A Teosofia em geral tem uma forte influência nos novos ensinamentos, especialmente em suas vertentes históricas centralizadas em Helena P. Blavatsky e sua sucessora espiritual Alice A. Bailey. Porém, dentro das revelações do Plano da Hierarquia, procura-se hoje dar uma cor mais “científica” ao tema, tratando basicamente de retirar os véus remanescentes, além de apurar sínteses e agregar idéias complementares, como seria a questão social e a própria espiritualidade e iniciação. Esta é a origem da “Teosofia Científica”, uma doutrina promissora que trabalha basicamente com a Ciência dos Ciclos. Uma Teosofia Científica reuniria -nada mais e nada menos- que os dois pólos extremos do conhecimento (espiritualidade e ciência), preenchendo daí todo o leque do humano saber.

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O Tempo Divino e a Merkabah planetária

por Luís A. W. Salvi *

Existe um grande mistério nas Filosofias do Tempo do Hinduísmo -e porque não dizer da própria Antiguidade em geral- que é o conceito de “Tempo Divino”, tido comumente como algo misterioso (pese a sua aparente familiaridade), contraposto a um “Tempo Humano” muitíssimo mais dilatado. No Oriente se acredita que o ser humano vive num Tempo Humano material imenso e raramente alguém questiona esta terrível situação, imaginando que o Tempo Divino lhe seja inacessível.

Esta profunda ideia tem desconcertado o investigador ocidental e desafiado até mesmo o próprio usuário oriental, afinal vivemos em toda parte tempos que parecem estar muito distantes do sagrado. Com efeito estamos na atualidade muito afastados de qualquer forma de Idade de Ouro que pudesse inspirar alguma atmosfera de verdadeira perfeição. E ainda assim a cultura e a própria Civilização representam dádivas semelhante à benção de receber a própria vida dos nossos pais, sendo que depois já é responsabilidade de cada um fazer aquilo que se quer, e mesmo assim a orientação segue sendo sempre oferecida pelos nossos Protetores. 

Acontece que apesar da fase atual do mundo, ainda assim a humanidade tem sido contemplada com grandes benesses, especialmente quando aceita ser orientada por Seres especialmente enviados para lhe ensinar formas mais elevadas de viver sobre este planeta. Considerando a grande evolução destes seres e seus conhecimentos excepcionais, seguir os seus ensinamentos pode equivaler a penetrar numa verdadeira cápsula do tempo para atravessar éons completos em poucas etapas de existência, pois é mais ou menos isto que eles mesmos realizam através das suas elevadas iniciações.

Cada Mestre vive numa espécie de temporalidade excepcional definida pela refinada qualidade de consciência e pela intensidade da energia acrescentada, ainda que a sua condição de renunciante do Nirvana e o fato de usar um veículo mayavi-rupa com limitações dificulte uma percepção mais clara da sua exaltada condição. Este sacrifício pessoal aparente do Tempo Divino da Hierarquia é realizado como uma expiação especial em prol da humanidade, como uma espécie de diluição de um néctar divino num poço contaminado. 

Este Tempo Divino sob o qual a humanidade está evoluindo sem mal saber, corresponde a uma espécie de redoma protetora contra todo um conjunto de energias negativas que de outra forma poderiam atingir diretamente o planeta, mas que fica afastada em função das energias continuamente geradas pela própria iluminação dos iniciados e da sabedoria aplicada da Hierarquia geração após geração. Esta redoma inclusive estava representada muitas vezes nas antigas Cosmologias, em alusão à proteção fornecida pela cultura espiritual ou religiosa a uma dado sociedade.

Acontece também que a própria ideia original da Civilização está relacionada ao conceito de “iniciação coletiva”, diretamente vinculado à questão das “raças-raízes”. Para a Hierarquia a Civilização atual deve ser uma projeção social dos conhecimentos espirituais das Escolas de Iniciação, as quais foram primeiramente desenvolvidas no período atlante como células internas para depois serem socializadas no período áryo de civilização, como deixam claro muitos dos antigos conceitos sociais amparados na cultura e na própria espiritualidade.

O Projeto-Humanidade -ou da Humana Existência- representa algo muito maior do que os próprios seres humanos costumam imaginar, pois envolve um curso evolutivo de dezenas de milhares de anos culminando numa liberação progressiva dos seres diante das forças ocultas ou manifestas da Natureza. O ambiente evolutivo da humanidade é por isto também muito mais complexo do que geralmente se estima, contando com poderosas forças subjetivas, sociais e culturais que podem moldar facilmente o seu destino à revelia do seu próprio desejo e do melhor aproveitamento das coisas, perante aquelas raras e preciosas oportunidades que o universo coloca ao seu alcance. 

Pois a grande realidade é que, e ao contrário daquilo que a Ciência profana costuma imaginar, para a espécie humana as outras espécies ditas inferiores e mesmo as condições ambientais, nunca foram os únicos e nem os maiores desafios existentes nos caminhos humanos. E sim o conjunto de questões abertas pelos próprios potenciais dos seres conscientes de modificar a Natureza não apenas exterior mas também interna das espécies, a começar pela sua própria, através do desenvolvimento das complexidades da cultura humana, que é um conceito sujeito a grandes experimentações através dos éons, para bem ou para mal, e na direção das maiores montanhas celestiais ou dos maiores abismos infernais, capazes de produzir movimentos de redenção e de perdição, com criação e destruição de mundos -situações que o ser humano médio tende a ignorar, mas que ainda assim acham-se muito mais próximas do que se costuma acreditar, e que sempre se mostram pelos efeitos das suas próprias iniciativas.

