainda que neste caminho a humanidade também deva conhecer algumas de suas maiores provações. Estas crises cíclicas seriam inerentes ao próprio processo de manifestação e aos esforços do impulso vital de renovação e avanço das coisas. Tais conhecimentos supremos foram antecipados por muitas tradições. E esta é também a grande mensagem que a Teosofia traz hoje para a humanidade ainda que oculta por detrás de muitos véus.


* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Nos últimos doze anos vem direcionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.


A Teosofia Oculta – desvendando a Doutrina Secreta

por Luís A. W. Salvi *

Nenhum segredo está mais bem guardado do que aquele que se imagina revelado, e nenhum cofre é mais seguro do que aquele que se perdeu a chave. Acaso alguém suspeita que a Doutrina Secreta esteja cercada de sigilos? Na sua época Blavatsky deu indicações a respeito. E hoje tem-se todos os motivos para conjeturar tal coisa.

1. A aventura do conhecimento

Para fazer frente ao monumental desafio de interpretar as Estâncias de Dzyan -este precioso tantra Kalachakra que parece manter toda a pureza das suas fontes originais-, a Autora valeu-se dos instrumentos que tinha à mão. HPB não tardou a intuir que os 35 textos exotéricos (ou de divulgação popular) de comentários do Código-Fonte Senzar original, seriam os 36 Puranas existentes na Índia –pois todo Purana trata também de cosmogonia, cosmologia e ciclos cósmicos. Versões do popular Bhagavata Purana já eram conhecidas na Europa há mais de um século a partir das traduções francesas. E desde 1840 havia a célebre versão inglesa de Horace H. Wilson do Vishnu Purana. 

Estas seriam porém apenas as suas bases. De posse dos misteriosos documentos que eram as Estâncias de Dzyan -tão elípticos quanto ricos de indicações esotéricas-, aspirava por manejar aquelas informações como um virtuose a jogar com alguns simples acordes básicos –afinal, sabia-se orientada internamente por seus sábios Mentores-, sob o risco porém de por vezes soar mais como o aprendiz de feiticeiro em suas primeiras lições, ao buscar misturar também tais informações com a Ciência Moderna, com a Mitologia Ocidental, com a Religião e com a própria Filosofia. Aqui entra pois o papel do seu anfitrião oriental T. Subba Row, instando-lhe a manejar com cuidado todas aquelas informações tradicionais da Índia Védica.

À luz dos Livros de Dzyan ela soube da evolução de cinco raças; provavelmente as duas últimas ainda estariam por vir, imaginou, movida por sua arraigada crença de que “o sete é a escala da Natureza”, desconhecendo talvez que os ciclos cósmicos costumam estar completos apenas com cinco divisões, haja vista a natureza das mandalas –adiante voltaremos a esta questão.

Compreendeu também que os acontecimentos da Terceira Raça colocaram um marco na evolução cósmica e da própria humanidade: a partir dali começaria a ronda atual, que seria também um Dia de Brahma. Porém o seu verdadeiro marco seria a Quarta Raça, a Atlante, “a primeira verdadeiramente humana”, declarou ela com imprecisão semântica. As medidas do Manvantara eram conhecidas: 4,3 milhões de anos, dentro daquele “Grande Ano Humano” que os textos orientais costumam descrever. Portanto, o começo da Atlântida também deveria beirar por aí. E tudo isto parecia soar original: ninguém havia jamais determinado os ciclos das raças antigas -ao menos dentro das exóticas cronologias da literatura religiosa oriental.

Mas é então que também entra o aprendiz de feiticeiro, que faz suas misturas temerárias. Ao tentar dar crédito e incluir velhas lendas ocidentais como aquelas de Platão, quis estender literalmente a Atlântida até então, sem saber que estava confundindo modelos distintos de cronologias -misturando as águas de dois oceanos paralelos, e sujeitando-se aos riscos que correm os navegadores ousados nestas turbulentas situações… 

O “Grande Ano Divino” do Manvantara de 12 mil anos, acionado através da Chave Solar de 360 da Cosmologia tântrica (1), lhe soaria como algo por demais “transcendental” para ser considerado. Queria pensar que quanto mais “divino” fosse um ciclo, maior ele também haveria de ser, e que os nossos tempos de Kali Yuga em especial não mereceriam este tipo de enquadramento. O humilde “Grande Ano de Platão” dos gregos não mereceria estar em pé de igualdade com os antigos ciclos orientais, mesmo o Ano Persa de 12 mil anos deveria ser algo mais astronômico. (2) 

E no entanto, Platão –que não era nenhum tolo- também herdou os conhecimentos persas. Um tempo amplo sempre foi sinônimo de samsara e não de nirvana. Um tempo regido pelas Hierarquias necessariamente deveria ser relativamente breve, mesmo atravessando os seus períodos de crise e de renovação. Os ciclos purânicos foram muito mais talhados para ocultar os fatos do que para desvelá-los. O “Tempo Divino” representa uma informação ocultista científica, velada pelo “Tempo Humano” que corresponde a uma energia exotérica religiosa.(3)

