A Teosofia em geral tem uma forte influência nos novos ensinamentos, especialmente em suas vertentes históricas centralizadas em Helena P. Blavatsky e sua sucessora espiritual Alice A. Bailey. Porém, dentro das revelações do Plano da Hierarquia, procura-se hoje dar uma cor mais “científica” ao tema, tratando basicamente de retirar os véus remanescentes, além de apurar sínteses e agregar idéias complementares, como seria a questão social e a própria espiritualidade e iniciação. Esta é a origem da “Teosofia Científica”, uma doutrina promissora que trabalha basicamente com a Ciência dos Ciclos. Uma Teosofia Científica reuniria -nada mais e nada menos- que os dois pólos extremos do conhecimento (espiritualidade e ciência), preenchendo daí todo o leque do humano saber.

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O registro do Kali Yuga: erros e acertos

A mística do Kali Yuga representa uma grande oportunidade para realizar um estudo dos ciclos da humanidade e resgatar algumas de suas antigas realidades. Trataremos aqui unicamente da questão astrológica, e não da natureza do ciclo senão incidentalmente. O conhecimento preciso dos ciclos contribui para conhecer melhor as profecias e a natureza dos momentos em que vivemos.

Conhecimento é, efetivamente, luz. E um dos seus desafios é aquele de enfrentar o conhecimento complexo, como sucede no caso dos vários ciclos paralelos existentes. É justamente em função disto, e mais alguns complicadores como perda de informações históricas e desconhecimento de certas chaves esotéricas (como a Chave Solar-360), que a questão do Kali Yuga se apresenta de tal forma deformado e desafiador em nossos dias -na verdade há um tempo considerável já. 

De modo que o problema do Kali Yuga apenas existe em função das grandes distorções produzidas em torno destes temas. Assim, o problema do Kali Yuga, enquanto conhecimento falho dos fatos, se assemelha a alguém desatento que perdeu o trem, ou que dormiu durante a sua estação, terminando por encompridar a viagem.

Segundo Blavatsky a data de 3101 a.C. -relacionada à morte do Avatar Krishna- passou a representar uma referência para os cálculos orientais:

“Esta data é muito importante, pois as épocas foram posteriormente computadas com base nela. O início de Kali ou Kali-Yuga (derivado de Kal, contar), apesar de ser considerado pelos europeus como uma data imaginária, torna-se portanto um fato astronômico.” (“Ciclos Secretos”)

O termo Kali significa “negro”, embora tenha também vínculos com Kala ou “tempo” e através disto com Kalki o avatar aguardado. Quando os antigos pandits associaram a vinda de Krishna ao Kali Yuga eles estavam completamente certos, pois o mesmo mito se repete agora como profecia na medida em que associa o Kalki Avatar aguardado ao encerramento do Kali Yuga. Acontece então que se trata de avatares de natureza semelhante, daquela natureza de avatares solares de transição de raças. Como disse Blavatsky todas as raças contém as quatro Idades Metálicas, e a Idade de Ferro representa o Kali Yuga racial nas tradicionais Filosofias hindus do tempo. Assim existem ter-minologias comuns em ciclos paralelos, sendo esta uma das razões da confusão. 

Porém, por qual razão é dito que Krishna veio abrir o Kali Yuga, ao passo que Kalki vem encerrar o Kali Yuga?! Aqui temos pois uma primeira pista dos equívocos que tem sido acumulados na interpretação deste tema, denunciando um adaptação irregular nas informações para tentar encaixar situações de outra forma incompatíveis, como veremos melhor na sequência.

Acontece então que o imaginário popular simplesmente reuniu ambos os ciclos raciais de Kali Yuga -o atlante antigo e o aryo atual-, sem qualquer solução de continuidade, como se todo este tempo desde Krishna até agora fosse puramente Kali Yuga -sob o suposto pano-de-fundo de um Kali Yuga maior de manvantara-, quando na verdade todo um ciclo racial se passou desde então e o Kali Yuga manvantárico ainda nem começou. O diagrama acima mostra o arco-Manvantara do Kalpa (Grande Ano de Platão), ilustrando as posições de ambos os Kali Yugas raciais, e mais o Kali Yuga do Manvantara – ver a respeito mais ao final deste artigo.

A data conferida pela tradição hindu de 3102 a.C. para a morte de Krishna é precisa e excelente, corresponde ao começo da raça árya e conflui perfeitamente com a datação da tradição maia para o Quinto Sol. Porém a interpretação que outras corren-tes realizaram para o Kali Yuga já é vaga, confusa e imprecisa.

Mas porque tal coisa aconteceu? Aqui existem talvez várias razões, tais como: 

a. O desconhecimento tácito atual da natureza dos verdadei-ros ciclos raciais, também chamados de Eras solares, como uma espécie de conhecimento que esteve longamente perdido, muito embora hoje se tenha novamente algumas referências aqui e ali;

b. O desconhecimento prático sobre o “grande” Kali Yuga do Manvantara mundial, especialmente na versão medieval de 432 mil anos, de modo que se imaginou equivocadamente que Krishna veio abrir este ciclo do Manvantara, ao invés de com-preender que ele veio isto sim encerrar a um pequeno Kali Yuga racial.

