A Teosofia em geral tem uma forte influência nos novos ensinamentos, especialmente em suas vertentes históricas centralizadas em Helena P. Blavatsky e sua sucessora espiritual Alice A. Bailey. Porém, dentro das revelações do Plano da Hierarquia, procura-se hoje dar uma cor mais “científica” ao tema, tratando basicamente de retirar os véus remanescentes, além de apurar sínteses e agregar idéias complementares, como seria a questão social e a própria espiritualidade e iniciação. Esta é a origem da “Teosofia Científica”, uma doutrina promissora que trabalha basicamente com a Ciência dos Ciclos. Uma Teosofia Científica reuniria -nada mais e nada menos- que os dois pólos extremos do conhecimento (espiritualidade e ciência), preenchendo daí todo o leque do humano saber.

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A Doutrina Secreta sem Véus

por Luís A. W. Salvi *

São bastante conhecidas as “curiosas” explanações de Helena P. Blavatsky sobre as raças e outros ciclos da humanidade, ora desafiando a Ciência e outras vezes também confirmando-a. É certo que tudo isto é muito misterioso, e a autora da Doutrina Secreta sequer fez questão de entregar muitas chaves em respeito ao sigilo tradicional do Oriente, além de se tratar de matéria nova para ela mesma. Acontece que Blavatsky carregou o ônus e o bônus de ser uma pioneira e de divulgar conhecimentos exóticos que nem mesmo o próprio Oriente já compreende muito bem dada a sua antiguidade e mistério.

De sorte que não há novidade em afirmar que a Doutrina Secreta de Blavatsky é uma obra difícil, abundante de enigmas com senhas secretas no dizer da própria autora. Não se trata afinal de um conhecimento comum, havendo um grande número de desafios para destrinchá-lo devidamente.

O propósito do presente estudo é oferecer uma explicação sumária e didática para a chamada “cronologia esotérica” da Doutrina Secreta” à luz das Filosofias do Tempo do Hinduísmo, em termos de raças e de rondas mundiais, demonstrando também a situação atual de transição planetária; incluindo certas retificações necessárias, apesar de não avançarmos nesta ocasião para a completa decifração desta exótica “cronologia” mas apenas esclarecendo sobre a sua natureza e informando sobre certas alternativas tradicionais também existentes dentro das mesmas doutrinas.

De sorte que na presente abordagem estaremos tratando com certos números que podem soar exagerados para a mentalidade científica, e uma das razões disto é porque boa parte da doutrina oriental do Manvantara está protegida por sigilos. A causa específica para tal é porque o corpo geral das informações desta doutrina é tão completo e avançado, que não restou outra solução do que resguardar os seus segredos do vulgo para não pôr em riscos os Planos de evolução planetária nela contidos, mais ainda do que as questões individuais que também favorece, as quais na verdade também busca integrar ao todo por se tratar da verdadeira iniciação solar (como demonstra a condição Agnishwatta), quando o iniciado deve participar ativamente dos objetivos dos grandes Guias planetários. Ainda assim algumas indicações de chaves serão dadas no decurso deste estudo, apesar de não ser o seu intuito desvendar completamente o tema, antes manter as análises dentro dos parâmetros oferecidos pela própria Doutrina Secreta de HPB.

Basicamente, convém observar que existem duas versões do Manvantara, abaixo relacionadas e qualificadas (maiores detalhes serão dados na sequência):

“Versão longa”: 4,32 milhões de anos ...... exotérica

“Versão breve”: 12 mil anos ………...….. esotérica

Desde já afirmamos pois que boa parte das dificuldades existentes, deve-se ao hábito dos orientais jogarem com a magia do tempo, elaborando calendários específicos para os diferentes tipos de consciência em evolução sobre a face do nosso planeta.  

1. As Estâncias de Dzyan 

A Doutrina Secreta representa um esforço para interpretar o misterioso manuscrito chamado por Blavatsky de “Estâncias de Dzyan”, porém indo além. É importante observar que a autora mesma admite que existem diferentes formas de interpretar estas Estâncias, através dos vários ciclos de comentários existentes. Não obstante Blavatsky mesma termina por recorrer a uma linguagem bastante cifrada, julgando tratar-se também da mais esotérica, quando na realidade as coisas podem até nem corresponder, uma vez que os chamados “Mistérios” muitas vezes estão velados com diferentes chaves. 