Ainda assim não podemos dizer que o ser humano seja um simples “joguete do destino”, porque sempre lhe são dadas opções. Naturalmente o surgimento das forças da luz é que realmente abriram tal opção, pois até então ele penou muito sob a opressão dos poderes trevosos e encadeantes que amiúde lhe perseguiram, seja através daqueles que desenvolveram poderes psíquicos tenebrosos, mortais e apavorantes, ou face às forças políticas organizadas capazes de oprimir aqueles que lhes sejam levemente diferentes -e inclusive ambas estas potências reunidas!-, tal como seguem fazendo ainda hoje, mas não mais como uma potestade única diante do universo externo ou interno, uma vez que muito mal e opressão tem sido já reduzidos de fato ou afastados em função das iniciativas das forças da luz.

A companhia da Hierarquia fornece todo um instrumental especial de recursos para a humanidade poder atravessar a existência de uma forma criativa e produtiva, evitando as muitas armadilhas que poderá encontrar no caminho geradas pelas complexidades de sua própria condição de entidade consciente, onde amiúde surgem desafios produzidos por seu próprio mundo interior sujeito à força dos elementos, tal como do convívio com seus semelhantes e que tampouco costuma representar uma provação menor. Mesmo quando decida reagir ao mal exterior o ser humano ainda tende a sucumbir ao mal interno pela impulsividade ou pela ingenuidade, daí a importância das forças especializadas e realmente experientes nos verdadeiros caminhos da Realidade cósmica: somente os Vitoriosos podem auxiliar na conquista da Vitória de todos.

Tempo é energia e energia é tempo. Para controlar o tempo não basta reajustar um calendário ou buscar experiências artificiais de consciência. É preciso investir fortemente na própria iniciação e na definitiva iluminação, dando os passos necessários para isto, inclusive sob a devida inserção social. Certamente tal coisa pode dar trabalho mas é para isto também que existem os Orientadores a fim de permitir o máximo de aproveitamento no prazo mais breve possível, do contrário mesmo que alguém se esforce espiritualmente ela pode terminar permanecendo ainda em alguma das camadas do Samsara como tão bem observam os budistas.

O Tempo Divino não é alguma cronologia quantitativamente misteriosa, pois o seu verdadeiro mistério é simplesmente qualitativo. É mais ou menos como na distinção que se busca fazer entre Kairos e Kronos em termos de tempo qualitativo e tempo quantitativo respectivamente. As medidas do Tempo Divino são as naturais, porém para que o seu conteúdo superior seja alcançado é preciso trabalhar com a Hierarquia ou alcançar a própria iluminação. De outra forma este tempo poderá estar sendo profanado, por mais que alguém se esforce de forma independente nos caminhos espirituais, porque sem uma guia segura nestas matérias as práticas quase certamente serão reduzidas e os conceitos estarão distorcidos, dado o seu próprio refinanciamento e elevação.

Não obstante em maior escala se trata de uma realidade que é alcançada através da aceitação das dádivas da Hierarquia. Para que a humanidade possa dar grandes saltos na sua evolução basta que ela reconheça o seu estágio médio ainda primário de evolução e conceda aos Mestres o devido lugar de conselho e de orientação na economia espiritual do mundo.

Pois a humanidade também vive e evolui dentro desta grande Câmara de Iniciação que é a própria Merkabah planetária atestada pelas profecias, cujas rodas são os próprios ciclos da formação humana, cujos guardiães alados são os anjos protetores e cujos guias coroados são as Hierarquias capitaneadas pelo excelso Senhor do Mundo entronizado no centro do Carro divino.

Os vários “olhos” que ornam as rodas da Merkabah segundo as profecias, são as sucessivas consciências iluminadas que se desenvolveram, manifestaram e todavia seguem presentes colaborando para que este mundo possa avançar até um Plano de maior plenitude e harmonia. 

Hoje a Carruagem Celeste está com suas quatro grandes rodas praticamente completas e preparando-se para penetrar no Quinto Mundo cósmico onde todo o planeta poderá começar a aurir da verdadeira perfeição que os Mestres gozam em seus mundos próprios.

A Era de Aquarius setenária representa a própria transição “fractal” do ciclo cósmico, e seu símbolo da dupla-onda alude aos tempos paralelos que se começará a viver no decurso da sua evolução, onde grandes crises mundiais deverão conviver então com grandes realizações espirituais.

Existe um grande abismo entre o passado da humanidade e o seu futuro que apenas poderá ser transposto sobre os ombros dos Iluminados. Este abismo está simbolizado pelo Tempo Humano -é a natureza da cronologia que Blavatsky emprega na sua Doutrina Secreta- cuja duração é muito maior porque pertence à esfera experimental do erro-e-acerto, que na verdade é infindável e se destina ao caos irremediável. Esta é pois a grande diferença entre o Samsara e o Nirvana.

Tão adversas as pessoas são hoje de uma ideia de “Tempo Divino” que elas chegam a imaginar que o verdadeiro tempo sagrado seria algum outro de imensa extensão, quando a realidade é completamente outra. Quando as Filosofias do Tempo orientais apresentam um modelo cronológico ampliado chamado de “Tempo Humano”, elas estão justamente buscando demonstrar que a existência na matéria representa algo sem fim semelhante a estar perdido num labirinto.

Assim, ao invés de ser expandido o Tempo-energia divino é isto sim concentrado até eclodir no não-tempo da iluminação espiritual, onde se abrem então todo um novo universo de possibilidades para o ser humano através do acesso às “energias livres” do cosmos. A concentração da energia emprega também o domínio dos quatro elementos dentro da sua Hierarquia cosmológica natural, daí o símbolo destes elementos nas hierofanias tradicionais (abaixo).

