Os Mistérios Tradicionais sempre trabalharam com véus e com símbolos, como é o caso dos planetas e das constelações na Astrologia, e que muitos julgam tratar-se da verdadeira origem das energias dos signos. Ao deparar-se com raças e espécies humanas primitivas, o estudante da Cosmologia Teosófica deve estar ciente de que está apenas diante de outra forma de véu, porque por mais que tais sociedades fossem uma realidade, nenhuma forma física jamais será o verdadeiro objeto de uma Ciência Tradicional, e sim aquilo que está por detrás das formas. Estas formas visam evitar tratar com símbolos abstratos e até mencionar energias de maneira mais direta.
O trato direto das energias é raro e não poucas vezes perigoso. Esta é uma das razões para a ocultação da verdade e a simulação de algo distinto e mais impactante ao estudante médio como são os véus astronômicos. Porém quando tais véus são substituídos por algo mais próximo, direto e realista, algumas pessoas podem sentir num primeiro momento que as coisas lhes estão sendo “reduzidas”, e que estão perdendo a possibilidade de uma Cosmovisão maior, vaga porém mais ampla que também ajuda na espiritualidade e na expansão das consciências. No entanto, se for esse realmente o motivo, trata-se apenas de um tigre de papel, porque a cosmologia desvelada também se presta muito para uma grande expansão de consciência em todos os sentidos do termo.
Certamente este não é o único receio capaz de assombrar a “velha guarda” da Teosofia. A questão racial sempre foi muito importante para a Teosofia e para os teósofos. Então talvez certas revelações perturbem aqueles que sentiam-se felizes por suas regiões estarem no radar. Contudo na realidade estes são detalhes porque as grandes direções da evolução não mudam. Se nos for permitido um testemunho pessoal, nós mesmos tínhamos entre os nossos maiores trabalhos justamente por foco a sexta raça em função das profecias, porém a verdade foi nos surpreendendo, e começamos a relativizar muita coisa. Pois servimos acima de tudo à Verdade, e não a interesses pessoais -o que é um diferencial dos verdadeiros Iniciados.
E esta é uma das razões pelas quais estes conhecimentos estão destinados a Iniciados, pois eles são mais sensíveis à profundidade das coisas em função dos seus próprios conhecimentos e experiências com os mundos sutis.
Pois tudo isso pode envolver uma visão profunda da evolução natural e espiritual das espécies conscientes do nosso planeta, e que tem também se envolvido com todos os Reinos da Natureza de uma forma mágica e orgânica. O não-iniciado que não possui esta percepção das energias planetárias, que desconhece os Reinos sutis da Natureza e o próprio poder das forças espirituais, deseja ser impactado por informações mais aleatórias para sentir-se seduzido por alguma espécie de mística capaz de moldar a sua consciência ainda pouco desenvolvida. (1)
Esta transição entre o misticismo e o ocultismo pode ser portanto um pouco dolorosa, e demandar algum esforço e perseverança. As informações teosóficas também foram veladas num primeiro momento para que as pessoas se interessassem e divulgassem o assunto. Hoje em dia o tema é bastante conhecido, apesar de ainda não ser compreendido.
(1) O primeiro estágio da evolução da consciência -que é aquele do noviciado- é mais horizontal, as pessoas procuram uma vastidão complexa mas rasa de informações através de mitos e de fantasias. Depois na fase discipular elas já buscam uma simplicidade profunda, com práticas e experimentos para poder realmente avançar na espiritualidade. Até que uma síntese pode ser alcançada, harmonizando as coisas na etapa do Iniciado.
1. Uma Ciência Universal
A primeira conclusão que se tira disto tudo é que, aparentemente, as Artes Esotéricas anteciparam muito conhecimento das Ciências Naturais e Humanas, o que por si só já representa algo muito digno de mérito. Contudo, existe também o outro lado que as Ciências Modernas não contemplam por mais que tentem, que é a parte filosófica que está por detrás das evoluções espirituais destas espécies. Com efeito, não tem-se noção das profundidades que velam tais informações. Quase nada sabemos sobre a espiritualidade das espécies conscientes que tem evoluído sobre a Terra. E a presente Cosmologia representa uma ferramenta para se poder avançar nestes conhecimentos e percepções, integrando os esforços então realizados através de muitos eons de evolução ante os trabalhos atuais e futuros.