Hoje sabemos muitas coisas mais sobre as Estâncias de Dzyan, como sua origem e contexto histórico, permitindo saber que nem tudo era como foi apresentado então, em termo das suas origens históricas, ao lado de uma abordagem peculiar mais próxima do mito que da própria Ciência.

De modo que existem outras dimensões da Teosofia ocultas em leituras mais apuradas dos grandes mistérios da Doutrina Secreta e das Estâncias de Dzyan.

2. Desvendando a Doutrina Secreta

A Doutrina Secreta tem sido como uma floresta fechada onde não entra quase luz, porém os atuais estudos estão transformando este quadro. Uma das coisas que mais confundem o estudante é o fato de não se conhecer claramente a natureza da informação oferecida, fora daquele vago contexto místico apresentado pela citada obra. 

Cabe dizer então que as principais fontes de Blavatsky para interpretar as Estâncias de Dzyan possuem um teor místico ou exotérico, organizado com véus por se tratar de uma literatura religiosa popular que são os célebres Puranas da Índia. Outras obras importantes para isto são de teor evolucionista e que Blavatsky apreciava contestar, vindo a conceber porém uma teoria própria mista de evolucionismo e de espiritualidade para as raças, inspirada em mitos e na meta-ciência.

Há varias maneiras de dissimular a informação espiritual. O conhecimento tântrico é dito esotérico porque é cifrado com símbolos, e suas chaves são passadas de boca a ouvido. Porém interpretações como a dos Puranas são exotéricas e igualmente veladas, porém sob a forma de histórias populares. 

E assim, um estudo mais detido sobre as informações teosofistas deixam bastante claro que a base de trabalho de toda a sua “cronologia esotérica” é a Filosofia do Manvantara empregada pelos hindus, especialmente numa dada versão dilatada (e um tanto simbólica) de tempo chamada de “tempo humano” pelos orientais, e que é aquela mais conhecida presente nesta literatura popular.

Passemos porém para alguns exemplos objetivos, devidamente ilustrados aqui, lembrando que o presente estudo é apenas preliminar e envolve somente dados trazidos pela Doutrina Secreta, sem um esforço maior de “traduzir” estes dados para uma linguagem científica (o que fazemos em outros trabalhos), mas limitando-nos a buscar explicar a origem e os contextos destas primeiras informações, visando localizar o estudante dentro da cronologia teosofista através de algumas poucas questões pontuais. Em nossa "Doutrina Secreta Revelada" -que é uma espécie de revisão e de explicação sistemática da Doutrina Secreta de Blavatsky- avançamos também para um estudo dos ciclos em termos científicos e esotéricos, explicando os verdadeiros mistérios do Manvantara e de sua contraparte cósmica, o Pralaya.

É importante pois estabelecer de antemão que as Estâncias de Dzyan trabalham com diferentes ciclos e sub-ciclos, uma vez que se trata de um segmento do Kalachakratantra ou da “Roda do Tempo”. E isto vai além das divisões convencionais do Manvantara em termos de Yugas, para incluir também raças e Eras astrológicas. 

a. As raças do Pralaya

Passando por alto então as grandes questões relativas à natureza das rondas (tema ao qual retornaremos depois), cabe fixar que as três primeiras raças integram um Pralaya ou Noite de Brahma, o que explica em parte o seu caráter misterioso. Neste aspecto, as vagas descrições das humanidades destes ciclos trazidos pelas Estâncias de Dzyan tendem a combinar ou sintetizar os sub-ciclos já mencionados que evoluem em paralelo. Na verdade os termos que este tantra emprega para designá-los, como “iogues”, “suor” e “Hansa”, corresponderiam em função disto a conhecidas iniciações espirituais e a ashramas védicos (que são as etapas de estudante, casado, instrutor e renunciante), e de teor coletivo neste caso.

No diagrama abaixo temos a metade noturna do Kalpa -ou o Pralaya-, apenas com divisões de raças e de yugas. A divisão sugerida em cinco raças (a primeira estando na base e sendo de transição) segue o padrão universal das mandalas presente também nas Estâncias de Dzyan, ainda que o seu correto entendimento, juntamente com as Eras astrológicas, já dependa de um outro padrão de cronologia. 

O tema assinala ademais a divisão sofrida em meados da raça lemuriana pela organização de Shambhala. Podemos dizer que as duas metades da raça Lemuriana correspondem à transformação dos Manasaputras em Agnishwattas, ou seja: de iniciados potenciais em iniciados reais, através do domínio da energia Fohat ou de Agnimanas. Este é o verdadeiro contexto da terceira iniciação ou do grau Hansa, “cisne” em sânscrito, mencionado nas descrições desta “raça” pelas Estâncias de Dzyan. A segunda parte da Lemúria representa a transição do Pralaya integrando já de certa forma o próprio Manvanvantara.