Tocaria ainda calcular a raça Árya atual. Esta raça deveria ser então menor, uma vez que a Autora buscava associar os yugas do Manvantara a “raças”, seguindo também certas indicações dadas nas Estâncias de Dzyan. Escreveu ela na Doutrina Secreta sobre a proporção 4-3-2-1 dos ciclos do Manvantara

“A sacralidade do ciclo de 4320, com cifras adicionais, reside no facto de as figuras que o compõem, tomadas separadamente ou unidas em várias combinações, serem todas simbólicas dos maiores mistérios da Natureza. (...) São números nunca errantes, perpetuamente recorrentes, revelando, para quem estuda os segredos da Natureza, um Sistema verdadeiramente divino, um plano inteligente na Cosmogonia, que resulta em divisões cósmicas naturais de tempos, estações, influências invisíveis, fenômenos astronômicos, com sua ação e reação de natureza terrena e até moral; sobre nascimento, morte e crescimento, sobre saúde e doença. Todos estes eventos naturais baseiam-se e dependem de processos cíclicos no próprio Kosmos, produzindo movimentos periódicos que, agindo de fora, afetam a Terra e tudo o que nela vive e respira, de uma extremidade à outra de qualquer Manvantara. Causas e efeitos são esotéricos, exotéricos e endexotéricos,(4)  por assim dizer.” (D.S., Vol. 2, pgs. 73-4).

Os Yugas representam as divisões do Manvantara e do Pralaya. São conhecidas outras divisões para as próprias raças, mais simétricas ou regulares, considerando se tratar de ciclos também diferentes em suas proporções. Tais ciclos antropológicos tendem a ocupar períodos de 5 mil anos. As divisões quaternárias chamam-se às vezes de “Idades Metálicas”, estão relacionadas aos Quatro Elementos e acham-se naturalmente presentes também nas cronologias simétricas ou solares.

Sucede então que o valor 12 (que é a verdadeira base numérica do Manvantara) tem entre os seus divisores o 6, o 4, o 3, o 2 e o 1; porém o valor 5 é um número primo que apenas se divide pela unidade mesma. Por isto também o próprio Ano Cósmico possui duas divisões como valor par (24 ou 26 mil anos) e cinco divisões como valor ímpar (25 mil anos). É claro porém que tais percepções apenas são alcançadas através do emprego da Chave Solar da Cosmologia Oculta.

Sem hesitar, HPB tratou de teorizar também sobre as raças primitivas do Pralaya. Partindo da crença comum de ser a Noite de Brahma literalmente uma “reabsorção do Universo”, concluiu que tais raças deveriam esta evoluindo ainda em planos imateriais. Acaso a própria Ciência não poderia lhe oferecer algum respaldo aqui?! Inspirada em certas teorias exóticas da época, acreditou que os hominídeos seriam “raças primitivas”. Como a evolução das espécies homo tinham também em torno de 4 milhões de anos –uma coincidência com o Manvantara que não deveria ser casual, terá refletido ela, como tampouco seria silogismo tal associação-, provavelmente no Pralaya as raças em formação estariam ainda em outros planos. Eis aqui o apelo da fé, ao qual podemos unicamente crer ou descrer.

Para isto, deveria ainda manejar com o número fornecido de 18 milhões de anos, supostamente da chegada de Sanat Kumara,(5)  marco de origem da humanidade manifestada através dos misteriosos procedimentos de Fohat que imaginou ser responsável pela "condensação da energia" para formar a matéria -invertendo a fórmula de Einstein portanto. Embora esta teoria pareça hoje sem sentido, existe outra fórmula análoga de Blavatsky que soa bastante inspirada, a saber: “Evolução é densificar o sutil e sutilizar o denso”.

Não lhe pareceu então incompatível tal número com aqueles bastante menores das origens atlantes, naturalmente muito próximo aos eventos lemurianos em tela. É fácil ver por outro lado que 18 milhões de anos integram na verdade todas as quatro rondas pelas quais a humanidade já atravessou desde o começo da sua evolução superior (que é outra informação comum na literatura teosofista), e que o Kumara em questão seria então outro, o primeiro deles chamado Sanaka ou “o Antigo”, regente da primeira ronda planetária desta nova evolução humana vinculada às Hierarquias.(6) 

Aplicando a citada Chave Solar ao período em questão, teremos uns 50 mil anos, que é o ciclo em que a humanidade vive a sua “evolução superior” segundo a Ciência Moderna, destacada de sua pré-história primitiva e caótica, a partir da chamada “Revolução Cognitiva” quando o conhecimento realmente amadureceu no seio da humanidade. E é a partir destes dados científicos que a verdadeira doutrina dos ciclos espirituais poderá ser alcançada, ao lançar luzes sobre a evolução das rondas elementais e a autêntica doutrina das raças culturais.  