Não estamos falando afinal de questões tão limitadas como aparentam às vezes. A própria ideia de que cerca da metade de suas evoluções se dão em outros planos -quiçá na forma de anjos auxiliando as humanidades encarnadas (como os famosos Anjos solares dos teósofos?)-, já abre um horizonte bastante interessante de evolução até mesmo superior, de qualquer forma que ela seja! A assistência da espiritualidade é ampla e universal, tanto nos mundos internos como nos planos exteriores, tal como de diferentes formas em cada um deles, manifestando poderes que facilmente podem se mostrar surpreendentes. Porque não estimar que toda esta expertise superior não tenha começado em eons muito remotos ou pelo menos que tenha se amparado em energias pretéritas?! E ainda muito mais pode ser avaliado, dentro das amplas possibilidades das Hierarquias angélicas como realidades que seguem atuando e compondo uma parte importante da economia espiritual do planeta, enriquecendo o mundo de energias vinculadas aos planos de evolução e aos segmentos astrológicos, entre outros.
O recurso às raças e espécies hominídeas como os teósofos costumam fazer, na realidade não passa de um outro véu para tratar de energias mais ou menos insondáveis desenvolvidas nos longevos períodos de suas existências. É útil aqui o simbolismo dos Reinos Elementais que se pode atribuir aos grandes ciclos -e que naturalmente o vulgo julga se tratar da evolução dos próprios Reinos da Natureza, quando significava isto sim da magia humana envolvendo tais reinos. Quanto maior o ciclo maior também será a potência da egrégora ou da energia acumulada. Os símbolos astrológicos costumam ser sintéticos e expressivos, porém eles também se apoiam numa série de princípios estruturais como posição, polaridade, ritmos e elementos. Quando temos pouca familiaridade com um sistema, pode ser útil observar alguns destes fundamentos.
E com isto estamos nos referindo à verdadeira essência da Astrologia Tradicional antiga -simbolista e cabalista, matemática e estrutural, tal como praticaram ainda Pitágoras e Platão-, e hoje mais referida como “Astrologia Esotérica” e também de “Astrologia Cabalista” ou “Angélica”. Trata-se de uma Astrologia que contempla antes de tudo não as supostas energias estelares, e sim as Hierarquias espirituais mesmas.
No âmbito da Teosofia torna-se importante trabalhar com as Doze Hierarquias Criadoras, as quais ocupam-se da construção do universo, das guiança das evoluções mais recentes e dos esforços de suscitar a espiritualidade e a consciência nos mundos materiais buscando assim a sua elevação e refinamento. Quatro destas Hierarquias já entraram em nirvana perdendo o contato com a Humanidade e uma Quinta está em vias de consumar a sua liberação.
De modo que restam ainda Sete Hierarquias Criadoras trabalhando em prol de nossa evolução ou, mais exatamente, da sensibilização e do amadurecimento do Jivatma individual -o qual também integra em suas camadas mais elevadas uma destas Hierarquias. As Sete Hierarquias Criadoras relacionam-se aos Sete Planos Cósmicos do nosso Universo. As Três Primeiras Hierarquias são arúpicas ou sem-forma, e as Quatro Últimas Hierarquias são rúpicas ou com-forma, constituindo assim uma espécie de Tríade Superior e de Quaternário Inferior de nível cósmico. Estas Sete Hierarquias Criadoras podem ser assim assignadas, simplificadamente (segundo Annie Besant em “A Genealogia do Homem”):
i. “Sopros ígneos amorfos”, relaciona-se ao Âtmâ cósmico;
ii. “Unidades Duais”, relaciona-se ao Buddhi cósmico;
iii. “Tríade Mahat”, relaciona-se ao Manas cósmico;
iv. “Jivas Imperecíveis”, que é a nossa evolução Átmica;
v. “Makaras”, herdeiros da Primeira Cadeia Planetária;
vi. “Pitris Agnichvâttas”, herdeiros da Segunda Cadeia Planetária;
vii. “Pitris Lunares”, relacionada à evolução física humana.
Assim, as Hierarquias superiores são cósmicas e as inferiores são planetárias. Como a evolução do planeta está desenvolvendo o seu Quarto Sistema Solar somente temos três Planos cósmicos consumados. E para citar a nossa “À Doutrina Secreta Revelada”, “Está na hora de se valorizar o nosso passado espiritual, incluindo as espécies humanas que nos antecederam, cuja contribuição na formação das estruturas espirituais seria inestimável, mesmo sem contar com qualquer sombra de Civilização.”
Acaso tais energias foram realmente criadas neste planeta?! Esta é uma questão deveras instigante, a respeito da qual podemos apenas especular. Pessoalmente não cremos que seja de todo local. Uma plêiade de deuses ou Hierarquias podem ter migrado para cá como Jardineiros cósmicos, oriundas remotamente de outros planetas nos quais se liberaram superiormente em caminhos cósmicos de evolução, tornando-se aptas para atuar como Logos Planetários e como Logos Solares. Este é um recurso que também temos em nosso planeta segundo os ensinamentos teosóficos.