A Doutrina Secreta não oferece datas para as raças do Pralaya, e quando busca datar Shambhala os valores são claramente excessivos, como veremos mais ao final deste estudo.

b. As raças do Manvantara

As raças do Manvantara já permitem certo aprofundamento do assunto na medida em que Blavatsky oferece números para avaliá-las, permitindo se começar a conhecer as referências cronológicas da Doutrina Secreta -ainda que os dados terminem por serem em parte comprometidos por um emaranhado de informações mais ou menos desconexas que HPB tentou sintetizar.

Assim, reunindo uma linha mais ou menos conhecida de informações do Oriente e outras mais esotéricas provenientes de seus próprios Mestres, Blavatsky haverá de ter tecido o seguinte raciocínio. Estamos no Kali Yuga faz cinco mil anos, assinalando também o começo da raça arya na ocasião da morte de Krishna, e portanto o final da raça atlante. Como o Kali Yuga encerra o Manvantara, estamos portanto no final deste Dia de Brahma, que possui 4,32 milhões de anos. Se a raça atlante abriu a ronda atual -que é o presente Manvantara-, então esta raça também deve ter começado há uns quatro milhões de anos. 

Tal raciocínio reúne porém erros e acertos, incluindo certas premissas orientais equivocadas. É impróprio imaginar que o Kali Yuga de Krishna pertença aos Yugas do Manvantara, quando na verdade pertence ao final de uma Era racial de cinco mil anos -Blavatsky mesmo afirmou que as raças estão divididas pelas Idades Metálicas. Trata-se enfim das várias “rodas” de tempo de que falam as Estâncias de Dzyan, como é próprio de um tantra Kalachakra, e que são basicamente a “Grande Roda” do Kalpa (Pralaya e Manvantara) e a "Pequena Roda” da Era solar ou racial (não confundir com os registros breve e extenso -ou esotérico e exotérico- do próprio Manvantara). 

E neste caso a perfeita identificação das suas grandezas, tal como as particularidades das linguagens específicas de cada informação -por vezes embaralhadas já na sua “raiz” (digamos assim)-, não pode ser plenamente alcançada por HPB -o que tampouco é algo para se envergonhar considerando tratar-se a questão de um verdadeiro labirinto, e Blavatsky ainda teve o mérito de avançar para novas sínteses adequadas.

Tratemos então de classificar estes itens para efeitos de maior clareza:

a. O Kali Yuga começou há cinco mil anos com a morte de Krishna: errado.

b. Termina também ali a raça atlante e inicia a raça arya: correto.

c. A raça atlante inaugurou a ronda ou Manvantara atual: correto.

d. O Kali Yuga encerra o Manvantara: impróprio.

e. Por decorrência a raça atlante ocupou vários Yugas: errado.

Assim, a datação de HPB estaria perfeitamente correta para a abertura atlante -ressalvando se tratar de aqui de “anos humanos” simbólicos -mas não as suas conclusões. Blavatsky chega a estimar que a raça atlante deve ter perdurado também sozinha por “4 ou 5 milhões de anos”, imaginando que o fato seja corroborado por Platão para quem a Atlântida terminou de sucumbir faz apenas faz 11,5 mil anos. 

A tentativa de compatibilizar os dados hindus com os de Platão tampouco é possível, porque se está com isto alimentando uma confusão entre padrões de tempo absolutamente distintos, confusão esta que já é herdada do próprio Oriente, e que na pena de Blavatsky de certa forma também se acirra. Tal associação é inviável por se tratar de cronologias distintas -mesmo porque as medidas propostas já ocupariam toda a extensão do Manvantara. A “contagem longa” do Manvantara seria uma invenção medieval para ocultar o verdadeiro conhecimento, não passando na prática de uma abstração matemática criada pela operação do valor 360 para simbolizar o mundo do samsara

Como vemos no diagrama abaixo relativo ao arco diurno do Kalpa -isto é: ao Manvantara-, o período da raça atlante é equivalente ao Satya Yuga ou a Idade de Ouro, o que corresponde a 1.728.000 anos “humanos”.