Certamente vivemos hoje sob um “Tempo Divino” abençoado pelas Hierarquias, no rumo de uma divinização da nossa espécie orientada pelos Mestres, e em prazo muitíssimo inferior àquele que prevê o largo “Tempo Humano” materialista de erros e acertos -ou de “Bem e Mal” nas palavras do Gênesis bíblico.

2. Conclusão

 Assim, a Doutrina Secreta não confessa os seus segredos, mas afirma que eles existem. E que na hora certa poderiam ser conhecidos, através de um esforço heurístico adequado. Um século foi o prazo pedido. (7)  Não seria a hora então de começar a investigar aquilo que realmente existe por detrás dos diferentes véus?!

Nos últimos séculos grande parte daquilo tudo que os Saberes Antigos visavam ocultar em termos de conhecimentos objetivos tem vindo à tona através das diferentes Ciências Modernas, tal como mediante diversas novas fontes de Ensinamentos espirituais, de modo que soa absurdo se pretender seguir ocultando muitas coisas e mais ainda quando sequer se sabe o que está sendo realmente velado.

Pois por detrás de interpretações que ainda tem servido de véu para este rico documento antigo que são as Estâncias de Dzyan, podem se encontrar afinal revelações importante para o momento presente da humanidade e chaves para a superação das crises que assolam o planeta ameaçando o seu devir.

Por tudo isto é verdadeiramente chegada a hora de apresentar um novo estudo atualizado das Estâncias de Dzyan e até realizar uma revisão da Doutrina Secreta a fim de demonstrar que em meio a tantos enigmas e imprecisões, existem também muitas Pérolas de Sabedoria por descobrir e que merecem ser destacadas diante da cultura universal, capazes de atestar com eloquência a unidade tácita e a complementaridade prática entre a Ciência, a Filosofia e a Religião. 

O nosso papel é apenas o de entreabrir uma porta cerrada pelo dogma e pelo mistério ocioso, de modo a encorajar outros para que possam também começar a extrair os tesouros esquecidos de sabedoria que o verdadeiro gênio de Blavatsky depositou em meio às milhares de páginas desafiadoras legadas, mesmo quando alguns conceitos mereçam ser revistos (8) -afinal bem ou mal, este foi um exaustivo trabalho coordenado pelas Hierarquias. 


Notas:

1. Trata-se da Chave chamada Kunji Saurya, no clássico sobre cosmologia Surya Siddhanta, e constando já da versão original do “Glossário Teosófico” de 1892.

2. Segundo HPB os persas também deteriam estes “tempos paralelos”: “(...) o seu ‘Tempo Soberano do Longo Período’ (Zervan Dareghô Hvadâta) dura 12.000 anos, e estes são os 12.000 anos divinos de um Mahayuga, enquanto o Zervan Akarana (Tempo Ilimitado), mencionado por Zaratustra, é o Kâla, fora do espaço e do tempo, de Parabrahm.” (“Glossário Teosófico”, verbete “Yuga”). Ora, Kala pode ser também o próprio tempo comum, “ilimitado” como o samsara, diferente de eterno ou de um “Tempo Soberano” que soa este sim libertador. Correspondem ao que se conhece no Ocidente como o tempo linear e o tempo cíclico, ou em grego Kronos e Kairós.

3. Poucos místicos sabem discernir realmente entre o esotérico, o exotérico e o oculto. Leva-se às vezes vidas para alcançar tais entendimentos profundos, e raras são as Escolas também capacitadas a ensinar da maneira adequada. 

4. Ou endo-exotérico, aquilo que é exterior (endo) ao exotérico, portanto o profano ou material. Trata-se de neologismo criado pela Autora. 

5. Blavatsky associa também este período ao Manu Vaisvavata e ao Avatar Matsya (Peixe). Seria possível ver o arquétipo de Peixes em plena Era de Virgem? O conceito de “enantiodroamia dos opostos” de Heráclito (adaptado por Carl G. Jung) trata da compensação das energias, razão pela qual os avatares teriam o signo oposto ao da Era em questão –tal como demonstrou a astróloga esotérica Ema C. de Mascheville.

6. “Sanat Kumara veio de Vênus”, escreveu Blavatsky, ou antes na Ronda Venusiana (leia-se: quaternária) da Terra, corrigiu Alice A. Bailey; estamos afinal no campo da Astrologia e não da Astronomia.

7. A “profecia” de HPB sobre a vinda de um novo ciclo maior de Ensinamentos da Hierarquia para depois de 1975 encontra-se em diversos locais das suas obras, com destaque para a sua Introdução ao Volume I da Doutrina Secreta. 

8. Considerando todo o colocado aqui e em tantos outros trabalhos nossos ou alheios, torna-se evidente a necessidade de uma revisão profissional e de uma atualização das coisas à luz de tudo o que tem sido descoberto no último século.

* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Na última década vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.