Na realidade é todo tipo de energia que está nisto tudo contemplada -positiva, neutra ou negativa- posto que o bem e o mal sempre estiveram presentes na evolução das espécies avançadas, dado o livre-arbítrio que as caracteriza e o poder que elas têm alcançado através de sua criatividade e dom de exploração dos mundos. Porque se existe algo que não se pode duvidar em relação aos tempos antigos e primitivos, é que aqueles foram os grandes tempos da magia, de toda a forma e natureza que se possa pensar e até que sequer se consiga sonhar... E sua herança segue viva de muitas maneiras, inclusive na forma de linhagens ainda atuantes no mundo. Todo Iniciado entra em contato com elas progressivamente e à medida em que avança em sua senda, sejam de energias trevosas ou luminosas, porque tudo isto faz parte do seu treinamento e do conhecimento que deve possuir das coisas ocultas deste mundo.
Portanto ao fazer alusão a tais questões cíclicas da evolução das espécies humanas e mesmo pré-humanas, também estamos a nos referir à Hierarquias espirituais de diferentes categorias que seguem ativas e sendo importantes para a evolução daqueles que estão no planeta hoje, e em todos os níveis de evolução.
2. Um novo olhar sobre o passado
Não é verdade então que quase nada se sabe e se valoriza das antigas espécies e espiritualidades ditas “primitivas”?! As pessoas valorizam apenas aquilo que conhecem. A partir disto projeta-se no próprio universo místico fantasias de “civilizações” de milhões de anos, como se a vida natural não fosse também importante para a evolução humana.
De fato quando um historiador moderno observa que algum período do mundo não teve Civilização, considera aquilo como uma espécie de trágico “vazio existencial” coletivo. Isto acontece com a própria Idade Média, geralmente chamada com excessivo rigor de “Idade das Trevas” -pois é claro que a ideologia pesa mais do que se imagina nestas avaliações, impactando sobre a mentalidade de toda uma sociedade. E aqui temos outra razão para o sigilo em torno dos fatos, como é fácil reconhecer.
Talvez estejamos nos aproximando porém de um tempo em que tudo isto comece a ser investigado. Afinal estamos observando atualmente o reconhecimento de que o homo sapiens não foi assim tão especial em relação aos seus parentes extintos, especialmente aqueles mais próximos que integram a sua própria Cadeia Planetária de evolução. Que a Civilização na realidade é quase apenas um detalhe, as vezes até mesmo uma fatalidade, diante do corpus cultural que realmente importa das faculdades humanas, velando dimensões humanas e espirituais inequívocas por todos compartilhadas.
Então já deve ter ficado claro a esta altura o quanto tais estudos estão destinados aos Iniciados de todos os graus avançados. Bailey escreveu que a Astrologia Esotérica é um instrumento para as Hierarquias realizarem os seus trabalhos, com destaque nas transições de tempos -o que leva a pensar em termos de Hierarquias superiores.
Um Mestre da Loja Branca é também um experto das coisas espirituais do planeta, não apenas porque ele trabalha muito com energias, mas também porque necessita conhecer o mundo para poder auxiliar a humanidade. E assim a Astrologia Esotérica representa para ele um instrumento complementar ao da Alquimia espiritual. Com efeito o assunto é tão sensível que teme-se até falar demais com risco do sensitivo ou do intuitivo compreender o poder que pode estar alojado nestas informações todas...
A Teosofia possui inclusive uma professa inclinação panteísta. Os teósofos repetem amiúde a frase “A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, move-se no animal e acorda no homem", atribuída ao famoso autor espírita Léon Denis. Como então aqueles nossos primitivos antepassados já não terão realizado grandes conquistas nos planos espirituais, carregando como fizeram o dom da consciência por eons seguidos?! Ao menos desde a metade do Manvantara, há dois milhões de anos, o ser humano começou a alcançar uma condição bastante evoluída, através do Homo erectus com sua impressionante resiliência e longevidade, posto que até ontem ele estava entre nós e até conviveu com a nossa espécie.
Assim a Cosmologia Teosófica traz a oportunidade deste grande resgate humano e espiritual, um reencontro da Grande Família humana estendendo daí a sua proposta de Fraternidade Universal aos nossos mais remotos antepassados, cientes de que muito trabalharam também pelo Todo dando a sua própria contribuição, e que de alguma forma eles ainda seguem conosco quiçá até de muitas maneiras. Sem jamais perder de vista assim aquilo que realmente está por detrás de tudo, que é a espiritualidade longamente desenvolvida pelas antigas sociedades humanas.
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