As grandes Hierarquia atravessaram muito lá atrás esta experiência material e emergiram após muito tempo como algumas de suas mais raras e elevadas florescências, para então assumirem conjuntamente a monumental tarefa de criar um Planeta sagrado às custas de grandes sacrifícios pessoais. A importância deste fato é reconhecido pela Ciência de forma indireta, tal como ela reconhece tantas outras conquistas da espiritualidade universal sem compreender os verdadeiros valores em causa que afinal são mesmo por vezes por demais elevados e transcendentais. Tratar da chamada “Revolução Cognitiva” quando a espécie humana passou a adotar uma série de padrões culturais fundamentais que até hoje encontram-se na base da sua cultura, como civilidade, espiritualidade, estético, regras matrimoniais e táticas de subsistência.

E hoje tudo isto se acha muito perto de começar a alcançar os seus patamares de perfeição, ainda que neste caminho a humanidade também deva conhecer algumas de suas maiores provações. Estas crises cíclicas seriam inerentes ao próprio processo de manifestação e aos esforços do impulso vital de renovação e avanço das coisas. Tais conhecimentos supremos foram antecipados por muitas tradições. E esta é também a grande mensagem que a Teosofia traz hoje para a humanidade ainda que oculta por detrás de muitos véus.


* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Nos últimos doze anos vem direcionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.


A Teosofia Oculta – desvendando a Doutrina Secreta

por Luís A. W. Salvi *

Nenhum segredo está mais bem guardado do que aquele que se imagina revelado, e nenhum cofre é mais seguro do que aquele que se perdeu a chave. Acaso alguém suspeita que a Doutrina Secreta esteja cercada de sigilos? Na sua época Blavatsky deu indicações a respeito. E hoje tem-se todos os motivos para conjeturar tal coisa.

1. A aventura do conhecimento

Para fazer frente ao monumental desafio de interpretar as Estâncias de Dzyan -este precioso tantra Kalachakra que parece manter toda a pureza das suas fontes originais-, a Autora valeu-se dos instrumentos que tinha à mão. HPB não tardou a intuir que os 35 textos exotéricos (ou de divulgação popular) de comentários do Código-Fonte Senzar original, seriam os 36 Puranas existentes na Índia –pois todo Purana trata também de cosmogonia, cosmologia e ciclos cósmicos. Versões do popular Bhagavata Purana já eram conhecidas na Europa há mais de um século a partir das traduções francesas. E desde 1840 havia a célebre versão inglesa de Horace H. Wilson do Vishnu Purana. 

Estas seriam porém apenas as suas bases. De posse dos misteriosos documentos que eram as Estâncias de Dzyan -tão elípticos quanto ricos de indicações esotéricas-, aspirava por manejar aquelas informações como um virtuose a jogar com alguns simples acordes básicos –afinal, sabia-se orientada internamente por seus sábios Mentores-, sob o risco porém de por vezes soar mais como o aprendiz de feiticeiro em suas primeiras lições, ao buscar misturar também tais informações com a Ciência Moderna, com a Mitologia Ocidental, com a Religião e com a própria Filosofia. Aqui entra pois o papel do seu anfitrião oriental T. Subba Row, instando-lhe a manejar com cuidado todas aquelas informações tradicionais da Índia Védica.

À luz dos Livros de Dzyan ela soube da evolução de cinco raças; provavelmente as duas últimas ainda estariam por vir, imaginou, movida por sua arraigada crença de que “o sete é a escala da Natureza”, desconhecendo talvez que os ciclos cósmicos costumam estar completos apenas com cinco divisões, haja vista a natureza das mandalas –adiante voltaremos a esta questão.

Compreendeu também que os acontecimentos da Terceira Raça colocaram um marco na evolução cósmica e da própria humanidade: a partir dali começaria a ronda atual, que seria também um Dia de Brahma. Porém o seu verdadeiro marco seria a Quarta Raça, a Atlante, “a primeira verdadeiramente humana”, declarou ela com imprecisão semântica. As medidas do Manvantara eram conhecidas: 4,3 milhões de anos, dentro daquele “Grande Ano Humano” que os textos orientais costumam descrever. Portanto, o começo da Atlântida também deveria beirar por aí. E tudo isto parecia soar original: ninguém havia jamais determinado os ciclos das raças antigas -ao menos dentro das exóticas cronologias da literatura religiosa oriental.

Mas é então que também entra o aprendiz de feiticeiro, que faz suas misturas temerárias. Ao tentar dar crédito e incluir velhas lendas ocidentais como aquelas de Platão, quis estender literalmente a Atlântida até então, sem saber que estava confundindo modelos distintos de cronologias -misturando as águas de dois oceanos paralelos, e sujeitando-se aos riscos que correm os navegadores ousados nestas turbulentas situações… 

O “Grande Ano Divino” do Manvantara de 12 mil anos, acionado através da Chave Solar de 360 da Cosmologia tântrica (1), lhe soaria como algo por demais “transcendental” para ser considerado. Queria pensar que quanto mais “divino” fosse um ciclo, maior ele também haveria de ser, e que os nossos tempos de Kali Yuga em especial não mereceriam este tipo de enquadramento. O humilde “Grande Ano de Platão” dos gregos não mereceria estar em pé de igualdade com os antigos ciclos orientais, mesmo o Ano Persa de 12 mil anos deveria ser algo mais astronômico. (2) 

