Assim como era proibido olhar de frente para a Medusa sob pena de petrificação da vítima, aquele que estuda a Doutrina Secreta -que é considerada a Obra Maior de Blavatsky- sem os devidos cuidados, também corre o risco de sofrer uma completa e total paralisia mental. Ele fica fascinado, fica assustado, fica por fim decepcionado. E tudo isto é exatamente como uma imobilização. Aliás nada disto parece muito diferente daquele enigma clássico da esfinge que dizia “decifra-me ou devoro-te”. Ou quem sabe as sereias que ameaçavam de naufrágio todo aquele que ousava atravessar a sua inóspita região. Este artigo busca destacar portanto, aqueles sinais que devem nortear os estudos da “Doutrina Secreta” de Helena P. Blavatsky segundo fornecidos pela própria Autora, tal como as consequências de não fazê-lo com a devida atenção.
Mente todo aquele que afirma compreender a Doutrina Secreta nos termos como são dados literalmente, tal como equivoca-se redondamente quem espera que um dia a Ciência venha a confirmar o conjunto das suas colocações, porque mesmo os recorrentes apelos à Ciência ali presentes, soam quase como trampas para no parágrafo seguinte tudo voltar ao terreno nebuloso do mito, do fantástico, do inverossímil enfim. Ilude-se também quem imagina ser possível tomá-la ao pé da letra forçando o entendimento, porque terminará fazendo disto um simples exercício de fé, sendo este um erro comum que muitos cometem, porque esta fé pode não passar mesmo de uma indesejável… paralisia. Perder a razão e a curiosidade é a ultima medida que uma pessoa de bom senso deveria ter diante dos Mistérios.
Acaso a respeitável Autora terá nos deixado de fato sem recursos, diante da sua enigmática obra? Esta é a questão que os verdadeiros interessados no assunto deveriam se fazer, mas que lamentavelmente pouca gente pergunta. Porque nem mesmo a Medusa, sequer a Esfinge e tampouco as sereias deixaram os viajantes sem respostas ou sem defesas -somente os incautos é que caiam em suas armadilhas! Ora quem não sabia afinal ser possível espreitar a Medusa através de um espelho, ou que a Esfinge aceitava uma certa resposta, e que as sereias permitiam o passo daqueles que tapassem os ouvidos ao seu canto hipnótico, ou mesmo a alguém mais ousado como o astuto Ulisses que decidiu escutá-los -para ser o primeiro a conhecer a sua magia a sobreviver-, à condição de ser amarrado ao mastro do navio para não ser tentado a se jogar às águas fatais e devorado? Sempre existe uma resposta, para aquele que tiver habilidade ou coragem suficiente.
A suspensão do julgamento é pedido, sim, não como um ardil ao leitor, para deixá-lo imobilizado, e sim em respeito aos Mistérios. E então cabe por mãos à obra, empregando aquilo que é oferecido como caminho. Será uma tarefa fácil? Ninguém jamais ofereceu facilidades, porque se isto fosse bom tudo já seria entregue pronto. O Mistério existe não para nos imobilizar, e sim como um convite, quem sabe, para modificarmos os rumos da nossa jornada, passando a realizar não mais apenas uma viagem externa mas também interior…
Algo que pode contribuir para o entendimento da natureza sigilosa dos ciclos da evolução está na sua importância para as altas questões espirituais e o próprio trabalho dos Mestres. Qualquer informação mais clara antecipada poderia prejudicar na sua atuação inclusive a partir das próprias forças ocultas negativas. Na vida de Jesus pôde-se observar quantos obstáculos graves ele encontrou desde o seu nascimento mesmo.
Para nós, a grande obra de Blavatsky não necessita ser aceita, refutada ou substituída -ela deve ser sobretudo organizada. Porque a Doutrina Secreta é acima de tudo como uma grande “sopa cósmica” -para tomar emprestada uma expressão consagrada pela moderna Astrofísica- onde todos os elementos do conhecimento estão jogados de forma mais ou menos caótica ou confusa, como uma trama de recursos a serem explorados em prol de uma nova era. Não precisamos ver ali mentiras, engodo ou ilusão. Basta sermos capazes de aceitar que existem nisto sobretudo indícios, sugestões e véus.
Pois aqui tocamos numa palavra que Blavatsky jamais se recusou a repetir e a admitir: o velamento de sua obra. Muita coisa a respeito foi sempre destacada e até em número: sete véus, sete vezes sete, etc. De fato a tarefa pode ser tão complexa que certas coisas podem estar até fora do seu lugar, tudo para enganar o crédulo e despistar aqueles que poderiam fazer mau uso do conhecimento. Por isto a fórmula hermética do VITRIOL trata da importância de retificar as informações simbólicas oferecidas.
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| VITRIOL: o princípio de retificação |
A Autora mesma conhecia exatamente aquilo que estava trazendo? Podemos desejar pensar que sim, mas esta pode até nem ser a resposta completa. Quem sabe também aqui não devamos suspender o julgamento? Afinal quem mexe com véus também pode estar ainda um tanto no escuro. Acaso o carteiro conhece necessariamente o conteúdo daquilo que transporta? Não é verdade que muitas vezes conteúdos importantes são dados para serem transmitidos, não por alguém ser capaz de compreendê-los de todo, mas simplesmente por ser capaz de ser fiel à sua missão como mensageiro?! Talvez os verdadeiros destinatários fossem aqueles do Século ao qual Blavatsky destinou o final reconhecimento da importância e da realidade dos Mistérios Tradicionais, que é este nosso Século XXI?