Existe também na Doutrina Secreta uma mensuração para a raça arya, em termos de 1,5 milhões de anos no total. Vemos então que esta raça coincide em parte com o Treta Yuga ou a Idade de Prata, a qual é com efeito uma idade aristocrática como a raça arya. A extensão deste yuga é de 1.296.000 anos “humanos”.

Nas Estâncias de Dzyan a evolução é encerrada na prática nesta quinta raça (descrita como aquela dos “Reis divinos”), apesar de Blavatsky haver cogitado até sete raças-raízes, levando a imaginar assim que os prazos da evolução do mundo são maiores do que realmente são. Na verdade aquilo que resta é apenas a transição da ronda, na qual não cabe sequer uma raça completa.

c. As Quatro Rondas

Existe outra data importante, muito conhecida e peculiar da Doutrina Secreta, supostamente relacionada à Shambhala ou mais exatamente à chegada de Sanat Kumara. Esta data é em torno de 18 milhões de anos, com pequenas variantes. Contudo haveria que reconsiderar as interpretações dadas a este período. Senão vejamos.

Sanat Kumara é dito haver chegado "em meados do período da Lemúria" (ver o primeiro mapa de acima), e isto está ainda muitíssimo próximo da Atlântida, tornando assim a afirmação incoerente. Na verdade este momento-Shambhala ainda corresponderia ao período de transição para o Manvantara que Blavatsky chama de “lemuro-atlanteano”, assim como à datação ampliada que a autora confere à Atlântida entre “4 ou 5 milhões de anos atrás”. 

Assim, se cada ronda ocupa 4,32 milhões de anos e um Kalpa completo tem o dobro disto (reunindo os seus Pralaya e Manvantara), a soma em questão reúne pois dois Kalpas completos.

Ora temos aqui então dados muito familiares também da “cronologia esotérica”, como são as idéias do atual “segundo solar” e da atual “quarta ronda planetária” comumente citados nos ensinamentos ocultistas, abaixo.

Em suma, a data em questão trataria não exatamente de Sanat Kumara, mas sim do primeiro dos quatro Kumaras chamado Sanaka, “o Antigo”. É claro que isto ainda não nos permite avaliar a evolução humana objetivamente, uma vez que até mesmo a evolução dos hominídeos mal alcança quatro milhões de anos. Para fazer conexões humanas será preciso converter esta cronologia extensa e simbólica numa outra científica. E com isto vemos que a data trata-se na verdade daquilo que a Ciência chama de “Revolução Cognitiva” que dá origem ao homo sapiens -ainda que a verdadeira compreensão deste contexto já requeira a “tradução” dos números simbólicos ou exotéricos da Doutrina Secreta nos termos da cronologia científica.

O estudante também poderá considerar curiosa está equiparação entre o Kalpa e o sistema solar, acontece porém que estamos no campo da astrologia onde a linguagem simbólica é algo comum. Além disto existe todo um léxico cosmológico que é particular da moderna Teosofia.

Quando convertemos os dados em questão num padrão científico de tempo muitos outros aspectos da evolução e dos próprios mistérios vem então à luz para testemunhar quão grande é universal era a Sabedoria dos Antigos. Tais chaves são tradicionais no Hinduísmo e estão presentes também na literatura teosófica, porém, e a exemplo de muitos orientais, os teósofos tampouco têm buscado empregá-las.

Sabidamente a data em questão também costuma ser vista na Teosofia como indicando a “origem da humanidade”, o que por si só sugere não poder ter relação portanto com Sanat, mas sim com o Kumara primordial, o qual até poderia ser não obstante -e dentro de uma simples visão especulativa- uma encarnação anterior do próprio Sanat Kumara. Ao se transpor os números para valores científicos ou racionais, descobrimos que na realidade a cifra indica um momento especial da evolução humana que a Ciência indica como “a Revolução cognitiva” que inaugura a existência do chamado “homem moderno”. Se isto servir de referência, foram encontradas ferramentas de caça e talvez de guerra muito anteriores a ela, mas todos os registros artísticos -e estamos falando em cerca de 40 mil anos neste caso- se enquadram dentro deste seu novo período de evolução…

O verdadeiro iniciado trabalha com a realidade objetiva em colaboração com os planos da Hierarquia, alcançando desta forma atuar num tempo central ou superiormente qualificado. Um dos aspectos de maya é que as pessoas podem ocupar o mesmo espaço aparente mas viver em diferentes dimensões -sendo esta em última análise a razão pela qual Shambhala é invisível e inacessível ao profano-, refletidas também em cronologias próprias.