E no entanto, Platão –que não era nenhum tolo- também herdou os conhecimentos persas. Um tempo amplo sempre foi sinônimo de samsara e não de nirvana. Um tempo regido pelas Hierarquias necessariamente deveria ser relativamente breve, mesmo atravessando os seus períodos de crise e de renovação. Os ciclos purânicos foram muito mais talhados para ocultar os fatos do que para desvelá-los. O “Tempo Divino” representa uma informação ocultista científica, velada pelo “Tempo Humano” que corresponde a uma energia exotérica religiosa.(3)

Tocaria ainda calcular a raça Árya atual. Esta raça deveria ser então menor, uma vez que a Autora buscava associar os yugas do Manvantara a “raças”, seguindo também certas indicações dadas nas Estâncias de Dzyan. Escreveu ela na Doutrina Secreta sobre a proporção 4-3-2-1 dos ciclos do Manvantara

“A sacralidade do ciclo de 4320, com cifras adicionais, reside no facto de as figuras que o compõem, tomadas separadamente ou unidas em várias combinações, serem todas simbólicas dos maiores mistérios da Natureza. (...) São números nunca errantes, perpetuamente recorrentes, revelando, para quem estuda os segredos da Natureza, um Sistema verdadeiramente divino, um plano inteligente na Cosmogonia, que resulta em divisões cósmicas naturais de tempos, estações, influências invisíveis, fenômenos astronômicos, com sua ação e reação de natureza terrena e até moral; sobre nascimento, morte e crescimento, sobre saúde e doença. Todos estes eventos naturais baseiam-se e dependem de processos cíclicos no próprio Kosmos, produzindo movimentos periódicos que, agindo de fora, afetam a Terra e tudo o que nela vive e respira, de uma extremidade à outra de qualquer Manvantara. Causas e efeitos são esotéricos, exotéricos e endexotéricos,(4)  por assim dizer.” (D.S., Vol. 2, pgs. 73-4).

Os Yugas representam as divisões do Manvantara e do Pralaya. São conhecidas outras divisões para as próprias raças, mais simétricas ou regulares, considerando se tratar de ciclos também diferentes em suas proporções. Tais ciclos antropológicos tendem a ocupar períodos de 5 mil anos. As divisões quaternárias chamam-se às vezes de “Idades Metálicas”, estão relacionadas aos Quatro Elementos e acham-se naturalmente presentes também nas cronologias simétricas ou solares.

Sucede então que o valor 12 (que é a verdadeira base numérica do Manvantara) tem entre os seus divisores o 6, o 4, o 3, o 2 e o 1; porém o valor 5 é um número primo que apenas se divide pela unidade mesma. Por isto também o próprio Ano Cósmico possui duas divisões como valor par (24 ou 26 mil anos) e cinco divisões como valor ímpar (25 mil anos). É claro porém que tais percepções apenas são alcançadas através do emprego da Chave Solar da Cosmologia Oculta.

Sem hesitar, HPB tratou de teorizar também sobre as raças primitivas do Pralaya. Partindo da crença comum de ser a Noite de Brahma literalmente uma “reabsorção do Universo”, concluiu que tais raças deveriam esta evoluindo ainda em planos imateriais. Acaso a própria Ciência não poderia lhe oferecer algum respaldo aqui?! Inspirada em certas teorias exóticas da época, acreditou que os hominídeos seriam “raças primitivas”. Como a evolução das espécies homo tinham também em torno de 4 milhões de anos –uma coincidência com o Manvantara que não deveria ser casual, terá refletido ela, como tampouco seria silogismo tal associação-, provavelmente no Pralaya as raças em formação estariam ainda em outros planos. Eis aqui o apelo da fé, ao qual podemos unicamente crer ou descrer.

Para isto, deveria ainda manejar com o número fornecido de 18 milhões de anos, supostamente da chegada de Sanat Kumara,(5)  marco de origem da humanidade manifestada através dos misteriosos procedimentos de Fohat que imaginou ser responsável pela "condensação da energia" para formar a matéria -invertendo a fórmula de Einstein portanto. Embora esta teoria pareça hoje sem sentido, existe outra fórmula análoga de Blavatsky que soa bastante inspirada, a saber: “Evolução é densificar o sutil e sutilizar o denso”.

Não lhe pareceu então incompatível tal número com aqueles bastante menores das origens atlantes, naturalmente muito próximo aos eventos lemurianos em tela. É fácil ver por outro lado que 18 milhões de anos integram na verdade todas as quatro rondas pelas quais a humanidade já atravessou desde o começo da sua evolução superior (que é outra informação comum na literatura teosofista), e que o Kumara em questão seria então outro, o primeiro deles chamado Sanaka ou “o Antigo”, regente da primeira ronda planetária desta nova evolução humana vinculada às Hierarquias.(6) 

Aplicando a citada Chave Solar ao período em questão, teremos uns 50 mil anos, que é o ciclo em que a humanidade vive a sua “evolução superior” segundo a Ciência Moderna, destacada de sua pré-história primitiva e caótica, a partir da chamada “Revolução Cognitiva” quando o conhecimento realmente amadureceu no seio da humanidade. E é a partir destes dados científicos que a verdadeira doutrina dos ciclos espirituais poderá ser alcançada, ao lançar luzes sobre a evolução das rondas elementais e a autêntica doutrina das raças culturais.  

Certamente vivemos hoje sob um “Tempo Divino” abençoado pelas Hierarquias, no rumo de uma divinização da nossa espécie orientada pelos Mestres, e em prazo muitíssimo inferior àquele que prevê o largo “Tempo Humano” materialista de erros e acertos -ou de “Bem e Mal” nas palavras do Gênesis bíblico.