Falamos aqui de uma “sopa cósmica”. Portanto não podemos esquivar-nos das complexidades. E também invocamos os véus que são amiúde mencionados, até em abundância. Blavatsky dizia que apenas algumas das Chaves estavam acessíveis em sua época e que futuramente novas Chaves seriam dadas. Quantas Ciências e Saberes podemos esperar estar de posse dos Mestres? Esta é uma pergunta que merece reflexão. Para muitos o trabalho de Blavatsky já apontaria claramente nesta direção. Mas quando lembramos dos véus podemos suspeitar que existe ainda muito mais.
No polêmico assunto das raças, por exemplo, podemos dizer que aquele que não possuir um bom estudo de História, Antropologia e de Paleoantropologia, mas também de Religiões e de Espiritualidade, pouco poderá compreender ou avançar nos complexos conhecimentos dos ciclos da Teosofia “racial”. Podendo ser útil também algum conhecimento sobre a Sociologia Antiga.
Enfim, os Mistérios precisam ser investigados, não apenas acreditados ou refutados à ligeira. Esta é a verdadeira atitude do ocultista.
Conclusões
A negação da realidade explícita e declarada dos véus viola as diretrizes dos Ensinamentos ocultistas, demonstrando inaptidão ao trato idôneo do assunto, ao buscar reduzir a matéria a uma crença simplória e injustificável em algo literal, sem sentido ou razão de ser - a chamada “letra morta” enfim, tantas vezes denunciada. O leigo sente-se inseguro diante do desvelamento, porque não sente-se capacitado à investigação das coisas.
Acaso não foi a Sociedade Teosófica mesma que propôs o estudo das Religiões Comparadas como um de seus grandes pilares?! E isto já seria um método para avançar positivamente na hermenêutica dos Mistérios.
Surpreende realmente que até mesmo uma solução universal e auto-evidente incomode!, tal o apego ao fetiche das formas. Contudo, aqui vale a máxima universal de que “é melhor errar agindo do que nada fazer.” Simplesmente porque a imobilidade é sempre o maio erro, e aquele que caminha já começa a ser orientado porque está seguindo os passos dos Mestres. Alguns pretender até arvorar-se de “guardiões da pureza da doutrina”, fiscalizando as eventuais “heresias” que possam aparecer. Eles poderão estar certos ou não com esta conduta. Aquilo que sabemos com certeza porém, é que manter as coisas fechadas e rígidas também é um erro, e talvez até o mais grave de todos. Pois este sim seria um comportamento irregular e impróprio diante dos Mistérios que pedem do verdadeiro estudante investigação e ousadia, e não dogmática e covardia. Até porque diante de um olhar mais atento, pouca coisa costuma restar de qualquer espécie de dogma que possa existir.
A sabedoria comum sempre ensinou que mais importante do que ouvir as palavras de alguém é observar a sua conduta. E isto não vale só para aquilo que a pessoa possa apreciar! Comumente os mestres nos surpreendem e corrigem, afinal para isto eles são mestres. No entanto, os sectários fazem exatamente o contrário. Ignoram completamente o histórico da pessoa e focam na crítica às suas palavras, mesmo sem possuir alguma especialização que permita diagnosticar qualquer tipo de opinião ou análise aparentemente divergente. No entanto poderia valer também aqui a máxima do acolhimento, segundo as palavras de São Paulo:
“Não deixe de receber bem aqueles que vêm à vossa casa; pois alguns que foram hospitaleiros receberam anjos, sem saber.” (Heb 13:2)
Afinal de contas, os esforços comuns do estudante comum de pretender compreender literalmente e até de “provar” as informações dadas ao pé da letra são ingênuas e amadorísticas neste campo.
Encontramo-nos portanto aqui diante de um princípio lapidar contra o qual não é possível tergiversar, ou aquilo que se chama de “questão de ordem” em direito. Assim, alguém que estudou apenas uma escola durante a sua vida é como se jamais tivesse saído de dentro de uma redoma, sem conhecer o contraditório sem o qual não existe a verdadeira ciência das coisas. O leigo sequer se dedica o suficiente ao conhecimento para alcançar aquela visão de contraste que apenas o especialista possui. Porém a questão aqui resultaria ainda mais profunda.
Nunca devemos descartar que o conhecimento dos Mistérios represente um desafio demasiado para a mente comum, uma vez que pode ser ainda mais complexo & completo do que os saberes científicos correntes. Sempre devemos tem em conta neste aspecto, que estes conhecimentos emanam da Mente dos Adeptos, os quais tem acesso a eles a partir da sua iluminação espiritual, a qual gera não apenas acesso a outras Mentes divinas (ou aos Repositórios de Saber Universal chamado Akasha), como também habilita uma capacidade muito maior de raciocínio e de percepção das coisas, dentro de uma espécie de Teoria de Complexidade, porém plenamente coerente e sem contradições.
Diante disto, seguir uma autoridade maior já poderá representar um começo, nem que seja o próprio bom senso. Contudo, o mais importante seria aceitar mesmo a necessidade da reforma do pensamento dentro do caminho da Iniciação, através da adoção de práticas mais avançadas que também deverão acompanhar uma instrução geral mais completa dos Mistérios, sob pena de se terminar meramente aceitando alguma nova versão das coisas sem a segurança de tratar-se da Verdade almejada. Aquele que caminha no Espírito também se abre naturalmente para a transformação das formas de abordá-lo ao permitir-se enxergar novas perspectivas idôneas.
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Sobre o Autor
Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV.
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