E ao contrário do que imagina o leigo, o tempo largo do samsara não é espiritual e sim material, posto que a iniciação concentra a energia do tempo. Somente o homem comum vive no tempo linear contado em décadas. O iniciado vive um tempo geométrico que corresponde a séculos e o iluminado está num tempo exponencial que cobre milênios. A sabedoria hindu simplifica as coisas em termos de tempo central e tempo periférico, numa espécie de dualidade quântica de matéria e espírito.

d. O final do Kalpa

Mencionamos já que o cânone racial envolve rigorosamente apenas cinco raças. A própria matemática do Kalpa não admitiria uma efetiva divisão setenária, como fica claro quando se trabalha com o “tempo divino” -e científico- do Manvantara.  

Podemos observar também que o momento atual é exatamente simétrico àquele da instalação de Shambhala por Sanat Kumara no final da ronda anterior, abaixo.

Acontece então que já nos encontramos no final da atual ronda planetária e começando a viver aquela que será muito provavelmente a mais importante transição que a humanidade já atravessou. E no entanto milhares de pessoas seguem adormecidas num tempo irreal e empregando recursos espirituais defasados, em função do desconhecimento do verdadeiro tempo da evolução e das autênticas técnicas esotéricas raciais. O místico vive daí num estado onírico desconectado da realidade espiritual maior, o que pode ser muito inconveniente no atual momento planetário de grandes renovações. No Oriente esta ideia tornou-se até literal, através do conceito “tempo humano” do samsara ou da matéria, que é aquele empregado na literatura devocional hindu e que a Doutrina Secreta também faz uso na sua “cronologia”. 

O estudante poderá estranhar que os devotos sejam destinados a um tempo material, quando sabemos que eles buscam continuamente os mundos espirituais. De fato existe aqui uma fina ironia da parte dos criadores do sistema, situados como estavam num plano mais elevado. Existe lógica afinal pensar que se alguém ainda busca de tal forma o céu, é apenas porque ele ainda está profundamente mergulhado na terra. A perspectiva dos mentores do sistema é portanto aquela da liberação, moksha, quando já não existe uma diferença significativa entre samsara e nirvana, e tal como vem a ser o verdadeiro dharma racial áryo da condição dos manasaputras

Quando um texto esotérico fala em manas ou “mente”, ele não está preocupado com questões mais rudimentares como inteligência vulgar ou pensamento comuns, e sim com a capacidade de empregar a mente no próprio esoterismo. Por isto o místico que almeja anular o pensamento ao invés de redirecioná-lo também entra na categoria amanasa ou “sem-mente”, e que resulta quase uma espécie de adharma da mesma forma. O ocultismo não é afinal uma prática contemplativa, e sim internamente pró-ativa.

Eis que na esteira do Orientalismo os ocidentais tem importado toda uma vasta bagagem atávica de mística contemplativa pisciana, como se isto por si só pudesse representar algum avanço significativo em relação àquilo que já se tem no próprio Ocidente...

Mas então perguntamos: é mesmo apenas isto que as pessoas desejam para si?! Muitos certamente o fazem, porém uma sabedoria viva os inspiraria ao menos a organizar as camadas de conhecimentos dentro das suas sociedades. 

As Estâncias de Dzyan não foram dadas como um simples documento sobre a “evolução” humana, e sim como um importante instrumento para a transição planetária, assinalando as ferramentas necessárias para tal -afinal as analogias entre a Lemúria e a Aryavartha são amplas- e até denunciando os amanasas que dominam no decurso da evolução e que no frigir dos ovos obriga os Construtores a separar o joio do  trigo...

Contudo este quadro pode mudar. E esta é uma oportunidade única para que a Teosofia possa desvendar os seus segredos mais íntimos, em termos de saberes originais sobretudo na Doutrina Secreta. Nossas apresentações representam uma oportunidade excepcional para o final esclarecimento das coisas, porque sem isto a humanidade dificilmente teria acesso a todas estas preciosas verdades ocultas sobre as doutrinas esotéricas que Blavatsky veio divulgar.


* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso da Teosofia e dos Mistérios Antigos há mais de 40 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo tradicionais, publicou a Revista Órion de Ciência Astrológica pela FEEU e dezenas de obras pelo Editorial Agartha. Na última década vem redirecionando os seus conhecimentos para a Teosofia, realizando uma exegese ampla da Doutrina Secreta e também das Estâncias de Dzyan.



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