2. Conclusão

 Assim, a Doutrina Secreta não confessa os seus segredos, mas afirma que eles existem. E que na hora certa poderiam ser conhecidos, através de um esforço heurístico adequado. Um século foi o prazo pedido. (7)  Não seria a hora então de começar a investigar aquilo que realmente existe por detrás dos diferentes véus?!

Nos últimos séculos grande parte daquilo tudo que os Saberes Antigos visavam ocultar em termos de conhecimentos objetivos tem vindo à tona através das diferentes Ciências Modernas, tal como mediante diversas novas fontes de Ensinamentos espirituais, de modo que soa absurdo se pretender seguir ocultando muitas coisas e mais ainda quando sequer se sabe o que está sendo realmente velado.

Pois por detrás de interpretações que ainda tem servido de véu para este rico documento antigo que são as Estâncias de Dzyan, podem se encontrar afinal revelações importante para o momento presente da humanidade e chaves para a superação das crises que assolam o planeta ameaçando o seu devir.

Por tudo isto é verdadeiramente chegada a hora de apresentar um novo estudo atualizado das Estâncias de Dzyan e até realizar uma revisão da Doutrina Secreta a fim de demonstrar que em meio a tantos enigmas e imprecisões, existem também muitas Pérolas de Sabedoria por descobrir e que merecem ser destacadas diante da cultura universal, capazes de atestar com eloquência a unidade tácita e a complementaridade prática entre a Ciência, a Filosofia e a Religião. 

O nosso papel é apenas o de entreabrir uma porta cerrada pelo dogma e pelo mistério ocioso, de modo a encorajar outros para que possam também começar a extrair os tesouros esquecidos de sabedoria que o verdadeiro gênio de Blavatsky depositou em meio às milhares de páginas desafiadoras legadas, mesmo quando alguns conceitos mereçam ser revistos (8) -afinal bem ou mal, este foi um exaustivo trabalho coordenado pelas Hierarquias. 


Notas:

1. Trata-se da Chave chamada Kunji Saurya, no clássico sobre cosmologia Surya Siddhanta, e constando já da versão original do “Glossário Teosófico” de 1892.

2. Segundo HPB os persas também deteriam estes “tempos paralelos”: “(...) o seu ‘Tempo Soberano do Longo Período’ (Zervan Dareghô Hvadâta) dura 12.000 anos, e estes são os 12.000 anos divinos de um Mahayuga, enquanto o Zervan Akarana (Tempo Ilimitado), mencionado por Zaratustra, é o Kâla, fora do espaço e do tempo, de Parabrahm.” (“Glossário Teosófico”, verbete “Yuga”). Ora, Kala pode ser também o próprio tempo comum, “ilimitado” como o samsara, diferente de eterno ou de um “Tempo Soberano” que soa este sim libertador. Correspondem ao que se conhece no Ocidente como o tempo linear e o tempo cíclico, ou em grego Kronos e Kairós.

3. Poucos místicos sabem discernir realmente entre o esotérico, o exotérico e o oculto. Leva-se às vezes vidas para alcançar tais entendimentos profundos, e raras são as Escolas também capacitadas a ensinar da maneira adequada. 

4. Ou endo-exotérico, aquilo que é exterior (endo) ao exotérico, portanto o profano ou material. Trata-se de neologismo criado pela Autora. 

5. Blavatsky associa também este período ao Manu Vaisvavata e ao Avatar Matsya (Peixe). Seria possível ver o arquétipo de Peixes em plena Era de Virgem? O conceito de “enantiodroamia dos opostos” de Heráclito (adaptado por Carl G. Jung) trata da compensação das energias, razão pela qual os avatares teriam o signo oposto ao da Era em questão –tal como demonstrou a astróloga esotérica Ema C. de Mascheville.

6. “Sanat Kumara veio de Vênus”, escreveu Blavatsky, ou antes na Ronda Venusiana (leia-se: quaternária) da Terra, corrigiu Alice A. Bailey; estamos afinal no campo da Astrologia e não da Astronomia.

7. A “profecia” de HPB sobre a vinda de um novo ciclo maior de Ensinamentos da Hierarquia para depois de 1975 encontra-se em diversos locais das suas obras, com destaque para a sua Introdução ao Volume I da Doutrina Secreta. 

8. Considerando todo o colocado aqui e em tantos outros trabalhos nossos ou alheios, torna-se evidente a necessidade de uma revisão profissional e de uma atualização das coisas à luz de tudo o que tem sido descoberto no último século.

* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Nos últimos doze anos vem direcionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.


Espécies, Raças e Civilizações – uma chave pitagórica


Sabemos que os ciclos raciais que apresenta a Teosofia Clássica, traz muitos problemas à luz da Ciência –e nós acreditamos na Ciência tanto quanto nos Mitos, ou seja: com respeito, mas sob as devidas reservas.

Tratamos os Mitos nestes termos: “onde há fumaça existe fogo”. Vemos pois suas informações como “pistas” preciosas, sem pretender dar a eles um caráter de Ciência. Cada disciplina tem a sua função e virtude. A Ciência é mais precisa em termos concretos, mas a Mitologia traz informações espirituais mais ricas. Sabendo reunir o melhor e o principal de cada disciplina, nós teremos os caminhos abertos para a Verdade Una –afinal, a grande proposta teosófica e a “síntese entre ciência, religião e filosofia”, e não a subserviência de umas às outras.
Os místicos porém, cometem o erro de acreditar piamente nos Mitos –estes mesmos relatos “raciais” que a Ciência não endossa, por exemplo- e descrer na Ciência. Tal coisa tende a levar ao fanatismo e à ignorância, próprio da religião popular apenas, e não do verdadeiro Ocultismo.