A irracionalidade desta mística de Kali Yuga se apresenta também diante do fato de que sabidamente Krishna não veio há tanto tempo assim, mas sim há cinco mil anos segunda própria tradição. Daí as pessoas apelam para a teoria dos “sub-ciclos do Kali Yuga”, que é uma teoria inteiramente “tirada da manga” já que nenhum texto clássico trata disto.  Não realidade existe aqui um triplo equívoco, ou seja:

a. O Kali Yuga do Manvantara na verdade ainda não come-çou, ele iniciará em meados da Nova Era de Aquário por se tratar já do final do Manvantara  -ver o diagrama acima;

b. Este grande Kali Yuga hipotético de Manvantara também representa basicamente um símbolo ou uma metáfora, uma vez que o verdadeiro Kali Yuga manvantárico ocupa somente mil anos, tal como demonstram os antigos cômputos védicos.

O problema dos Quatro Kali Yugas

Para se chegar a compreender plenamente o imbróglio que envolve a noção atual de Kali Yuga, é preciso enfrentar o problema dos Quatro Kali Yugas, pertencentes a dois padrões de tempo paralelos, que são o Grande Manvantara ou Ronda planetária, e o Pequeno Manvantara ou Era Solar ou racial. Observando que o nosso tema envolve apenas ciclos presentes nos horizontes históricos imediatos, por assim dizer.

Na prática a questão trata dos dois Kali Yugas (associados a Krishna e a Kalki) presentes nas duas últimas Eras solares (associadas às raças atlante e arya), as quais representam um ciclo hoje praticamente desconhecido, mas que ainda assim nos legou algumas informações de Kali Yuga, mas que, inadvertidamente foram fundidos por simples silogismo em um outro grande Kali Yuga de Manvantara com caráter meramente mítico ou hipotético relacionado à Ronda planetária. E de quebra deixa ainda por ver a versão realista (e reduzida) deste último Kali Yuga de Manvantara que sequer aconteceu ainda. 

Na época em que este conhecimento foi formulado há séculos atrás pelos tântricos esotéricos, havia realmente um novo Kali Yuga no mundo que é aquele da raça Arya. Porém logo se confundiu o tema com a versão simbólica mas muito popular de Kali Yuga disseminada pelos vaishnavas. Toda esta confusão nasceu inteiramente pois em ambiente oriental, integrando a sua própria idiossincrasia mística e a corrosão dos seus ricos conhecimentos tradicionais.

Conclusões

Como acontece em tantos casos relacionados a ciclos e a profecias, as informações originais não estão equivocadas, porém as interpretações é que são extremamente erradas. Assim é também com o Kali Yuga. As pessoas imaginam tolamente viver num ciclo irracional de centenas de milhares de anos, mas que não passa de um véu místico, quando na verdade tudo é muito mais breve e atual do que se quer imaginar. Este tipo de consciência vaga é como um sono diante da realidade, que é o próprio sono do samsara, o mundo ou a consciência material. Em qualquer tipo de calendário realista o Kali Yuga nunca é maior do que 1,2 mil anos, mesmo no Manvantara. Neste aspecto a vindo do Avatar sempre indica o final do Kali Yuga, como é dito suceder em relação ao Kalki Avatar anunciado, e nunca algum começo de Kali Yuga interminável como se imaginou em relação a Krishna. Ignorar estes fatos pode ser o mesmo que estender o Kali Yuga indefinidamente por falta das atitudes condizentes com aquilo que os tempos pedem. As pessoas deveriam hoje estar cantando para Kalki e não mais para Krishna, porque esta é a verdadeira energia que rege os nossos tempos.

As forças da luz alertaram a humanidade sobre a realidade dos ciclos, contudo a ignorância distorceu as coisas em prol de um fatalismo impotente. Porém na prática este ainda é apenas um dos erros que se comete contra os fatos cotidianamente. A falta de informação correta reflete também a acomodação e a alienação, que podem tomar formas evasivas e iludidas tentadoras como é a própria droga, inclusive travestida de “sacramento” místico. Tal como o fanatismo, o apego e o negacionismo. Muitas vezes a opção pelas falsas ideias apenas reflete a nossa acomodação, até que alguma coisa muito forte termine por despertar as pessoas. Enfim os sábios podem parecer uns grande estraga-prazeres. Mas a realidade é que a vida não é uma festa eterna, nem mesmo para os místicos mais exaltados. A vida é um grande compromisso com o Espírito e com a libertação da matéria, algo que o ser humano não costuma porém compreender de forma espontânea lamentavelmente.

Da obra "A Teosofia Científica", de Luís A. W. Salvi 


Sobre o Autor

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 


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