A Índia clássica popularizou muitos dados esotéricos através de Mitos (até como forma de preservação no tempo), mas apenas o vulgo e o supersticioso acreditam literalmente em tais coisas.
Nestes Mitos se inserem comumente as famosas “civilizações antigas” –tal como citadas por Platão acerca da Atlântida-, que não raro colocam problemas ainda mais complexos, atiçando a fértil imaginação dos “esotéricos”.
Pois bem, como já temos demonstrado, os sete ciclos raciais da “Teosofia Clássica” ascendem a milhões de anos. Eles mal cabem na evolução pretérita dos hominídeos, e ainda postulam um tanto para diante, já que ainda existem duas raças por vir.

Temos demonstrado igualmente, porém, que as datas e os ciclos antigos podem ser revistos e redimensionados. A Teosofia subordina as raças aos Manvantaras, mas estes ciclos possuem várias acepções, havendo ao menos duas exatamente paralelas, que reduz seus 4.320.000 anos a apenas 12.000 anos (ver “Glossário Teosófico”, verbete “Yugas”) –algo que condiz com dados de muitas tradições (persa, caldaica, etc.) e remete a outras leituras dos ciclos raciais, aquele mais afeito às civilizações, precisamente.
Geralmente buscamos distinguir a noção literal de “raça” daquele de cultura, no sentido de que as “raças” seriam manifestações culturais de caráter mundial (embora com bases continentais), e não necessariamente através de “civilizações”.
Por exemplo. À luz da ciência, a cultura ou civilização que podemos definir como árya eclodiu mundialmente há cerca de 5 mil anos. Antes disto, havia pequenos focos de civilizações desde uns 13 mil anos atrás, especialmente nas regiões da Turquia, Rússia e Palestina.
Por sua vez, a cultura atlante, se associa à chegada do neolítico faz uns 12 mil anos, quando começou a agricultura ostensiva e surgiu um novo padrão espiritual.
Este é o modelo aproximado adotado também por Fabre d’Olivet -o pioneiro no trato esotérico do tema das raças humanas-, e que preferia descrever o tema como “ciclos históricos e societários".


Contudo, existe ainda uma abordagem tradicional bastante científica, que provavelmente ainda não tem sido tratada, e que tende a ficar cronologicamente entre as subespécies e as culturas mundiais como acima descritas. Trata-se da formação das raças literalmente falando, quer dizer: o surgimento físico da raça negra, da raça amarela, da raça vermelha e a da raça branca - como etapas da “jornada humana”, enfim.
Provavelmente tal coisa não seria muito difícil de estimar, uma vez que o surgimento destas raças estaria relacionado ao estabelecimento humano nos Continentes após a sua saída da África, após o seu surgimento neste Continente.
O gráfico abaixo demonstra esta realidade.


"Jornada humana" - o surgimento do homo sapiens nos continentes

Vejamos, pois, o que este diagrama nos diz. Tudo surgiu na África, onde permaneceu longamente. Não raro se atribui a idade de 500 mil anos ao homo sapiens. Depois começou o seu deslocamento através do mundo, em sete etapas, através das quais se vai recaracterizando o homo sapiens e aprendendo novos saberes.
Podemos ver que a sequencia não dista muito do relato teosófico, inclusos nos seus “nomes raciais” abaixo:

1. África ................... 200 mil anos ............... “Hyperbóreos”
2. Oriente Médio ........ 100 mil anos ............... “Austrais”
3. Austrália ............... 60 mil anos ................. “Lemurianos”
4. Ásia ...................... 67 mil anos ................. “Atlantes”
5. Europa .................. 40 mil anos ................. “Arianos”
6. Norte América ........ 30/20 mil anos ............ “Norte Americanos”
7. Sul América ........... 12 mil anos ................. “Sul Americanos”


Os dois primeiros momentos soam mais estranhos aos conceitos teosóficos, onde eles inclusive tendem a ser mantidos de forma mais simbólica e oculta, velando culturas ou “raças” ditas “pré-humanas” e que atribuímos ao Pralaya. A primeira migração austral se dá apenas na terceira fase migratória, na Austrália, a qual poderia ser associada à Lemúria.
Em seguida, na quarta fase migratória, se veria que a primeira Atlantida foi asiática, e as posteriores seriam americanas, por causa das migrações finais a partir da Ásia e outros locais. A conhecida idéia teosófica de uma Shambala a um só tempo lemuriana e asiática se complica.
Logo, temos a quinta fase migratória na Europa, onde se costuma ver a origem da raça árya. Se diz que ele conviveu ali com o Neandertais, dos quais teria aprendido muitas coisas e por isto teria também desenvolvido astúcia e as artes da guerra.
Por fim, ocorrem as citadas migrações americanas, onde o gráfico separa bastante norte e sul no tempo.



Com algum esforço –considerando que estes números são relativamente móveis ou sujeitos a mudanças- podemos sugerir que estas ondas migratórias estejam divididas por unidades de ciclos de 12 mil anos (manvantaras), quiçá agrupados em escalas piramidais como a da Tetraktys pitagórica (a imagem acima). Esta chave “espiral” acompanha a aceleração crescente da evolução cósmica, que acontece também nos reinos animados, fazendo-se presente igualmente na evolução do espírito.

Vale notar que o ciclo cósmico do Manvantara também organiza os seus yugas (idades) internos nestes termos. Segundo H.P.Blavatsky, as próprias raças raízes estão organizadas através das Idades Metálicas. Nem por isto estamos pretendendo estabelecer aqui uma “ciência exata”, mas apenas encontrar padrões.
Note-se daí a presença de fractais 1/10, como seria 12.000 anos e 12 mil anos, ou 20 mil anos (ou 26 mil anos, o Ano Cósmico completo) e 200 mil anos (Alice A.bailey chama o ciclo de 250 mil anos de “ronda completa”, na sua obra “Astrologia Esotérica”), os quais também surgem nas citadas doutrinas. O quadro final resulta complexo, mas aponta seguramente novas soluções.

* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.


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A Teosofia Esotérica – os ciclos coletivos da humanidade desvendados


Os "gigantes" míticos e bíblicos inspiram comumente o esoterismo mais popular
O conhecimento humano cede muitas vezes espaço para a crença, quando o ser humano ainda não está preparado para a Ciência. É o caso das crianças, para quem a fábula se torna uma forma de percepção preliminar da realidade, envolvendo a emoção e a fantasia.
Aparentemente a sabedoria oriental agrega esta tolerância também para os estados-de-consciência humana, não deixando de oferecer informações avançadas para o povo, porém numa forma “suavizada”, simbólica e mítica. Tal coisa representaria um Exoterismo, ou o Esoterismo popular, porém aqui iremos conhecer também a verdadeira questão Esotérica relativa à evolução espiritual da humanidade.

Uma das coisas mais importantes em termos de Ciência seriam sobre os ciclos espirituais da vida, que inclui aqueles da humanidade, e cuja percepção pode depender de uma apurada capacidade de observação e de um conjunto de práticas avançadas.
O ciclo que o Hinduísmo parece mais divulgar é aquele do Manvantara, reunindo textualmente a ampla soma de 4.320.000 anos, divididos através das “Idades Metálicas” nestes termos:

1) Krita Yuga (Idade de Ouro)         1.728.000 anos
2) Tretâ Yuga (Idade de Prata)        1.296.000 anos
3) Dwâpara Yuga (Idade de Bronze) 864.000 anos
4) Kali Yuga (Idade de Ferro)           432.000 anos
              Total ………………................. 4.320.000 anos

Sabemos que na espiritualidade o Ocultismo e o Esoterismo são como amadurecimentos e procedimentos científicos das práticas espirituais, em relação às crenças exteriores e geralmente dependentes a que se submetem as massas humanas. Tal coisa também serve para a sabedoria dos ciclos. Como a criança que vive uma realidade atemporal, o crente e o noviço também preferem a fábula mística para realizar a transição entre as trevas da ignorância a que antes se sujeitavam e a sabedoria plena dos maiorais que existe nos horizontes futuros mais iluminados.

Esta maioridade da sabedoria não é a simples “Ciência”, como esta pretende comumente ser. Ainda que a Ciência realmente aporte um dos princípios a se ter em conta. O outro é a própria espiritualidade ou a “mística” se se quer, e da síntese entre ambos é que teremos por fim a Verdade cultural e antropológica - aquela Verdade que a Teosofia moderna adotou como princípio acima das crenças e das religiões.
É possível que a Sabedoria Tradicional realmente seja tolerante em relação a estas três visões-de-mundo dominantes: a linear/materialista/temporal, a circular/mística/atemporal e a espiral/ocultista/cíclica. A “mística” Índia se caracteriza por haver Seis Escolas Tradicionais (Dharsanas ou pontos-de-vista), entre as quais se incluem as materialistas. De fato as Sociedades Tradicionais não podem ser chamadas de místicas ou religiosas, porque elas são na verdade holísticas e ecumênicas. Na mesma Índia também se chama “crianças” às pessoas não-espiritualizadas, mas provavelmente tampouco se inclui nesta maturidade as crenças populares em geral meramente éticas, e sim as práticas espirituais mais avançadas das quais aquela cultura é tão rica e proeminente. Importante compreender é que a síntese da visão cíclica não altera os conteúdos dos restantes apenas os reúne e requalifica.

Voltemos então aos ciclos citados (que chamaremos de “genéricos”), focalizando-os à luz da Ciência.
O menor deles,  de 432.000 anos, possui praticamente a idade do Homo Sapiens. E o conjunto deles, com 4.320.000 anos, remonta praticamente também aos primeiros hominídeos. A conclusão óbvia seria que esta Idade de Ouro estaria algo próxima de nossas origens... algo simiescas. O que não deixaria de soar absurdo. Mas convém notar que esta é apenas a metade ativa do ciclo, o Manvantara, uma vez que a outra metade toca à sua contraparte formativa ou Pralaya, ditos “Dia e Noite de Brahma” respectivamente.

Porém, como Blavatsky considera que os primatas superiores seriam antigas raças humanas que se degeneraram, então ela realmente veria os hominídeos como “raças”! Na “Doutrina Secreta” também existem indicações de ciclos raciais, mensurados de maneira não muito distinta em termos gerais aos do Manvantara, quiçá superando-os até.

Pela seguinte afirmação, Blavatsky sugere que a atual raça árya (e provavelmente também as restantes) deve somar ao seu final uns 1,5 milhões de anos, totalizando assim as sete raças-mães 10,5 milhões de anos:
 “Das sete Raças, cinco já apareceram e tem quase concluído a cadeia terrestre, e ainda duas devem aparecer nesta Ronda. Nossa Quinta Raça-mãe já existe como raça sui generis totalmente independente do seu tronco-pai, faz um milhão de anos, o que pode-se inferir que cada uma de suas quatro sub-raças anteriores viveram cerca de 210 mil anos, de modo que cada raça-família tem uma existência média de cerca de 30 mil anos, e assim a raça-família européia possui ainda muitos milhares de anos de vida, ainda quando as nações, que são como os muitos espinhos que há nela, variem de acordo com cada ‘estação’ sucessiva de três ou quatro mil anos.” (“A Doutrina Secreta”, III, 453, 454)

Claro que, para a Ciência, tudo isto traz uma série de problemas. Tais investidas idealizadas num passado tão remoto poderia soar facilmente a embuste, já que a lógica aponta noutra direção. Também resulta difícil conhecer a natureza dos ciclos a que Blavatsky se refere, os ciclos de 30 mil das “raça-famílias” anos por exemplo, apenas se aproximam do Ano cósmico de 26 mil anos. Blavatsky afirma que as raças-raízes contém dentro de si as quatro Idades Metálicas.
Por fim, mesmo considerando que a evolução caminhe a par com a degradação ambiental, resulta num esforço demasiado imaginar que os Australopitecos fossem aquele Humano perfeito idealizado pelas idades. De modo que não resta saída senão ver em tais formulações mais uma metáfora pseudo-científica sobre a evolução espiritual humana –quem sabe como recriação de uma mitologia destinada para o vulgo ou para mentes menos afortunadas da Modernidade?

Felizmente, o sistema Manvantara oferece uma “alterativa” - e sem a necessidade de “cortar os seus zeros” como propõe René Guenón; ainda que este corte seja efetivamente útil para certas finalidades. Os grandes números acima dados, integram nesta tradição um padrão dito “humano” (ou dos “mortais”), ao passo que existe uma formula-de-conversão por 360 que fornece o “tempo divino” (ver “Glossário Teosófico” de H. P. Blavatsky, verbete “Yugas”; um dos tantos verbetes acrescidos após a morte da autora).
Este modelo resulta já em dados “modestos” que no conjunto concordam com padrões extremamente tradicionais. Vejamos, pois:

1) Krita Yuga (Idade de Ouro)         4.800 anos
2) Tretâ Yuga (Idade de Prata)        3.600 anos
3) Dwâpara Yuga (Idade de Bronze) 2.400 anos
4) Kali Yuga (Idade de Ferro)           1.200 anos
              Total ………………................. 12.000 anos

A rigor, os valores são de 4, 3 2 a 1 (como na Tetraktys pitagórica, símbolo piramidal matemático que remete à espiral iniciática) mil anos, destinando o “excedente” para períodos-de-transição distribuídos no começo (sandya) e no final (sandyana) do ciclo (esta soma de 10 remeteria simbolicamente ao montante de 10,5 milhões de anos das raças em Blavatsky?).
Tais anos “imortais” dizem um período muito conhecido (usado pelos persas e muitos outros), sendo a metade positiva do Grande Ano de Platão, havendo como vimos outra metade negativa ou Pralaya. Representa isto também um resgate das abordagens originais de Fabre d’Olivet acerca das “raças humanas” sob o ângulo “histórico-sociológico”. A razão de ser um tempo eterno, se relacionaria à sua coordenação pelas forças espirituais, como adiante veremos melhor sobre Shambala.

Claro que podemos tentar aplicar este Manvantara menor às raças, pese a sua inerente desproporcionalidade (ou 4-3-2-1). Existe porém outro sistema-de-tempo na própria Índia, talvez mais conhecido no universo maia-nahua de Meso-América (onde se acredita que estes ciclos sempre terminam em catástrofes naturais), de trabalhar com ciclos solares de 5 mil anos, ou mesmo os períodos caldeus de 4.320 anos que se assemelham mais aos valores do Manvantara e se encaixam exatamente no Ano Cósmico.
Tais “prazos” de evolução permitem já coadunar melhor certos dados da Ciência, tais como:

Revolução Neolítica: 10/12 mil anos atrás ........... Raça Atlante
Revolução Metálica: 5 mil anos atrás ................... Raça Árya

Atualmente o ciclo desta última raça estaria extinto (desde o 2.012), talvez juntamente a um ciclo maior que em breve também findará, daí a grande crise que se anuncia, incluindo novas glaciações...
Anteriormente, a chegada do Neolítico remete a um momento assinalado por Platão sobre a Atlântida, pese haver certas conotações fantasiosas...
E já sobre o Paleolítico (que a rigor integra o Pralaya), pese o pouco que sabemos dele, não é difícil imaginar que os milênios anteriores ao neolítico tenham sido objeto de outras revoluções culturais/econômicas mais sutis, espirituais e preservacionistas, assim como sociais e comportamentais.
A famosa chegada de Shambala (e dos divinos Kumaras, os “Filhos de Brahma”) em “meados da raça Lemuriana” insidiria neste cômputo há “somente” uns 15 mil anos, o que tem relação com o período da migração para as Américas, papel que costuma ser atribuído aos Manus ou Mentores-de-civilizações, os quais abrem as raças e, mais ainda, abrem os Manvantaras, termo que significa “entre dois Manus”. Tal coisa anuncia mudanças definitivas na evolução humana, abrindo uma nova “ronda” e inaugurando uma outra subespécie humana, que é a atual.


Não iremos nos estender mais sobre isto, porque temos vários trabalhos no âmbito da Teosofia Científica voltados para estas duas formas de ver a questão, seja a ampla da “evolução da espécie” (ou paleontológica) como a reduzida da “evolução cultural” (ou antropológica).

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